Entrevista do Presidente da UNITA, Isaías Samakuva à RTP O - TopicsExpress



          

Entrevista do Presidente da UNITA, Isaías Samakuva à RTP O Presidente da UNITA, Isaías Samakuva concedeu entrevista à RTP-Africa, em que aborda, sem rodeios, os factos que caracterizam a situação vigente no país. Pela actualidade e pertinência dos assuntos levantados, unitaangola publica na íntegra o texto da mesma entrevista. RTP-Africa: O senhor está no fim de um longo périplo de mais de um mês pelo exterior, começou nos Estados Unidos e acaba em Portugal, depois de ter percorrido a Europa, vem falar com os líderes políticos e com a comunidade angolana na diáspora. Qual é a mensagem que traz? Isaías Samakuva: Muito obrigado por esta oportunidade que nos concede. De facto, nós completamos hoje um mês desde que saimos do nosso país e viemos para Europa e Estados Unidos para explicar e transmitir à comunidade internacional o nosso ponto de vista sobre a situação que se vive no nosso país, mas também para contactar partidos amigos e entidades amigas e essencialmente a comunidade angolana na diáspora, uma vez que nós achamos que essa comunidade angolana na diáspora é uma parte integrante do nosso país e não pode ser esquecida. A nossa mensagem resume-se em chamar atenção da comunidade internacional para o sofrimento que o povo angolano tem passado. Diz-se por toda parte que Angola tem um crescimento económico extraordinário, que há em Angola uma estabilidade e nós dizemos que este crescimento económico extraordinário não tem se reflectido na vida do cidadão comum. O que o cidadão comum conhece é a falta de bens básicos, é a falta de serviços básicos que o governo devia providenciar aos cidadãos. RTP-Africa: Angola está numa situação de risco social? IS: Eu não direi que este risco é iminente, mas se as coisas continuam como estão agora, eu não duvido que a tensão social que nós temos estado a verificar em Angola, pode de facto colocar em confronto o povo contra o governo. RTP-Africa: A comunidade internacional tem mostrado conhecimento do que se passa em Angola? IS: Nós quando saimos de Angola, estávamos convencidos que a comunidade internacional não tinha conhecimento do que se passa em Angola, mas depois de visitar os Estados Unidos e os países por que passamos aqui na Europa, eu chego a conclusão que a Comunidade Internacional está informada do que se passa em Angola. Agora, notamos também que na comunidade internacional há o receio de incomodar as autoridades angolanas por causa dos seus negócios. E é exactamente esse aspecto que nós levantamos para que a comunidade internacional saiba que em Angola não há só negócios, há sobretudo seres humanos que precisam de beneficiar das riquezas do seu país. Portanto, de um lado nós queremos que os investimentos venham, que a comunidade internacional invista no nosso país, mas gostaríamos de ver que estes investimentos venham para dar empregos aos angolanos e outros benefícios que os angolanos não têm hoje. RTP-Africa: Angola tem feito um caminho, espera a oposição que leve à mudança, o vosso próximo embate eleitoral serão as eleições autarquicas quando elas se verificarem, estavam previstas para 2014, já foram adiadas para 2015. O senhor tem acusado o governo de manobras dilatórias, de arranjar todos os argumentos para que não haja eleições. O que se passa? IS: É nosso ponto de vista de facto. Em 2010, numa reunião do Conselho da República foi decidido que as eleições autárquicas deviam ter lugar em 2014. Nós consideramos que o processo democrático será aprofundado com a realização de eleições autárquicas. Também pensamos que ninguém pode governar Angola toda a partir de Luanda e que é necessário, se quisermos ultrapassar os problemas que o povo tem passado, nós precisamos de constituir um poder local. Por conseguinte, este adiamento para 2015, inicialmente, e agora para uma data incerta configura de facto manobras dilatórias. RTP-Africa :Esse adiamento poderá configurar o quê, temor do MPLA de perder a hegemonia que tem no poder local? IS: É algo que nós gostaríamos de saber. Agora, se passarmos às especulações, uma das especulações que nós fazemos é exactamente essa. Qual é o receio que o governo tem? Que receio é que o governo tem para a realização de eleições autárquicas? É verdade que é preciso criar condições, por exemplo, se de um lado a Constituição prevê a instituição do poder local do outro ainda não há uma lei-base que defina as modalidades desse poder local. Então, é preciso que os órgãos vocacionados para isso realizem essa tarefa e consigamos ter uma lei que defina o quadro em que as eleições autárquicas devem ser feitas. Ora, o que nós verificamos hoje é que a Assembleia Nacional diz o governo ainda não fez o trabalho necessário, o governo diz sua vez