Era terrivelmente desconfortável se nos limitassem as palavras. - TopicsExpress



          

Era terrivelmente desconfortável se nos limitassem as palavras. As escritas, as ditas, as pensadas. Era dramaticamente tenebroso querer dizer e não poder. Querer exprimir e ter de conter. Andaríamos num caminho duro e custoso para arranjar a melhor forma de explicar com a menor quantidade de palavras. Mais uma e gastavam-se. Dizer de forma mais explicada e pormenorizada era meio caminho andado para a desilusão. Seria um trabalho incompreensível este de economizar o que queríamos explicar. Numa palavra se explicariam teses, problemas, dilemas e estratégias. Numa palavra se entenderia a razão do comunicado, do testamento, do argumento e da conferência. Ficariam coisas por dizer. Tantas que o mais certo seria não gastá-las. Mais valia demonstrá-las aos nossos pensamentos, manifestá-las para dentro. Não sei se a dor de não dizer seria maior que a vontade de querer expor. Andamos às voltas para dizer de fomos de aqui até ali. Representamos de forma quase matemática a situação que nos levou ao atraso. Quase que ilustramos todo o processo de rotina do nosso dia. Basta pouco. Muito pouco para figurar, representar e revelar. Se se gastassem as palavras poucos diziam o que sentiam com medo que lhes cortassem a última coisa que queriam dizer. Teríamos auditórios vazios ao fim de cinco minutos, plateias de pé a aplaudir o discurso de duas linhas. Teríamos tempo. Mas de que servia o tempo se não podíamos cantar? Mais do que aquilo que ficava por dizer estava aquilo que ficava por ouvir. Teríamos missas de dez minutos, aulas de sete e palestras de nove. Concertos esgotados por canções incompletas. Exprimir a nossa admiração por quem estivesse em palco ficaria a meio. Podemos dizer o que queremos, o que pensamos e o que sentimos, mas se se gastassem as palavras haveria muita coisa que.
Posted on: Tue, 26 Nov 2013 01:33:16 +0000

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