Excelente texto... a verdade é pra quem quer ver, quem não quer - TopicsExpress



          

Excelente texto... a verdade é pra quem quer ver, quem não quer acredite que em Cuba tem duendes. Sou um péssimo médico. Desde pequeno quis ser médico. Não sei o porquê, pois não tinha nenhuma pessoa próxima que fosse da área da saúde, mas só queria ser médico. Não sabia o quanto ganhava um médico, não sabia do campo de trabalho, não sabia do “status”, não sabia das responsabilidades. Terminei o 2º grau com 17 anos. 3 anos de cursinho para entrar na faculdade. Cursinho pago pelos meus pais, e como era doído saber que eles pagavam cerca de R$500,00 reais por mês para eu estudar. Entrei na faculdade com 20 anos. Aí foi beleza. Sabia que dentro de 6 anos seria médico. Estava tudo “garantido”. Mas lá no começo, ainda não sabia o quanto ganhava um médico, ou do campo de trabalho, responsabilidades e tudo o mais. Não fiz medicina por dinheiro. 6 anos de faculdade, na UFSC. Era pública, mas nada me era de graça. Não podia trabalhar, pois era período integral. Não tinha nenhum auxílio financeiro, afinal, “classe média não precisa”. Sustentado em todos os sentidos pelos meus pais. Durante a faculdade não foi me dado 1 real de auxílio, fiz estágio VOLUNTÁRIO em 3 hospitais, além do HU, trabalhei de graça, adiantava o serviço dos médicos, tratava a população, agilizava o serviço para que os pacientes não esperassem muito na porta. Assim como a maioria dos colegas, trabalhei como "médico" supervisionado por praticamente 4 anos da faculdade, sem nenhum pagamento por estágio, sem nenhum auxílio do governo. Mesmo assim, adorava. Nunca reclamei, pois eu tinha que aprender. Médico aos 26 anos, com muito orgulho. Tenho certeza que passei pelas coisas certas, que aprendi muito na faculdade, que saí com uma boa bagagem e com a certeza que seria um bom profissional. Após 1 anos de formado, trabalhado EXCLUSIVAMENTE no SUS, tenho a certeza de que fiz a escolha correta. Sou o famoso “médico generalista”, sem uma especialidade. Sou um bom profissional e tenho certeza que resolvo até mais de 80% dos problemas de saúde que me chegam (segundo estatísticas, 20% é de competência de médicos especialistas – cardiologista, nefrologista, psiquiatra...). Sempre que um paciente entra no consultório, olho nos olhos, dou bom dia e me apresento para os pacientes (não gosto que saibam o meu nome só por lerem no meu jaleco). Ouço o paciente, pois sei que muitas vezes vão ao médico por um conforto. Também sou “padrão” SUS, tento sempre prescrever os melhores medicamentos, mas sempre pensando no que o SUS disponibiliza (“já pagamos muitos impostos, pelo menos o medicamento podemos pegar no posto” – sempre digo aos pacientes), e é custoso pra mim dizer ao paciente que ele tem que comprar algum medicamento. Tento me virar com a estrutura que me é fornecida, tratando empiricamente (no chute) muitas doenças, fazendo sutura com a mão (pois não tem material), reaproveitando material usado, colocando paciente deitado no chão por falta de maca, fazendo rodízio de oxigênio, pois não tem para todos. Mais de uma vez fiquei após meu horário de trabalho devido a um paciente pior (não, nem perigo de morte tinha), mais de uma vez chorei em plantão pois não tinha o que fazer pelo paciente, mais de uma vez tive que atender comigo mesmo doente, e atendia pacientes que estavam muito melhor do que eu no momento. Mais de uma vez tive que dar notícia de morte. Já ganhei alguns elogios, mas já fui bastante criticado também. Sou um ótimo profissional, mas sou um péssimo médico. Sou um péssimo médico por que não dou atestado médico pra quem, segundo minha avaliação, não precisa, não dou receita médica de medicamentos que eu não terão efeito no paciente (o que mais tem é paciente chegando com uma dor de garganta já pedindo o antibiótico, pois antibiótico que faz passar a dor...). Sou um péssimo médico por que não solicito exames inadvertidamente, segundo a vontade do paciente, por que não renovo receita em serviços de emergência, por que não faço o que o paciente quer que eu faça. Sou um péssimo médico por que não consigo fazer um exame avançado rapidamente, pois deixo o paciente esperando 3 meses por um raio X, ou 11 meses por uma tomografia. Péssimo por que não consigo dar dignidade para o paciente deitar numa maca, tomar seu remédio em paz e descansar para curar sua enfermidade. Péssimo por não dar um saneamento básico para a população, o que resolveria muitos problemas de saúde. Sou um péssimo médico por que num plantão de 36h eu almoço, janto e vou ao banheiro, deixando esperando uma fila de pacientes doentes. Sou um médico de mercenário por que trabalho mais de 40h semanais, em horários alternativos, e quero ser bem remunerado por isso. Por que não exerço a medicina como sacerdócio e não fiz voto de pobreza. Por que tenho um descanso. Por que durmo. Sou um péssimo médico por que não quero ir pro Pará, longe da minha família e amigos, pra uma terra desconhecida, para trabalhar em um local sem