que a Assembleia Nacional ainda não legislou e andamos aqui num jogo de ping pong com que nós queremos acabar. RTP-Africa :Quando isso se verificar, se houver eleições autárquicas a UNITA está aberta a um acordo com outros partidos políticos da oposição, nomeadamente com a CASA-CE do antigo líder da UNITA, Abel Chivukuvuku? IS: Nós já experimentámos no passado constituir uma plataforma de partidos politicos da oposição para enfrentar o partido que governa o país. A minha experiência mostrou que esses partidos não estão ainda preparados para fazê-lo. Nós conseguimos constituir essas plataformas durante algum tempo, mas sempre que nos aproximamos das eleições essas plataformas desfizeram-se. Portanto, as intenções são boas, nós que temos experiência nisso já tentamos fazê-lo, não foi possível. Então, nós estamos a trabalhar agora na criação de condições para que essa plataforma um dia venha ser possível, mas na minha maneira de ver essa não condição sine qua non para desalojar o MPLA do poder. RTP-Africa :Acha que é possível uma alternância de poder em Angola? IS: Eu acho que sim. O importante é que nós encontremos estratégias para combater a fraude. Nenhuma eleição das três que foram realizadas em Angola foi transparente e credível. As últimas eleições foram uma fraude massiva, nós temos neste momento dois processos nos tribunais Constitucional e Supremo. Estamos à espera que esses tribunais se pronunciem, exactamente para contestar aquilo que foi feito numa ilegalidade. Portanto, para mim, parece-me que o importante ainda é garantir a transparência e a credibilidade das eleições e naturalmente, diz-se que a união faz a força, se conseguirmos estar juntos todos podemos fazê-lo, mas se as manobras e as fraudes continuarem mesmos todos juntos nós não vamos lograr os nossos objectivos. RTP-Africa :Então, se tivesse que resumir o que é me diria do estado da democracia em Angola? IS: Nós achamos que Angola tem uma democracia de fachada. Teoricamente, e de acordo com a Constituição, Angola é um estado democrático de direito, mas na realidade a democracia não se materializa, não se realiza em Angola. Aqueles pressupostos fundamentais de um sistema democrático em Angola não existem, basta dizer, por exemplo, o que se passa com o acesso dos partidos politicos da oposição ou da sociedade civil à imprensa pública, é dificil. Eu sou o presidente do maior partido da oposição e estou há mais de seis anos sem poder ser entrevistado pela televisão pública. Assistem as minhas conferências e quando passam se passarem deturpam ou põem uma outra pessoa a falar e não eu próprio a falar. Também, os jornalistas têm sido perseguidos. Portanto, uma comunicação social aberta é um dos pressupostos fundamentais numa sociedade democrática. Em Angola isso não existe. RTP-Africa :A comunidade internacional tem vindo a apontar a situação dos direitos humanos como um problema em Angola. O senhor acha que há possibilidade para que as coisas mudem? IS: Há. Naturalmente, conquistas democráticas nunca virão por si. RTP-Africa :Qual é o papel que a UNITA deverá ter numa situação desta? IS: Isso que estamos a fazer é parte do nosso papel, denunciar aquilo que se passa no país e no país lutar para que essas liberdades, esses princípios democráticos sejam de facto materializados. Nós temos estado a fazê-lo permanentemente no nosso país. RTP-Africa :Mas o senhor diz que a comunidade internacional tem conhecimento do que se passa em Angola, no entanto as coisas parecem perpectuar-se, isto é também em razão das fraquezas da oposição angolana? IS: Há quem diga que a oposição angolana está fraca, mas a oposição angolana é tão fraca que se vê o temor do governo pela oposição. Portanto, o que se passa é apenas um mecanismo devidamente estruturado que não permite a oposição ter voz nos mídias que se oiçam não só junto da sociedade mas também fora do país, de um lado, e depois passa-se a ideia de que a oposição está fraca. RTP-Africa :Não devia haver uma empatia maior da população para com os outros partidos em Angola para além do MPLA? IS: A empatia hoje com a UNITA é muito grande. Eu, por todo lado onde vou em Angola reuno multidões que vêm escutar a voz da UNITA, por conseguinte esta empatia existe, o que se passa apenas, eu volto a frisar aqui, os resultados eleitorais em Angola não reflectem a vontade do povo expressa nas urnas. Os resultados eleitorais representam apenas a vontade manipulada do regime. Portanto, os números de votos que são anunciados, mesmo desta vez, e nós temos essas evidências que apresentamos aos tribunais Constitucional e Supremo são números fabricados, não correspondem à realidade. RTP-Africa :Acha que o regime tem latitude para corrigir algumas dessas insuficiências? IS: Eu penso que esses processos que nós elaboramos