Enquanto servia-me de uma xícara de café, me perguntava quantas - TopicsExpress



          

Enquanto servia-me de uma xícara de café, me perguntava quantas delas seriam necessárias para me esquentar no inverno e quantas daquelas equivaleriam a um abraço quente teu. Tentava, sem muita insistência, recordar a última vez que teus braços seguraram-me longa e demoradamente, mas não havia nenhum sinal de lembrança boa. A ascensão da amnésia tomara conta no mesmo momento em que decidiste partir, teu encanto fora quebrado assim como qualquer outro vestígio da tua inebriante essência, não era mais nada, não restara mais nada, apenas os fantasmas do passado, a escuridão, antes aurora. Ainda admirando a xícara de café, acendi um cigarro, que assim como a bebida, tem que ser servido quente. Quantos cigarros seriam necessários para incendiar tua presença em minha alma? Um milhão deles, quem sabe, até porque nenhuma floresta incendiada, tal qual tamanho seja, não chegaria nem aos pés da chama dos teus olhos quando paira nos meus, objeção, pairava. Era como se cada pequeno gesto ansiasse por uma resposta minha, parecia que todas as perguntas e dúvidas do universo eram respondidas ao te contemplar. Eram. A máquina de escrever a minha frente continha uma página em branco, pensei em escrever um conto sobre este período anestésico que ao teu lado passei, porém percebi que não dava um verso, quanto mais um conto. Já li nossa conversa de trás pra frente umas trinta vezes tentando achar o erro, mas não encontrei nem sentido, quanto mais o equívoco. Pensei em escrever sobre mim e meu cabelo loiro desbotado, sobre as aventuras de ser só mais um pontinho entre vários pontinhos problemáticos no mundo, mas estarias envolvido nele também. Sorri com a impossibilidade de compor uma frase sequer sem tua presença nas entrelinhas. Sorri com a minha incapacidade de ser autossuficiente com meu café e cigarro no frio rigoroso. Confesso que no fundo tenho curiosidade em indagar-te sobre em quem pensas quando o frio chega, quem está te confortando, te mimando.. Estranho pensar em uma resposta que invalidade tua eficácia em conseguir um amor por estação do ano. Acho que fui o seu "Você é muito importante pra mim" do verão passado, não lembro bem... O pensamento oscilante fez com que eu virasse para o sol que batia nas frestas da janela entreaberta. Se dizem que "os opostos de atraem", com certeza tiraram essa teoria do inverno. Tem coisa mais desconforme e bonita do que frio e calor entrando em sintonia? Soltei uma risada por ter a resposta da pergunta, entretanto mesmo assim quis guardá-la só pra mim. Não éramos opostos, mas os caminhos que queríamos traçar, estes sim eram. Eu andando em linha reta e tu fazendo curvas. Típico. O café acabara e um copo de whisky não cairia nada mal. Talvez um colapso no meu fígado trouxesse mais criatividade do que um coração partido. No silêncio displicente, eu ouvia as trovoadas ecoando nas paredes do peito, pensando na vida de uma maneira torpe onde o escuro era obsceno. Chegava a ser vulgar a forma como a ausência de som exigia teu nome. Na terceira dose, comecei a dissimular entre asfixiar as mágoas e a consciência, decisão difícil essa de despedaçar o corpo ou a mente. Meu lado são e conduta estava irado pelo real motivo do meu frenesi, mas claro que só quem amou e teve o sentimento traído sabe o quanto dói, não significar nada para alguém ou um rabisco de um passado tórrido. É a revolução das ideias, onde tudo entra em contradição e pessimismo, é ter esperança resguardada, é ilusão mútua, apatia a coisas novas. É trancar-se num passado e jogar a chave fora. Mais um cigarro. Meus dedos brincavam entre as letras da máquina de escrever, assim como um dia já brincaram por teu corpo, confesso que estou me divertindo mais aqui sozinha, pasma por eles se controlarem em discar teu número no telefone. Pensei em escrever sobre o nosso final feliz, mas o ódio me consumiu por lembrar que não é eu a escolhida para estar ao teu lado na última página do teu livro. Entre cigarros e doses, involuntariamente surgiu um "THE END" na folha agora suja de tinta. Quem sabe começando pelo fim, eu possa retroceder até o dia que te conheci e apenas não te conhecer mais. Depois de alguns goles, eu viro poetiza, eu viro o que eu quiser. Faça qualquer coisa, só não me subestime, meu bem, não sei usar pessoas, mas o dom das palavras está sempre ao meu favor..."
Posted on: Tue, 02 Jul 2013 04:19:59 +0000

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