Essa chuvinha de novembro me fez lembrar o pequeno conto PILOTO DE - TopicsExpress



          

Essa chuvinha de novembro me fez lembrar o pequeno conto PILOTO DE ZEPELIN, que faz parte do meu livro, Na Barriga do Boi. Segue: H. amou a chuva como jamais amou a própria mulher. Não entendia quando alguém dizia que o dia hoje estava muito feio ou que o tempo estava ruim. Eram justamente as nuvens pardacentas, o cheiro da umidade e o vento morno que configuravam, para ele, a tradução da beleza. Tanta pluviosidade pra nada, reclamava nessas horas. E o que era amor, com os anos, foi se transformando em necessidade. Nada alegrava o espírito do velho como a chuva. Mirava macambúzio pela janela nos dias mais ensolarados. Os filhos e os netos chamavam de morbidez, maluquice; a esposa dizia que era carência. Num desses anos que pouco choveu, H. tomou a decisão de comprar o velho dirigível da aeronáutica que ele mesmo havia pilotado na Segunda Guerra. Disse que, com aquela aeronave e um aparelho que produzia descargas elétricas, seria capaz de fazer chover. A família tentou demovê-lo da ideia; a filha mais velha quis interná-lo. Para decolar em paz, escolheu uma madrugada insuspeita no final de outubro. Levou o neto mais novo até o galpão, fez a última vistoria e abraçou a criança na hora da despedida. Presta atenção, menino. Se eu não voltar logo, quero que você avise ao pessoal que a gente se vê quando a próxima chuva cair, tá bem? Choveu sem parar no mês de novembro.
Posted on: Wed, 06 Nov 2013 13:44:04 +0000

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