Entrevista concedida ao site Portal RIUS rius.br Os próprios professores, na maioria das vezes, são incultos e não leitores. O mundo da leitura e da escrita proporciona muito benefícios: conhecimento, sabedoria, energia, motivação, compartilhamento dentre outros tópicos fantásticos. Porém, tal mundo é compartilhado apenas por mínima porcentagem da população brasileira. Mesmo com o advento tecnologia, os mecanismos de leitura fartamente em todos os lugares, não foi suficiente para causar impacto no número de brasileiros que passaram a ler. Escrever, menos ainda! Apesar de ser um dos temas mais importantes da atualidade, passa longe em roda de amigos, que por sua vez, estão concentrados em temas corriqueiros e de quase sempre, relevância zero: Programas televisivos esportivos, novelas, mundo de pessoas aparentemente famosas e fofocas são os temas prediletos e quase sempre, insubstituíveis. Para falar sobre este mundo mágico, o RIUS entrevistou o escritor hispano-brasileiro, autor de diversos obras literárias como o Observador de Pardais,Café Brasil,Boneco de Deus, Anjo da Tarde, O Tigre de Deus Em Seu jardim, dentre outros. Nesta entrevista, Rodriguez conta um pouco da sua história de vida pessoal,sua trajetória profissional, o desafio de escrever, dicas de leitura e cita diferenças entre Brasil e Espanha no que diz respeito à cultura, além de suas obras e prêmios conquistados. Confira: RIUS - Para quem ainda não o conhece, como foi sua história de vida até aqui? Marcelino - Minha trajetória até a adolescência foi relativamente tranquila do ponto de vista da minha interação social. Gostava de Futebol, jogava bola muito bem, queria inclusive ser jogador ; ia ao Maracanã ver o America jogar; porém, a partir dos dezesseis anos em diante, a literatura e outras buscas de valores começaram a inquietar-me e aos poucos fui percebendo que não havia interesse pela leitura nem pelo saber ao meu entorno e ai sim comecei a grande navegação solitária pelo mundo dos livros. Até hoje, me espanta muitíssimo a pobreza literária do Brasil. Por isso, resolvi escrever sobre o assunto. RIUS - Escrever é um grande desafio, ainda mais por profissão. Por que ser um escritor? Marcelino - Acredito que no meu caso é vocação, pois a própria vida se encarregou de criar várias situações a não me deixar muitas outras alternativas. Existe em mim a necessidade de escrever. È um desafio, mas também tem momentos muito prazerosos.Deve ser algo parecido como o processo das mulheres darem a luz. RIUS - Já escreveu vários livros e obteve sucesso, reconhecimento e prêmios. Depois de tudo que passou,qual o seu sentimento em relação aos desafios e suas conquistas? Marcelino - Considero que meus livros tiveram boa aceitação dos leitores, mas numa carreira que não te ainda apoio de grandes editoras e dos grandes meios de comunicação. Para isso, são necessários outras influências e condições que não passam apenas pelo talento. Os prêmios que obtive foram todos de entidades privadas pelo valor literário do trabalho, não me renderam necessariamente ganhos materiais. RIUS - Dentre seus projetos mais ambiciosos, o que ainda falta conquistar? Marcelino – Ficaria realizado se tivesse um nome forte e gente realmente interessada nos governos subdesenvolvidos, para se criar um país de jovens leitores e com isso germinar uma humanidade inteligente para o futuro. Começaria pelo Brasil, claro, que do ponto de vista da leitura está em plena pré-história. Os próprios professores, na maioria das vezes, são incultos e não leitores. RIUS - No geral, para quem, qual público, o escritor escreve? O que ele espera das suas obras? Marcelino - Acredito que isso seja muito pessoal. No meu caso, escrevo sobre o que me comove e sobre o que me incomoda.Por exemplo, um dia acordei e ficou um livro sobre o America em minha cabeça. Vários dias aquela ideia até que percebi que tinha que escrever sobre o assunto. Agora terminei esse “O Brasileiro e o Livro” que é um problema muito sério no Brasil. Na verdade, o mais sério. E no momento, escrevo sobre anjos porque é um assunto que me fascina e tenho necessidade de chamar a atenção das pessoas sobre quem estamos servindo com nossas palavras ou atitudes? RIUS - Quais são os maiores desafios de escrever? Não é desanimador escrever no Brasil,país que seu povo não cultua o hábito de ler? Marcelino - O Brasil desanima , porque não existe a cultura de se ter inteligência e graça. O povo suporta a mediocridade com uma paciência desesperadora. Meu novo livro “Os Nerds Também Amam ou o Brasileiro e o Livro” é meu grito sobre esse estado de coisas. Mas é heroico você escrever sabendo que de cada 100 pessoas, uma pode te dar algum retorno de ideias e sentimentos. É preciso criar um país de leitores ou se desistir de qualquer outro projeto sem efetuar esse. RIUS - Quais as diferenças entre Brasil e Espanha no tocante a leitura? O Brasil consegue alcançar os países europeus em relação a cultura? Marcelino – Embora seja Espanhol por parte de pai, não vivi e na Espanha, nem lá estive ainda. Farei isso em breve, se Deus quiser. O que sei por parte de uma leitora que lá vive e por observação, é que existe uma educação que não nega esse direito aos jovens e se faz com que o jovem aluno leia. A Europa em si favorece a cultura. RIUS - O que está faltando para melhorar o desempenho dos escritores brasileiros? Falta incentivo governamental? Falta recursos? Marcelino - Falta apenas se criar um povo que leia. E isso é ou deveria ser , obrigação federal das escolas.Não cumpridas, ao que parece. Nas escolas atuais, parece que tiraram a leitura e a cultura do cardápio.O resultado se vê nas ruas e em toda parte. Um povo primitivo e iletrado, mais perto dos índios do que de Ruy Barbosa. Índios com pólvora, porém. RIUS - Para finalizar, qual mensagem gostaria de deixar para o povo brasileiro? Marcelino - Não se iludam. Sem um povo letrado, nunca se terá um país decente.Um povo sem cultura é, literalmente, um povo sem graça. Sem graça num sentido muito amplo da palavra.
Posted on: Thu, 24 Oct 2013 12:05:03 +0000
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