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Excesso de capacidade produtiva é ameaça significativa à China Valor Econômico - 19/06/2013 Por Jamil Anderlini | Financial Times Colaborou Leslie Hook Shi Zhengrong ficou conhecido como o "Rei Sol" por volta do período em que foi apontado como o quinto homem mais rico da China, em 2006. Pouco menos de três anos depois, a Suntech, sua empresa com ações negociadas em Nova York, era a maior fabricante mundial de painéis solares. Sua produção anual de células solares era suficiente para abastecer 1 milhão de residências americanas ávidas por energia. Para empresas industriais americanas e alemãs às voltas com dificuldades, a Suntech era parte de um rolo compressor impossível de ser detido, que solapava os mercados, inundava o mundo com produtos ultrabaratos e obrigava concorrentes a fechar as portas. A Comissão Europeia está agora ameaçando elevar as tarifas de importação aplicadas aos produtores chineses por venderem, supostamente, painéis solares na Europa a preço inferior ao custo de produção. Mas o modelo de negócios da China está longe de ser inexpugnável. Em março, a Suntech pediu recuperação judicial. De um valor de mercado de US$ 16 bilhões, alcançado em seu pico, a empresa vale atualmente cerca de US$ 180 milhões. O Rei Sol foi destronado como presidente de seu conselho de administração. Na verdade, o setor de painéis solares é apenas o exemplo mais significativo do excesso de capacidade como um todo observável na China. Sua ascensão e queda obedeceram a um padrão que está se tornando familiar na segunda maior economia mundial. Os problemas decorrem das políticas industriais adotadas pelo governo chinês e de uma série de subsídios que permitem que setores inteiros surjam da noite para o dia. Autoridades locais ambiciosas têm interesse em gastar generosas quantias de dinheiro público financiando projetos que, segundo esperam, se tornarão histórias de sucesso capazes de impulsionar suas carreiras. "Quando se têm decisões políticas, fica-se com enorme excesso de capacidade, e este país criou excesso de capacidade em muitas áreas", diz Hank Paulson, ex-secretário do Tesouro dos EUA que visita frequentemente a China. "Não foi apenas em tecnologias limpas; aço, construção naval, podemos citar todas essas áreas." De produtos químicos e cimento até escavadeiras e aparelhos de TV de tela plana, a indústria chinesa está saturada de um excesso de capacidade que pressiona os lucros dentro e fora do país e ameaça desestabilizar ainda mais o já periclitante crescimento da China. Não é um problema novo, mas é um problema que foi exacerbado pela resposta de Pequim à crise financeira de 2008 e continua a se agravar apesar dos esforços do governo para detê-lo. A China produz quase metade da oferta mundial de alumínio e de aço e cerca de 60% da oferta mundial de cimento. Mas sua capacidade de de produção está sendo reforçada rapidamente, apesar do desaquecimento da economia. A produção (PIB) da China cresceu 7,8% no ano passado - seu ritmo mais lento dos últimos 13 anos - e, após uma breve recuperação no quarto trimestre, o crescimento despencou ainda mais no primeiro semestre deste ano. Os preços do alumínio tiveram queda abrupta nos últimos anos, e mais de metade dos fabricantes chineses de alumínio opera com prejuízo. Apesar disso, estão sendo construídas fundições em todo o território chinês, embora a produção do metal exija enormes quantidades de energia, de água e de bauxita, todos recursos escassos na China. Os produtores estrangeiros também estão sendo obrigadas a fechar devido à superprodução que flui da China. Apenas cerca de dois terços da capacidade instalada de produção de cimento foi utilizada no ano passado, segundo levantamento realizado pela Confederação de Empresas da China. Para a indústria mundial, o efeito China foi apavorante nos últimos dez anos. O país asiático destruiu postos de trabalho e capacidade no mundo inteiro, fechando fábricas que operavam nos países concorrentes. Problemas decorrem das políticas industriais e de subsídio que faz surgir, da noite para o dia, setores inteiros Mas em quase todo setor em que os produtos chineses de baixo custo entraram para dominar aconteceu uma coisa estranha. Assim que o grosso da produção industrial mundial de um determinado setor mudou para a China, o excesso