“Eu sempre achei que era impossível relacionar-me adequadamente com um lugar ou uma pessoa sem relacionar-me com todas as histórias daquele lugar ou pessoa. A consequência de uma única história é essa: ela rouba das pessoas sua dignidade. Faz o reconhecimento de nossa humanidade compartilhada difícil. Enfatiza como nós somos diferentes ao invés de como somos semelhantes. (…) Histórias importam. Muitas histórias importam. Histórias têm sido usadas para expropriar e tornar maligno. Mas histórias podem também ser usadas para capacitar e humanizar. Histórias podem destruir a dignidade de um povo, mas histórias também podem reparar essa dignidade perdida. (…) Quando nós rejeitamos uma única história, quando percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo de paraíso.” Chimamanda Adichie. youtube/watch?v=wQk17RPuhW8 ******** Alguns dias atrás eu levei uma rasteira dela. Li um conto (The thing around your neck) que problematizava as possibilidades de diálogo entre culturas e entre pessoas de matrizes culturais diferentes. Foi feio. Fiquei pensando nas impossibilidades. Fiquei parada nisso. Já é difícil dialogar com aqueles que automaticamente (mesmo baseados em uma série de dogmas, esterióticos, histórias únicas e artificialismos) se reconhecem semelhantes. Pode ser difícil o diálogo com um ser que saiu das suas próprias entranhas. Podemos acrescentar a isso os inevitáveis “ruídos”: as dificuldades em emitir uma mensagem precisa, a impossibilidade de saber como será lida/ouvida/digerida e que implicações finais esse processo terá. Hoje, retomo contato com essa palestra e então, ela mesma, me dá a mão para levantar. Por mais que o mundo me diga que sou uma única história, eu posso dizer não e mais, posso não dizer, posso não aceitar os termos dessa negociação semântica. Somos todos muitos, por mais que nossas histórias estejam escritas a partir de endereços existenciais mais ou menos precisos (eu nasci em um determinado lugar, cresci em vários outros, meus olhos são verdes, eu falo tais idiomas….e infinitas variáveis). Obrigada, Chimamanda Adichie, por me ajudar a recobrar meu paraíso particular. Um entre-lugar em que sou livre para dignamente exercer minhas escolhas, minhas afinidades, minhas dores e minhas delícias.
Posted on: Wed, 11 Sep 2013 19:48:58 +0000
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