Eu fiquei surpreendido pela qualidade do filme. Francamente estava à espera duma daquelas medíocres comédias francesas tipo "bien venu chez les Chti" e saiu-me uma comédia digna das melhores comédias americanas. Como se trata dum primeiro filme é evidente que o Ruben não teve direito a "final cut" e a montagem peca por comercial. Digo isto porque há alguns planos sequência que escaparam aos cortes e que são bastante bons (se bem que cheirem ainda um pouco demasiado a escola). A história é despretensiosa, justa na crítica como na sátira. Todos levam pela medida grande, tanto franceses como portugueses. Todos são bem retratados. Muita, muita humanidade que me levou às lágrimas, porque, de repente, vi perante mim a minha porteira que me salvou de dormir na rua e morrer de fome num dia frio de Outono em 1982. A francesa tinha mudado de ideias e recusou admitir-me no quarto que me alugava. Há uma grande confusão entre clichê e TIPO. Como em qualquer comédia, ou tragédia aliás, os personagens são tipos. A ilusão de realidade é dada pelo argumento e, sobre tudo, pelos diálogos. Ora, tanto os tipos como os diálogos são excelentes. O argumento é um pouco naïf mas é salvo pela modéstia do propósito e pela humanidade do conjunto. Uma bela surpresa, desde o momento que saibamos assumir o que somos e o que o filme é. E não comparemos alhos com bugalhos. Vamos ver as comédias americanas do senhor Adam Sandler (de que eu não gosto) mas recusamos admitir a qualidade duma comédia feita por um compatriota, cuja tem até mais qualidade, tendo em conta as condições de produção. E depois, francamente, a classe média portuguesa, sobre tudo a intelectual, é frequentemente representada em filmes franceses. E até em séries para televisão. Desta vez foram trolhas e porteiras. Porquê não, têm vergonha ? Um português fez a melhor comédia popular francesa desde há muitos anos. Deixem-se de peneiras, por favor
Posted on: Fri, 13 Sep 2013 19:36:08 +0000