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Entrevista José de Lima (Pré-candidato a deputado federal – PSD) “Dos 12 mil potenciais doadores de órgãos em São Paulo estamos usando cerca de 15% a 25%. Nos EUA e na Europa eles chegam a usar 70%” Leonardo Abrantes ([email protected]) O PSD apresentou no último fim de semana o médico José de Lima Oliveira Júnior como mais um candidato a deputado federal para a eleição de 2014. Morador de Santana de Parnaíba, ele é especialista em cirurgia cardiovascular e também coordena o departamento de captação de órgãos da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos), além de trabalhar na UTI do Hospital Antonio Giglio em Osasco. Preocupado com a atual situação dos transplantes no Brasil, José de Lima pretende alcançar uma cadeira na Câmara dos Deputados para criar, dentre outras coisas, um sistema nacional para captação de órgãos. Qual sua missão como político? Quando me foi feita essa oferta [do PSD] estabeleci como pré-condição que não deixasse de exercer a medicina e pudesse criar um programa público nacional de transplantes. O Brasil tem muita coisa a comemorar quando o assunto são transplantes. O Brasil é o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes que tem um sistema público de saúde universal e gratuito. É o segundo país no mundo em número de transplantes, só perdemos para os EUA, mas por outro lado temos uma situação vergonhosa que só ocorre por falta de vontade politica. Qual o problema que temos hoje no Brasil? De toda a cadeia que compõe o transplante o principal é o doador. Nós temos no estado de São Paulo 12 mil potenciais doadores, aqueles que têm morte encefálica. Para ele se transformar em doador existe uma série de pré-requisitos a serem preenchidos, exames a serem realizados e depois tem que haver a anuência da família, desde que, nesse intervalo de tempo, ele tenha sido mantido de forma adequada. Você precisa cuidar do doador, mas isso é muito mal feito ou não é feito. Desses 12 mil potenciais doadores estamos usando cerca de 15% a 25% . Nos EUA e na Europa eles chegam a usar 70% dos potenciais doadores que em sua maioria tem uma idade maior que os brasileiros e que já tem algum problema de saúde. São doadores “piores” que os nossos. Como esse baixo aproveitamento pode estar atrelado a causas politicas? Por falta de vontade, porque se nós tivéssemos equipes especificas fazendo o diagnostico precoce desses potenciais doadores, trabalhando em paralelo com a secretaria de saúde na manutenção desses doadores, nós aumentaríamos esse percentual de captação de órgãos e com isso faríamos muito mais transplante do que fazemos hoje, com resultado ainda melhores, mas para isso precisa de vontade politica. O transplante dá uma enorme visibilidade e os políticos sabem disso, pois fazem questão de aparecer dizendo que contribuem para as campanhas de transplante e que estão construindo hospitais de transplante, mas esse não é o caminho. O grande gargalo está no baixo aproveitamento de potenciais doadores. Se nós atuarmos nesse gargalo facilmente aumentará o número de transplantes de coração, pulmão, fígado, pâncreas, entre outros. Por outro lado vamos aumentar muito o número de transplantes realizados exigindo do governo mais gastos com a saúde. Enquanto o governo federal só investir 3,5% do PIB na saúde não vai ter dinheiro para financiar, precisamos de pelo menos 10% do orçamento da União, com o estado investindo 12% e os municípios 15% para que possamos bancar politicas publicas como essa. Como aliar essa “oferta” de órgãos com a procura dos doadores? Esse é exatamente o cerne da minha proposta e é o que eu chamo de gargalo. Se nós temos uma sobra de doadores, descartando muitos órgãos e do outro lado temos pessoas morrendo na fila esperando por órgão, falta o que em gestão chamamos de processo. Qual o gargalo do meu processo: o aproveitamento de doadores. Por que nós aproveitamos pouco? Porque quando chegamos para fazer a avaliação desse doador que passou por todo o tramite oficial ele já se encontra em uma condição muito ruim e não conseguimos mais aproveitar o coração, porque ele não vai bater. As equipes de pulmão não poderão aproveitá-lo, também não se aproveitará mais o fígado, esse é o grande gargalo e é aí que precisamos atuar. As autoridades politicas sabem que se atuarmos nesse gargalo vamos aumentar muito o número de transplantes e talvez eles não queiram isso. Querem apenas a propaganda associada ao transplante, mas não querem colocar dinheiro nisso. Por que ser candidato a deputado federal? O Brasil é um país de dimensões continentais e o que determina a estrutura que você monta para o transplante passa por um fator: o tempo de tolerância de cada órgão, ou seja, quanto tempo aquele órgão consegue ficar fora do corpo sem se perder. O coração desde o momento que você tira até o momento que se implanta tem de quatro a seis horas de tolerância. Fígado de 12 a 18, rim de 24 a 36 horas. Então para fazer um transplante de coração em São Paulo precisa-se de uma infraestrutura para fazer a captação no máximo até Florianópolis, Paraná, Mato Grosso, Distrito Federal, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Já o fígado eu posso buscá-lo no Acre, por exemplo. Posso buscar o rim na Argentina, Colômbia... Hoje, na Europa, existe uma politica transnacional que envolve vários países para que não tenha perda de órgão. Não faz sentido jogar o órgão no lixo e as pessoas morrerem. Para cada órgão existe uma série de exigências que determinam quem será o receptor, mas para cada órgão que é doado, muitas vezes os receptores estão em estado diferentes e hoje o sistema nacional não funciona. Nós precisamos ter um sistema único informatizado. Por questões politicas o sistema de São Paulo é diferente do utilizado no governo federal e o governo federal que fez o sistema depois do governo paulista, também por questões politicas, fez um sistema diferente do estado de São Paulo. Por isso a mortalidade na fila é maior. Precisamos de um sistema nacional para coordenar essa situação.
Posted on: Fri, 09 Aug 2013 04:33:46 +0000

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