de capacidade se instaurou rapidamente e esses setores começam a se canibalizar. A Suntech foi um bom exemplo. Li Junfeng, alto assessor de política energética do departamento de planejamento do governo da China, compara o setor solar do país a um paciente conectado a aparelhos que o mantêm vivo, e diz que pelo menos metade da capacidade mundial de produção de painéis solares precisa ser fechada. "O excesso de capacidade resulta na concorrência de baixo preço; todos os setores com excesso de capacidade têm esse problema", diz Li. Um exemplo mais antigo é o mercado de telefones celulares, que o governo chinês se determinou a dominar uma década atrás, com fabricantes de cores nacionais que ostentavam nomes como Panda, Konka e Ningbo Bird. Mesmo na China, nenhuma dessas empresas é um nome conhecido atualmente. Mas muitos analistas previram em outros tempos que esses fabricantes de baixo custo cresceriam e se tornariam as equivalentes chinesas da Nokia, da Ericsson e da Motorola. O governo chinês, especialmente as autoridades locais, injetaram grandes subsídios nessas empresas na esperança de transformá-las em forças mundiais, mas todas elas acabaram perdendo a corrida do desenvolvimento de novas tecnologias. "Falava-se muito na época de como essas empresas se tornariam grandes novos gigantes da tecnologia chinesa, e elas certamente ameaçaram suas concorrentes internacionais ao corroer o segmento mais baixo da cadeia de valor", afirmou Anne Stevenson-Yang, diretora de pesquisa da J Capital Research. "Mas, com o passar do tempo, as empresas chinesas tendem a continuar fábricas que produzem enormes volumes de coisas baratas, indiferenciadas." Vários estudos detectaram que a capacidade da indústria chinesa de dominar a produção industrial mundial em determinados setores se deve, em grande medida, aos subsídios, dos quais a maior parte é fornecida por governos municipais e provinciais. Em recente estudo, os acadêmicos Usha e George Haley, residentes nos EUA, estudaram como os fabricantes chineses de aço, vidro, papel e autopeças se transformaram, passando de figurantes e importadores líquidos às maiores empresas manufatureiras e exportadoras mundiais em apenas alguns anos. Em cada um desses setores altamente fragmentados e intensivos em capital, a mão de obra respondeu por 2% a 7% dos custos, e a vasta maioria das empresas não dispunha de economias de aglomeração (que exploram a concentração geográfica) nem de escala. "Nossas descobertas contradizem a convicção generalizada de que o enorme sucesso da China como país exportador provém primordialmente dos baixos custos com mão de obra e da deliberada subvalorização da moeda", diz Usha Haley. "Existe um colossal excesso de capacidade e nenhuma avaliação da oferta e da demanda, e verificamos que os subsídios respondem por cerca de 30% da produção industrial. Tudo indica que a maioria das companhias que examinamos teria falido na ausência de subsídios." Além das injeções diretas de dinheiro, muitos governos locais da China oferecem terrenos muito baratos, crédito de baixo custo, serviços de infraestrutura com desconto e benefícios fiscais para empresas estatais e privadas instaladas em seus arredores. Em relatório de pesquisa sobre subsídios governamentais a empresas chinesas não estatais, Matthew Forney e Laila Khawaja, da consultoria Fathom China, apuraram que a maioria das empresas pesquisadas recebia alguma forma de subsídio direto. "O resultado é que as autoridades que sobem mais rapidamente na hierarquia do partido [comunista] são normalmente os que supervisionam os projetos de investimento de maior visibilidade e de crescimento mais acelerado", disseram Forney e Laila. "Oferecer subsídios a empresas privadas interessadas em se expandir pode ajudar os municípios a arrebatar um contrato de investimento que traz postos de trabalho e arrecadação fiscal." Algumas das companhias mais subsidiadas da China são as montadoras, como a Chery, a BYD e a Geely. Alguns analistas preveem que elas terão, em última instância, o mesmo destino dos fabricantes de celulares. O excesso de capacidade na indústria automobilística é desenfreado e, no caso da Geely, que comprou a Volvo em 2010, mais de 50% de seus lucros líquidos em 2011 vieram diretamente dos subsídios. Na verdade, o lucro da Geely com subsídios naquele ano equivaleu a mais de 15 