e apresentamos junto dos tribunais são, em certa medida, uma forma dissuasora da atitude do governo, porque o MPLA fez isso em 1992, em 2008 e voltou a fazer isso em 2012. As lições do passado tem de servir para alguma coisa. A via são as instâncias judiciais, embora saibamos que estas também estão controladas pela mesma entidade que manipula os votos, de qualquer das formas nós precisamos de testar o próprio sistema judicial, precisamos de testar também essas entidades que manipulam, expondo-as. Neste momento nós esperamos que os tribunais se pronunciem. Já estão na ilegalidade deviam responder dentro de certo prazo e não fizeram caso. Portanto, essas situações todas, devidamente denunciadas, creio que vão embaraçar aqueles que repetem as fraudes que têm estado a fazer. Eu creio que o processo democrático é um processo, requer também alguma paciência, requer alguma responsabilidade de modo que nós não estamos desesperados. Nós estamos cheios de esperança que o nosso combate vai encontrar resultados positivos e nós vamos acabar por desalojar o MPLA do governo. RTP-Africa :Angola mostra grandes desequilibrios sociais. O país dá imagem de um país rico, o país de petróleo mas tem bolsas de pobreza enormes, tem a mulher mais rica de África, mas tem bairros como Cazenga, Rangel, onde as bolsas de pobreza são significativas. O que é que o senhor tem para propor a esses angolanos que vivem nesses bairros? IS:A nossa proposta é simples, tem sido feita repetidas vezes e começa a ganhar corpo. O povo angolano começa a encarar essa proposta como a mais adequada e é simples: é mudança do governo. Nós precisamos de mudar o governo do presidente José Eduardo dos Santos para um governo que se ocupe do povo, para um governo que governe para o povo e sirva ao povo e não se sirva a si próprio. Portanto, a proposta é simples, tem sido bem escutada. Ultimamente, a UNITA é recebida com prazer, com entusiasmo por multidões de dezenas de milhares de pessoas e por conseguinte nós achamos que estamos no bom caminho. RTP-Africa :Muitos dizem que Angola passou por conflitos tão dificeis de ultrapassar que nessa altura o presidente José Euardo dos Santos até pode ser visto como garante de alguma unidade nacional. É assim a sua leitura também? IS:Na nossa maneira de ver, o presidente José Eduardo dos Santos é o principal foco de instabilidade em Angola. RTP-Africa :E porquê? IS: Porque é ele a fonte de tudo isso. É ele que manda tudo, concentra todo poder, é ele que faz tudo. Veja que até os ministros, mesmo quando realizam alguma acção, dizem que é graças a inteligência do senhor presidente da república. Portanto, não somos nós que estamos a dizê-lo, são eles próprios. O único responsável por toda essa miséria, por todo esse sofrimento em Angola é o presidente José eduardo dos Santos. Portanto, a mudança de que nós falamos é uma mudança que vise mudar primeiro o presidente José Eduardodos Santos e também as formas de governar Angola. Nós precisamos uma governação mais solidária, que vise a solução dos problemas básicos do povo. Em Luanda e em Angola, o abastecimento de água é um problema. As senhoras vão à maternidade para ter bebé precisam de levar aquilo que precisam a partir de casa, as sutura, as luvas têm de vir de casa, num país que se diz rico. Portanto, há coisas tão básicas que qualquer pessoa vê e qualquer pessoa poderia resolver mas que não se fazem. Quem será o responsável? É o presidente José Eduardo dos Santos, ele é que é o chefe do executivo. Ele é que está aí (no poder) há mais de trinta anos, portanto, é ele que devemos mudar. RTP-Africa :O senhor defende que deve haver um investimento externo mas pensando nos angolanos, na criação dos empregos e nos ordenados justos para os trabalhadores angolanos. Defende também que deve haver investimentos em todas as outras áreas e não apenas no petróleo, é isso…? IS: Primeiro, nós achamos que a economia deve ser diversificada. A nossa economia hoje basea-se no petro-dólar e naturalmente, o petróleo não se come, por cima cria altos níveis de corrupção como aqueles que estamos a verificar presentemente no país. Por conseguinte, há toda a necessidade de olhar para outros sectores, como por exemplo a agricultura. O sector agrícola para além de envolver muita gente, além de resolver o problema de emprego para muita gente é essencial, porque o país que produz alimentação para si próprio está auto-suficiente. Dizemos também que tem que haver transparência na gestão da coisa pública, porque os recursos que vêm da matéria-prima que Angola produz não são geridos devidamente. A Assembleia Nacional não faz a fiscalização das acções do governo. A própria Assembleia já proibiu os deputados de fazer a fiscalização das acções do governo que é uma acção fundamental duma Assembleia