Falando de Pesquisa 2: Ainda sobre a pesquisa sobre as Epidemias - TopicsExpress



          

Falando de Pesquisa 2: Ainda sobre a pesquisa sobre as Epidemias em Santa Catarina na década de 1850, conheci algo que daria um brilhante Estudo de caso: A doença de um escravo conhecido pelo nome de Pai Manoel. Pai Manoel, havia sido infectado pelo Cólera. Este caso apresentava à população desterrense as verdadeiras formas de contágio e como se faria para prevenir a doença. Enfim surgira um diagnóstico sobre o cólera, que acalmou os ânimos da população. O Caso de Pai Manoel foi uma luz no fim do túnel e expunha os bastidores do surto epidêmico. Pai Manoel era um "preto velho mandingueiro", que vivia na fazenda ESTRELLA, situada em Laguna. O Escravo trabalhava com o português Mathias em sua botica-uma pequena farmácia de 36 medicamentos em glóbulos e tinturas, que por determinação das autoridades públicas fazia doações aos pobres da Cidade que estivessem adoentados. O roceiro Mathias tivera em sua casa os indícios da doença que atacou incontestavelmente o seu escravo. O roceiro tinha o costume de ler diversos jornais da Corte para saber das últimas notícias, e já temeroso com o que lia a respeito da Febre amarela e do cólera, quando foi informado da doença de Pai Manoel, entrou em desespero... já que o "Preto velho" era o único que "possuía" por conta de sua fraca situação financeira. Mathias fechou a Botica, já que "Pai Manoel" estava impossibilitado de trabalhar por conta da doença... e o "roceiro" debruçou-se sobre os conselhos dados pela "Comissão médica de Niterói", buscando alguma informação que ajudasse a curar o seu escravo. (Acredito que sabendo dos sintomas do Cólera, o roceiro, tenha deduzido que o escravo tinha contraído a doença... já que a Comissão Médica tinha relatado como agir-passo/a/passo... para que a moléstia fosse diagnosticada. Só que em momento algum existiu comprovação oficial de que o escravo tenha de fato contraído o cólera... até porque ele já era bem idoso e não aguentava mais trabalhar como um jovem. A população estava tão espavorida com o cenário caótico, que muitos casos de auto-sugestão como o de Pai Manoel aconteceram.) O Roceiro escreveu ao jornal O MENSAGEIRO relatando o seu problema: " —Sr. Redator: Não há duvidas! Tive a bixa em casa- não sei se era uma das esporadas ou a Salamaleca; o que sei é que vi-me em grandes apuros para pô-las pela porta de fora. Pouco tranqüilo com a decisão dos Sr. Drs. M. de Carvalho a cerca da minha questão relativa à aplicação da “camphora”, por isso que os Srs. Drs. Duque-Estrada e Medeiros nada disserão nem em oposição às idéias de seu colega, achei-me bastante embaraçado,não sabendo de que modo trataria um meu escravo que adoeceu. O estado do doente não admitia demora nas aplicações e o ladrão do negro não queria esperar que os Srs. Drs. Annuindo ao seu convite do Sr. Dr. Luciano se reunissem, discutissem e resolvessem a questão da compatibilidade da “camphora”. Vi-me em cólicas:julguei que desta vez condenava a perpetuo encerramento a minha pequena pharmácia de 36 medicamentos em glóbulos e tinturas. Desesperado cada vez que o enfermeiro me dizia que o doente havia vomitado; lanço mão do Correio Mercantil de 10 de setembro e lembro dos conselhos dados pela Commissão médica de Nitheroi. Fiquei tão contente que resolvi curar allophaticamente o meu pretinho. Dirigi-me a ele, e questionei-o lendo os tais conselhos(...)ora a dizer a verdade eu mesmo não sabia o que perguntaria lendo os conselhos da comissão médica. Não brinquemos coma bixa. Venha a botica homeophatica porque com este systema ao menos não vou encharcar o estomago do doente. A “camphora” do Dr. Duque-Estrada ou a do Dr. Carvalho? Ou o mandarão a do Dr. Germon? Que pena que ele só tenha 1 vidrinho para dar grátis aos pobres! Se me quisesse vender algumas gotas! Felizmente, Sr. Redator o meu escravo curou-se com sudoríferos. As instruções da Junta Central da Corte, escritas em linguagem apropriada à inteligência do povo, indicarão a este pobre roceiro o que cumpria a fazer. O que eu peço ao Governo é que faça imprimir em avulso as instruções da Junta que as imprimia as milhares e que afixe nas esquinas, mandando-as introduzir por debaixo de todas as portas." Deste modo, afirmo ser o escravo Manoel o espelho de uma sociedade aterrorizada e enfraquecida pelas doenças epidêmicas da segunda metade do século XIX. O preto, está inserido em um universo de inúmeros registros sobre o quadro de contágio do cólera na Santa Catarina do século XIX. O boticário Mathias ao referir-se ao tratamento homeopático dispensado ao seu escravo, citava os medicamentos utilizados. No período da invasão das doenças eram administradas fórmulas que respeitassem as características individuais dos doentes. Observa-se que todas as que se trataram com as medidas homeopáticas no inicio da doença ficavam curadas. No caso do preto Manuel, o estado do doente não admitia demora nas aplicações já que a questão da compatibilidade da cânfora era a solução para a cura do doente. Nesta conjuntura de epidemia, o espaço de atuação de todos os agentes de cura existentes na cidade de Desterro se ampliou, desde os reconhecidos oficialmente até os curandeiros populares.
Posted on: Mon, 22 Jul 2013 18:53:58 +0000

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