Esplanadas de praia. Em Portugal é muito difícil chamar um - TopicsExpress



          

Esplanadas de praia. Em Portugal é muito difícil chamar um empregado de mesa. Os povos do norte da europa, ou mais evoluídos têm substantivos inequívocos e pontos de exclamação. Tipo «Waiter!», «Garçon!», «Camarero!» com segurança e à-vontade. Nós não. Quase morremos. Desfazemo-nos em reticências apologéticas. Estendemos o dedo no ar e esbugalhamos os olhos como perdigueiros ansiosos. «Olhe…» Ninguém vem… Passa quase uma tarde. «Olhe… se faz favor…» O tom é de quem pede qualquer coisinha. Nada. Já temos as sobrancelhas tão arqueadas, que começam a fazer musculação na testa. «Olhe…», «Amigo… se não se importa…» O empregado vem. Está zangado por termo-lo feito vir. Olhe… se não se importa… era para levantar a mesa…» Levantar a mesa. Que coragem em propor uma coisa daquelas! O empregado puxa da bandeja como o carrasco da lâmina. Uma pessoa tem medo. Dá um passo atrás: «Desculpe lá…» O homem não desculpa. Insiste-se. «Desculpe lá… é que estamos aqui há tempo demais, e tenho de ir levar uma pessoa ao transporte às seis e tenho a minha mãe doente lá em casa…» Ele aceita. É um empregado paciente. Aproveita-se: «E já agora era um descafeinado e uma água fresca, quando puder…» O empregado arrebita um pouco. De repente já diz qualquer coisa. «Descafeinado não há – só café…» Só os Portugueses pedem coisas no pretérito. «Era um café»…, «Era uma bifana no pão…» É um condicional apologético, como quem diz: «Seria um café se V.Ex.ª se dignasse trazer-mo…» Porque é que não se pode chamar criados de mesa aos criados de mesa? A própria palavra empregado é ridícula. Descreve a circunstância de ter um emprego. Não diz que raio de emprego é. Mas é isso mesmo. Na nossa cultura nós somos todos empregados. Trabalhamos porque temos de trabalhar para continuar empregados. Senão não estávamos aqui a servir a mesa ou a atender pessoas no escritório. Isso é que era bom. Não trabalhamos para aquecer. O brio? Isso é algum queijo ou quê? O problema é este. Em Portugal ninguém é aquilo que aparenta ser. Melhor. Ninguém é aquilo que aparenta fazer. E ofende-se se alguém disser que é. O tipo que escreve no jornal não é jornalista. Não! É, sim um romancista que se viu obrigado a recorrer ao jornalismo para ganhar a vida. Um eletricista de obra não é um eletricista obra. É, sim um engenheiro técnico em potencial, à espera de uma oportunidade. Eu também, se for sincero, não sou jurista. Sou muito português – faço muitas coisas e não faço ideia do que seja. A não ser parvo. Porque a ideia que faço é só do que não sou. Mas tenho é – como os outros Portugueses – a ideia do que os outros são, mas falta-me a coragem para lhes dizer. O empregado de mesa parece-me um empregado de mesa mas aceito que possa ser outra coisa qualquer. Em Portugal, entra-se numa loja para comprar umas calças, com a consciência pesada do incómodo que se vai causar à pobre criatura atrás do balcão. Em qualquer outro país é-se atendido. Aqui é-se aturado. Deve ser por isso, que pedimos desculpas a que nos atende. E pronto, tenho dito. J.F.
Posted on: Sun, 08 Sep 2013 21:34:38 +0000

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