nenhuma estrutura, eu e Deus como equipe, para fingir que dou saúde. Mercenário por que não aceito ir para o interior do Acre sem um plano de carreira, sem uma perspectiva de futuro, sem um concurso, sem estabilidade no emprego. Medíocre por que não aceito ser peão para político ganhar voto. Sou um péssimo médico por que quero fazer uma especialidade médica, através de residência médica, por mais uns 4 anos, ganhando cerca de R$2.500,00 por mês e trabalhando mais de 80h semanais. Sou mercenário por que quero realmente entrar no mercado de trabalho, sendo especialista, com 32-33 anos, e ganhar bem, só por que estudei medicina por 10 aninhos. Sou um péssimo médico por que não vejo que a população do interior precisa de médicos HOJE, mas realmente não precisava há 8 anos. Por que acho um absurdo o pensamento que é “melhor ter um médico numa sala vazia do que não ter médico”, por que ainda penso que o médico não cura com a mão. Nesse 1 ano de trabalho no SUS, em nenhum momento tive estabilidade, carteira assinada, direito a férias ou mesmo a um atestado médico. Já fui pago pelos meus serviços de forma duvidosa, com secretários de saúde fraudando o sistema, dando o dinheiro “por fora”, ou colocando um funcionário fantasma para que o governo estadual/federal repassasse mais verbas. Já vi várias falcatruas em hospitais para que o serviço fosse mantido, já desisti de trabalhar em outros lugares por não ter condições de trabalho. Já fui ameaçado, xingado. Já cansei de ser o profissional no qual a população personifica a saúde, de ser o culpado pelas coisas não darem certo, pela demora de exames ou pela falta de leitos. Em locais sem estrutura, por querer ajudar ou mesmo salvar a vida de algum paciente, começamos a improvisar. Com improvisação aumenta MUITO o número de fatalidades e de “erros médicos” aumenta substancialmente. Não vou para o fim do mundo para expor a população a perigos desnecessário e para ter meu diploma a prova, pois sim, eu posso perder minha licença de médico por um improviso feito tentando ajudar o paciente. Hoje tenho ciência do quanto um médico ganha, das responsabilidades, do campo de trabalho e do status. Sei que ganho mais que a população em geral, mas também não conheço um médico que trabalhe menos que 40h/semana, como a população em geral. Sei que tenho muitas responsabilidades, porém não sou o gestor que organiza a saúde. Moro em Santa Catarina, e aqui tem médicos equivalentes a países como Inglaterra ou França, porém nossa saúde não chega nem perto. Acho que o Brasil precisa sim de mais médicos, mas não acho que temos que aceitar médicos sem o exame Revalida (uma prova extremamente factível, que faz revalidar o diploma de outros países no Brasil), sem saber se eles sabem das doenças mais prevalentes no Brasil ou se ao menos sabem de doenças. Não, não tenho medo da concorrência, que isso vá diminuir o salário do médico, que vá mostrar como o médico brasileiro é ruim e os estrangeiros são bons. Esses médicos que querem trazer, dificilmente virá algum para Santa Catarina. Se tivesse medo da concorrência, teria medo do futuro, pois o Brasil tem mais escolas médicas que os EUA ou a China. Obrigar o estudante de medicina a trabalhar pelo SUS é uma medida ditatorial. Precisa-se de engenheiros, professores, fisioterapeutas e psicólogos no interior também, então TODOS os estudantes de qualquer faculdade para que trabalhassem por 2 anos pelo governo, onde o governo quisesse, por quanto o governo quisesse pagar. “ah, mas a não se faz saúde sem médico” – e essa é a visão mais superficial possível. Preciso de uma maca, de aparelhos, medicamentos, vacinas, saneamento, grupo de enfermagem... A saúde do Brasil não vai ser resolvida do dia para a noite, mas se o governo não aceitar a luta de vez, e ficar sempre fazendo uma maquiagem, deixando bonitinho para ganhar voto, a saúde vai demorar cada vez mais. Para não dizer que só reclamo e que não dou solução imediata, o que deveria ser feito, AGORA, para melhorar a saúde, é a carreira de estado para médicos (como juízes e promotores), com um plano de carreira, que começa no interior do interior, mas tem um futuro e vai sendo “promovido” – conforme a PEC 454/09, além de infraestrutura, é claro. Não se deixe enganar por emissoras de TV que dizem que alguns locais não conseguem médicos pagando R$30.000,00 por mês. Procure na internet se há edital para concurso, pois se não houver, é mutreta. Cansei de saber de médicos que foram atraídos para o interior de SC com salário de 15 mil, receberam por 2 meses, e ficaram mais 2 meses trabalhando sem receber, sem direitos, sem vínculo empregatício. Apenas manobras populistas que esse governo tem feito. Cotas para tudo, bolsas auxílio de tudo e agora médicos para tudo que é canto. Não é assim que se resolve, mas é assim que se ganha voto. Não acho que tenha um partido melhor que o outro, mas sei que tem um pior que todos. PT nunca mais.
Posted on: Fri, 12 Jul 2013 23:51:55 +0000

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