Entrevista- “O ato mais entreguista da história foi o leilão - TopicsExpress



          

Entrevista- “O ato mais entreguista da história foi o leilão de petróleo para Eike” Ildo Luís Sauer é diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia (IEEUSP) e petista de carteirinha, foi diretor de Gás e Energia da Petrobras entre 2003 e 2007. Sauer desfecha contundentes ataques às políticas de energia do governo e ao leilão de áreas do Pré-Sal que acabaram arrematadas por Eike Batista e sua OGX, fazendo desse empresário um dos homens mais ricos do mundo. A entrevista integral concedida a Pedro Estevam da Rocha Pomar e Thaís Carrança está em adusp.org.br/index.php/imprensa/revista/1265-revista-adusp-51-outubro-de-2011. CONTATO publica um resumo da parte referente à Petrobras e ao “trabalho” prestado pelos ex-ministros José Dirceu, Pedro Malan e Rodolfo Tourinho ao empresário Entrevista com Ildo Sauer, Revista Adusp. A descoberta das reservas do Pré-Sal sugere que o país reforçou extraordinariamente a sua condição de produtor de combustível fóssil e que, com isso, obterá recursos financeiros de tal monta que poderá investir maciçamente em áreas até agora relegadas, tais como educação, ciência e tecnologia. Por outro lado, quando mais se fala em energia limpa, o Brasil se com- promete enormemente com fontes fósseis de energia, cujo potencial poluidor é conhecido. Como você analisa esse quadro contraditório? ___ILDO. Não acredito que o regime capitalista tenha condições, sem se aprofundar numa crise mais violenta do que a que já viveu até hoje, de abrir mão dos recursos remanescentes do petróleo. (...) Os Estados Unidos têm 30 bilhões de barris de reservas: dá para três anos se eles quiserem produzir seu próprio petróleo, consumindo cerca de 9 bilhões/ano. (...) O bolsão de petróleo remanescente convencional [no mundo] hoje é de cerca de 1,8 trilhão de barris. Nós estamos consumindo hoje 30 bilhões de barris por ano, portanto teria, teoricamente, [estoque para] 60 anos. No entanto, nesse quadro, eu não vejo como se poderá abrir mão de petróleo. (...) nesse quadro, é absolutamente inaceitável o modelo que foi aprovado, depois que o Pré-Sal foi confirmado, em 2005, quando se furou o poço de Paraty. No poço de Paraty, debaixo do sal, havia petróleo, confirmando uma suspeita de três, quatro décadas. Em 2005 foi Paraty, 2006 Tupi chegou. Revista Adusp. Você ainda estava na Petrobras?___ILDO. Eu ajudei a tomar essa decisão. Não sabíamos quanto ia custar. O poço de Tupi custou US$ 264 milhões, para furar os 3 km de sal e descobrir que tinha petró- leo. O Lula foi avisado em 2006 e a Dilma também, de que agora um novo modelo geológico havia sido descoberto, cuja dimensão era gigantesca, não se sabia quanto. Então, obviamente, do ponto de vista político, naquele momento a nossa posição, de muitos diretores da Petrobras, principalmente eu e Gabrielli, que tínhamos mais afinidade política com a proposta do PT de antigamente, a abandonada, achávamos que tinha que parar com todo e qualquer leilão, como aliás foi promessa de campanha do Lula. (...) Fernando Henrique fez quatro [leilões], Lula fez cinco. Lula entregou mais áreas e mais campos para a iniciativa privada do petróleo do que Fernando Henrique. Revista Adusp. Mas Gabrielli era contra e acabou concordando?__ILDO. Não. A Petrobras não manda nisso, a Petrobras é vítima, ela não era ouvida. Quem executa isso é a ANP [Agência Nacional do Petróleo], comandada pelo PCdoB, e a mão de ferro na ANP era da Casa Civil. Então a voz da política energética era a voz da Dilma, ela é que impôs essa priva- tização (...) no petróleo. Depois do petróleo já confirmado em 2006, a ANP criou um edital pelo qual a Petrobras tinha limitado acesso. (...) O Clube de Engenharia, que é a voz dos engenheiros, mandou uma carta ao Lula, em 2007, pedindo para nunca mais fazer leilão. Em 2005-6, o [Rodolfo] Lanim, o queridinho do Lula e da Dilma, saiu da Petrobras. Porque o consultor da OGX,- do grupo X, do senhor [Eike] Batista, era o ex- ministro da Casa Civil, e ele sugeriu então que Eike entrasse no petróleo. Aí ele contratou o Landim, que começou a arquitetar. (...) Só que aí se criou o seguinte imbroglio: um ex-ministro do governo Lula e dois do governo Fernando Henrique, Pedro Malan e Rodolpho Tourinho, foram assessorar o Eike Batista. Ele já tinha gasto um monte para montar sua empresa de petróleo. Se o leilão fosse suspenso, ele ia ficar sem nada, e já tinha aliciado toda a equipe de exploração e produção da Petrobras. __Revista Adusp. Quem era o ex-ministro?