Ernest pede que choremos por nós Nesta segunda-feira, 11, indo - TopicsExpress



          

Ernest pede que choremos por nós Nesta segunda-feira, 11, indo para o centro da cidade (de Belém/PA), pela Rua Estrada Nova, cruzando o bairro do Jurunas e adjacências, chamaram a atenção de Ernest, não sabia bem porquê, umas duas ou três pessoas encostadas no muro de um desses muitos igarapés da área, que deságuam na Baía do Guajará; não havia razão para estarem ali, daquela forma, àquela hora do dia, exceto o de estarem velando pelo corpo de um morto, quem sabe assassinado nas primeiras horas da manhã de hoje; deu para ver um curioso, chegando, levantando um pedaço de plástico que cobria toda aquela carcaça humana, ali jogada, próximo de um monte de sacos plásticos cheios de lixo, amontoados, à espera do carro coletor. Quem passava, não fossem as pessoas, olhando e uma grosseira vela acesa, não percebia que era o corpo de um morto humano. Perto do lixo, poderia parecer a carcaça de um animal qualquer, gato, cachorro. Provavelmente o rabecão do IML teria sido notificado; logo mais estaria passando ali para recolhê-lo. Se ninguém nesse interregno aparecer reclamando, o corpo será enterrado como indigente em cemitério da periferia qualquer. Essa cena induziu Ernest a pensar que aquele corpo poderia ser uma carcaça de animal qualquer. Porque, pensou ele, já fomos na história um animal qualquer.Com muito custo conseguimos, através de nossos ancestrais humanoides, perdidos na escuridão de milhões de anos atrás, superar a adversidade para chegar ao topo da escala animal. Apenas nós; os demais, concluiu ele, ficaram perdidos no imediato de si mesmos. Ernest pensava que não se nascia pronto e acabado, como Adão ou Eva. E nem a Bíblia quer ser interpretada assim, ao pé da letra. Ela deve ser lida, imaginava ele, como um texto alegórico, contextualizado no tempo e no espaço de há dez ou mais mil anos atrás. Por isso, admitia ele, não merecemos pena, tampouco podemos nos queixar por desleixo da falta de atenção da divindade criadora. Ernest achava ainda que todos os seres no geral, e não apenas os humanos, no particular, como assim nos tachamos, merecem a atenção da Providência. –“Compreendo, dizia ele pra si mesmo, dessa forma por que sofremos, por que morremos; todos os seres são finitos. Os humanos conseguiram evoluir com diferença e se tornou um ser que tem consciência de si, que consegue ver além de si, para frente e para trás. E se distingue dos outros”. Para Ernest, aquela carcaça ali no meio do lixo da rua foi um ser humano. O que o levou àquele estado deplorável de morto sem prestígio e valor, ali, jogado na lama, sem choro, sem lamentos por si. A despeito disso os sinos dobraram por ele. O problema é dos outros, nosso, que, nele, não nos damos valor, não nos respeitamos somo semelhantes iguais e livres. A inteligência nos obrigou a pensar e concluir que a vida é o primeiro bem de valor de cada um tem, devendo por isso ser preservada. Deus não se meteu objetivamente nisso. A lei é uma invenção humana; o respaldo de sua legitimidade está em cada um de nós. Com a mesma sorte, Deus, religião também são convenção humana, inventadas pelos humanos à sua imagem e semelhança. Concluiu Ernest por fim que aquela carcaça humana apodrecendo sob o sol numa das ruas do Jurunas hoje pela manhã foi o que foi por obra nossa; caso contrário, não passaria de carcaça de um animal morto qualquer. O tempo não está completo. Por isso, pede ele a nós, devemos chorar por quem foi aquele com aquela carcaça e por nós...
Posted on: Mon, 11 Nov 2013 21:44:28 +0000

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