Nacional. Então, nós precisamos de mudar primeiro as pessoas que não estão a conseguir, ao longo de tantos anos de governação, resolver os problemas do povo, mas precisamos de mudar também as políticas que se aplicam no nosso país. RTP-Africa :O senhor está a terminar o seu périplo pelo exterior em Portugal, como é que vê as relações Estado a Estado? IS: Eu creio que as relações Estado a Estado, neste caso preciso relações entre Angola e Portugal creio que estão numa das melhores fases, mas mais uma vez nós encorajamos, de um lado este reforço de relações, entre estes dois países que têm laços históricos não só de cultura mas também de sangue, hoje há famílias que se estendem de Portugal para Angola e vice-versa, mas mais uma vez queremos apelar para que tudo se faça no sentido de benefíciar os povos destes dois países e não individuos apenas. RTP-Africa :Essa é uma critica directa ao governo Português? IS: A todos aqueles que estão a investir em Angola. A nossa mensagem foi, por toda a parte onde passamos, chamar atenção para este facto, porque os angolanos também estão maduros e vêem os investimentos que vêm em vez de beneficiar também os angolanos estão a beneficiar apenas um pequeno grupo de pessoas que se encontram a dirigir o país. Nós gostaríamos de ver, sejam os portugueses, sejam franceses ou americanos que investem em Angola, que tenham o cuidado, porque nos seus países há uma responsabilidade social. Angola também tem essa responsabilidade social que as empresas deviam ter para com o povo. Isto implica ver se os investimentos que estão a fazer beneficiam também a reputação das suas empresas, porque quando se investe em situações onde não há transparência, as empresas concernentes também arriscam o seu prestígio. Portanto, nós queremos que haja investimentos, queremos que Angola continue aberta, porque precisamos que o país se desenvolva, mas esse desenvolvimento só é possível se o povo angolano participar do mesmo. RTP-Africa :Depois da listagem que o senhor fez de alguns dos problemas que coroiem o sistema angolano, na sua opinião, porque é que apela aos quadros angolanos para voltarem ao país, se é assim tão dificil viver em Angola? IS: Nós estamos a dizer que gostaríamos de ver os angolanos no seu país e aqueles que viessem para fora do país fossem aqueles que viessem porque querem viver fora do país e não aqueles que são forçados a deixar o seu país. O que acontece hoje, nós encontramos aqui na Europa muitos angolanos que gostariam de ir a Angola, mas as condições, não só materiais, mas também de liberdade não lhes permitem lá estarem. Portanto, em Angola não se sentem materializados. Mas nós achamos que é com o apoio e trabalho de todos os angolanos lá que podemos criar as condições para uma vida melhor para todos, daí que nós constatamos que há muitos quadros cá no exterior com capacidade de prestar uma ajuda muito útil no esforço que os angolanos que residem no país estão a fazer para mudar a situação. RTP-Africa :Mas com esse apelo que faz aos quadros angolanos para que voltem, aqueles que querem voltar, para ajudar a construir Angola, o senhor ao mesmo tempo reclama que há falta de democracia, a falta de direitos. O direito à indignação, a protestar faz parte do vocabulário angolano? IS: Não fazia, mas vai fazendo agora, primeiro porque a Constituição prevé esse direito, mesmo se as autoridades procurem impedir que os angolanos exerçam esse direito, cada dia que passa aumenta o número de angolanos que ficam a saber que este é um direito que lhes pertence. Portanto, o nosso governo continua ainda a impedir que haja protestos, que haja manifestações mas isso é a mesma coisa que travar o vento com as mãos, porque entretanto, como já disse o povo começa a ficar maduro começa a compreender e a saber quais são os seus direitos e procura execê-los. Portanto, a esse respeito nós também estamos satisfeitos. RTP-Africa :Como líder do principal partido da oposição e já no seu terceiro mandato, o senhor acredita que poderá ser Primeiro Ministro um dia?. IS: Não é esse o meu objectivo. O meu objectivo é, acima de tudo contribuir para a mudança que os angolanos reclamam, o meu objectivo é ver os angolanos a terem uma vida melhor, se isso me levar a ser Primeiro Ministro um dia, aliás a nossa Constituição não... RTP-Africa :A Constituição não permite. Presidente, então? IS: Se lá chegar um dia concerteza farei tudo para fazê-lo da melhor forma, mas não é esse o meu objectivo. Eu estou nesta luta há dezenas de anos e nunca pensei ser um dia presidente de um partido. Calhou sê-lo e naturalmente procuro cumprir os meus deverescom esmero e com dedicação. Muito Obrigado. unitaangola/PT/Tugas11.JPG
Posted on: Wed, 19 Jun 2013 11:46:39 +0000

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