___ILDO. O ex-chefe da Casa Civil, antecessor de Dilma.____Revista Adusp. José Dirceu?___ILDO. É, ele foi assessor do Eike Batista, consultor. Para ele, nãoera do governo, ele pegou contratode consultoria, para dar assistência nas negociações com a Bolívia,com a Venezuela e aqui dentro. Ele[Dirceu] me disse que fez isso. Do ponto de vista legal, nenhuma recriminação contra ele, digamos assim. Eu tenho contra o governo que permitiu se fazer. E hoje ele [Eike] anuncia ter 10 bilhões de barris já, que valem US$ 100 bilhões. (..) A empresa dele foi criada em julho de 2007. Em junho de 2008 ele fez um Initial Public Offering [IPO], arrecadou R$ 6,71 bilhões por 38% da empresa, portanto a empresa estava valendo R$ 17 bilhões, R$ 10 bilhões dele. Tudo que ele tinha de ativo: a equipe recrutada da Petrobras e os blocos generosamente leiloados por Lula e Dilma. Só isso. Eu denunciei isso já em 2008. (...) Foi um acordo que chegaram a fazer, numa conversa entre Pedro Malan, Rodolpho Tourinho e então ministra-chefe da Casa Civil, em novembro, antes do leilão. (...) Foi a maior entrega da história do Brasil. O ato mais entreguista da história brasileira, em termos econômicos. (...) A Petrobras durante a vida inteira conseguiu descobrir 20 bilhões de barris de petróleo, antes do Pré-Sal. Este senhor, está no site da OGX, já tem 10 bilhões de barris consolidados. (...) Não há nenhum ativo no mundo que vai ter mais rentabilidade do que o petróleo certificado debaixo da terra. Qual moeda? O derretido dólar? O derretido euro? O yuan? O yen? Eu faço essa pergunta desde 2007.(...) Então minha proposta para o Pré- Sal é muito simples: que se delimitem as reservas; que se defina um plano nacional de desenvolvimen- to econômico e social (...) Defendo o seguinte: deixa o petróleo lá, como reserva de valor, produz o necessário para financiar a transformação da base social e produtiva do Brasil, só. E ambiental. (...) Só que a Petrobras opera como empresa capitalista, e quanto mais ela está sendo loteada entre os grupos da base do governo, ela passa a ser um capitalismo meio estranho, que de um lado atende à pressão dos lobbies, e do outro tende a maximizar a acumulação. Só. Ela tem que mudar, como a Vale tem que mudar.____Revista Adusp. A Vale continua privada?___ILDO. Mas isso é muito simples, eu já escrevi sobre isso. O capital dela é majoritariamente público ou para-público.__Revista Adusp. Via fundos?__ILDO. Fundos de pensão. Estatiza os fundos de pensão. Toda vez que os fundos de pensão têm prejuízo, são as estatais públicas que pagam, porque a Secretaria de Previdência Privada é obrigada a supervisionar... Revista Adusp. A Petrobras controla o Petros, por exemplo? ILDO. Sim. Revista Adusp. Diretamente? ILDO. Quem controla é o governo. Então a Petros, todos eles, são um instrumento paralelo de governo, privado. O governo faz o que quer, porque não presta contas a ninguém. Eu prefiro que estatize os fundos. Por isso a Vale será estatal, a Petrobras será mais uns 15% estatal. Revista Adusp. Estatiza formalmente então? ILDO. Formalmente. Faz uma lei decretando que os mutuários do fundo têm os direitos que estão no estatuto garantidos pelo governo federal. É melhor do que ter essas gestões privadas ditas de parceria, onde os trabalhadores não opinam e os governos impõem uma agenda de rapinagem, obrigam a comprar títulos que interessam aos parceiros. Isso foiprofundamente f eito no governo do Fernando Henrique e continua sendo feito hoje, no governo Dilma. Então prefiro que estatize. Escrevi isso para os engenheiros. Revista Adusp.Você ficou até 2008 na Petrobras? ILDO. Saí de lá 24 de setembro de 2007, um pouco antes desse último leilão. Eu reclamava muito internamente. Mandei oito cartas ao governo Lula, criticando a política do setor elétrico, propus uma reforma na direção do que nós falamos no começo, já em 2005-6 eu fiz isso. (...) Queria se converter num Pelé da política, para deixar o Palocci virar o Pelé da economia, e assim todo mundo ter salário de Pelé. José Dirceu e Eike Batista Contestam professor. Além da presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula, também o Ministério das Minas e Energia e a ANEEL deixaram de se manifestar a respeito das declarações do professor Ildo Sauer. Contudo, o ex-ministro José Dirceu e a empresa OGX, de Eike Batista, procurados pela Revista Adusp, encaminharam textos em que contestam as acusações formuladas pelo diretor do IE. | Edição 544 | de 20 a 27 de Abril de 2012 da Redação
Posted on: Mon, 16 Sep 2013 18:09:38 +0000

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