vezes a segunda fonte de lucros líquidos - "vendas de aparas metálicas" - segundo análise da Fathom China. Problema não é novo, mas foi exacerbado pela resposta de Pequim à crise financeira de 2008 e continua a se agravar No caso de Shi, o Rei Sol, os subsídios e doações de um governo municipal foram decisivos para convencê-lo a voltar à China proveniente de Sydney, na Austrália, onde ele morava num bairro de periferia de alta classe média e dirigia um Toyota Camry até o local onde trabalhava como executivo numa empresa estreante de painéis solares. Shi e a Suntech preferiram não comentar. Em 2000, o governo de Wuxi, perto da cidade natal de Shi, na província de Jiangsu, no leste da China, estava interessado em abrir uma empresa industrial de painéis solares. Diante disso, autoridades começaram a atraí-lo de volta com promessas de apoio. "A Suntech é uma semente plantada pelo comitê do Partido Comunista do governo de Wuxi", disse Shi, em discurso pronunciado em março de 2011 para dar boas-vindas a Yang Weize, ex-secretário do partido em Wuxi, à nova sede da Suntech na cidade. "Durante a fase inicial da Suntech passamos por intensa pressão, mas Wuxi regou e alimentou continuamente essa semente." Graças, em parte, a seu sucesso em fomentar a indústria de painéis solares de Wuxi, Yang foi promovido, em 2010, e se tornou o secretário do partido em Nanquim, uma das maiores cidades da China. Em todo o país autoridades do partido observam esse tipo de ascensão meteórica e concluem que eles também podem chegar a grandes alturas pela concessão de subsídios a empresas. Isso impulsiona uma intensa concorrência interregional e uma guerra fiscal entre governos municipais, que muitas vezes resolvem deixar de fiscalizar o cumprimento das legislações ambiental, de segurança e trabalhista a fim de manter os empregos e os impostos (e a propina) nas suas jurisdições. Outro grande problema para quase todos os setores é que os planos de investimento e de crescimento se basearam na convicção de que o governo nunca permitiria que o crescimento caísse para menos de 8% ou de 9%. Essa percepção foi estimulada pela reação de Pequim à crise de 2008, quando o governo chinês lançou um pacote de incentivo de 4 trilhões de yuans (US$ 650 bilhões), desencadeando um surto de crescimento da construção civil para dar sustentação ao crescimento, que vinha rateando. Atualmente, num momento em que o crescimento resvala para 7,5% ou menos, os novos dirigentes chineses efetivamente parecem mais determinados que seus predecessores a enfrentar o excesso de capacidade. "Pretendemos acelerar a transformação do modelo de desenvolvimento econômico e ajustar e otimizar vigorosamente a estrutura da economia", disse Zhang Gaoli, vice-premiê executivo que responde pela economia e é membro do todo-poderoso Comitê Permanente do Politburo, em discurso pronunciado este mês. "Proibiremos energicamente aprovações de novos projetos em setores que passam por excesso de capacidade e suspenderemos resolutamente a construção de projetos que infringem a regulamentação." No entanto, Pequim tenta há anos enfrentar esse problema, mas esbarra na forte resistência por parte dos governos municipais, que tentam proteger suas "sementes" locais. Mesmo assim, analistas e autoridades disseram que recuperações judiciais como a da Suntech são raras e tendem a ocorrer apenas quando uma empresa ultrapassa a barreira do socorro viável ou quando as autoridades municipais querem se apossar de sua propriedade. Mas a escala do excesso de capacidade e a desaceleração do crescimento da China sugerem que muito mais pessoas terão um destino similar ao do Rei Sol. Shi continua vivendo em Wuxi e ainda é o maior acionista individual da Suntech, mas, segundo a mídia chinesa, está sendo investigado por sua atuação na queda da empresa.. "O problema dos subsídios em todo lugar é que eles tendem a sustentar a atividade, e não os resultados, e eles se tornam um grande problema quando se limitam a subsidiar ineficiências", diz John Rice, vice-presidente do conselho de administração da General Electric, que comanda as operações mundiais da GE a partir de Hong Kong. "Quando se faz isso eternamente, simplesmente se aumenta o tamanho da âncora que emperra o crescimento."
Posted on: Wed, 19 Jun 2013 21:28:41 +0000

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