Espelho, espelho meu. Deitado, refletindo sobre a vida. - TopicsExpress



          

Espelho, espelho meu. Deitado, refletindo sobre a vida. Pensando em mim e resolvi escrever uma crônica sobre o espelho. Ou pode ser que sejam os espelhos. Aí depende da tua interpretação, que já não é mais minha, correto? Enfim. Porém, só aviso que não é um texto de autoajuda ou motivacional ou qualquer coisa que tenha tal caráter ou jeito Martha Medeiros de ser. Minha crônica é muito mais sobre mim, sobre a minha opinião do que uma possível vontade de instigar o leitor a refletir e, quem sabe, mudar certos pontos na vida. Não tenho tal pretensão, pois, acredito que quando escrevo uma crônica ela me serve muito mais como desabafo do que qualquer outro significado. E, pensando, puxando pela memória alguns acontecimentos, lembrei de uma fase difícil da minha vida em que não conseguia olhar-me no espelho. Sério. Era tão penoso levantar a cabeça e, depois, os olhos e ver refletida a minha imagem que, sinceramente, não o fazia. O que refletia ali, naquele momento, não era eu. Era meu resto. A borra do meu café. O que sobrou de um Matheus que existiu e que nada tinha de relação com aquele. Via um vazio. Um gigante vazio. Uma pessoa que não conseguia raciocinar sobre o dia, sobre as horas, sobre a vida. Sabia que estava tudo bem com a minha família e com os meus, mas, dentro de mim, havia um enorme erro envolvido em luz neon que pulsava no peito e aparecia desesperadamente piscando em meus olhos. No entanto, aquele erro, aquela peça fora do lugar tomava conta de mim e onde eu fosse, quando eu conseguia ir a algum lugar, o carregava. Lembro que quando tinha de me vestir não me olhava em frente ao espelho. Era como se ali daquele vidro saísse alguma resposta negativa para minhas milhares perguntas que existiam dentro de mim. Então eu fugia. Fugia, no entanto, sabia que um dia deveria enfrentá-lo. Como minha vaidade tinha se perdido no meio do processo era fácil me vestir sem verificar como eu tinha ficado com uma roupa. Aliás, eu nem me importava com a roupa que vestia. Acredito que se eu tivesse me mudado para alguma praia de nudismo teria sido melhor. Só que em algum momento do dia, ou melhor, em alguns momentos eu tinha de enfrentar a cruel realidade dos fatos e me ver na frente do espelho. Eu não suportava ter de escovar os dentes. Eram estes os momentos que eu me via. E me ver era insuportável. Ver minhas olheiras, minha perda de peso, meu cabelo desarrumado, minha barba toda despentelhada, enfim. Era péssimo. Só que eu não me dava conta do porquê de não conseguir encarar um espelho. Depois, conversando com uma amiga, descobri que o motivo era, lógico, a imagem que eu via. Era como se eu estivesse assistindo, de camarote, a minha derrocada. Minha depressão estava tomando conta de mim e não sabia, exceto quando me via e eu fugia disso. Não queria saber. Era cruel, desumano. Eu: um cara sempre alegre, sempre com o astral bom, com um sorriso no rosto era impossível estar naquela situação. É penoso aceitar que existe uma enorme diferença entre um período de tristeza e a depressão. Pior, ainda, é para quem está depressivo. E eu estava. Estava no meu pior momento. Queria que tudo passasse e que minhas dores não doessem mais e que eu pudesse voltar, num passe de mágica, a sorrir e a ser quem eu era. Só que foi um processo lento. Um processo que não pretendo repetir. Hoje não tenho problemas em ver a imagem que reflete no espelho quando estou na frente dele. Exceto pelos quilos a mais, evidenciados pela minha barriga, mas, sinceramente, isto não me abala. Porque, após isso tudo, eu tive a noção exata do que realmente importa na vida. Eu precisava ter medo do que eu via. Eu precisava não me reconhecer para me conhecer mais tarde. Para mudar mais tarde. (Matheus Bandeira)
Posted on: Sun, 27 Oct 2013 05:20:42 +0000

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