Gramsci venceu Nelson Ascher Sem sombra de dúvida Gramsci - TopicsExpress



          

Gramsci venceu Nelson Ascher Sem sombra de dúvida Gramsci venceu. O mais espantoso dos acontecimentos recentes em São Paulo não é a idiotice geral dessas manifestações — salvo do ponto de vista dos que são "do contra" e querem o tal "mundo melhor", que seria possível apostando no "quanto pior, melhor"; não me refiro às que já são diretamente movidas pelo vale-tudo do oportunismo eleitoral. Não. O mais espantoso é a unanimidade da classe média (seguramente da média-média e da média-alta) no seu apoio àqueles que, afinal, são preponderantemente seus filhotes. Há nisso uma certa nostalgia da juventude passada e/ou perdida, um medo de contradizer os "jovens" e, portanto, a juventude, um verdadeiro horror teológico de ser chamado de ou considerado "reaça", e há, ademais, a idéia de que, entre tantos infinitos novos direitos que pipocam diariamente na pauta, está também o de cada nova geração promover seu próprio 68 (eu jamais gostei muito nem sequer do original...). Convém lembrar que pelo menos desde os fins dos anos 90, talvez antes, são justamente as causas menos meritórias, as mais falsas e falsamente propagandeadas, mas também as mais transparentemente "fake" que atraíram o maior, quase unânime apoio da classe média — seguramente da classe média brasileira, mas suspeito que de toda a ocidental. Senão, vejamos: — Quem não apenas acreditou na tal primavera árabe, mas também a recebeu entusiasticamente? — Quem idolatrou Obama desde que o sujeito despontou no remoto horizonte? — Quem compra sem verificar todo o pacote verde e crê que devemos desmontar toda a economia industrial moderna por que é esse tipo de sacrifício que a grande deusa Natureza exige? — Quem é que acha que os gregos, que mentiram a respeito de sua economia para ingressar na União Européia e, uma vez dentro, usaram todos os seus subsídios para construir piscinas em casa e comprar carros esporte, eram/são as vítimas dos cruéis alemães, cuja função, afinal, é trabalhar duro para sustentar o lazer e a zorra alheia? — Quem é que acha que o sujeito do Wikileaks, o soldado que lhe entregou informação confidencial e, agora, o tal do Snowden são heróis combatendo o poder mais horrendo que o universo já viu (a saber, não a Alemanha nazista ou a URSS, não a China, Coréia do Norte, Cuba, sei lá, Albânia, Irã, Arábia Saudita, Iraque do Saddam Hussein etc., mas os EUA, os arrogantes EUA?) — Quem é que, no fundo, acha, como diz um amigo meu, que Fernando Henrique é um vilão de extrema direita, mas o Ahmadinejad é "companheiro", um dos nossos, um herói das causas mais nobres? Eu poderia multiplicar os exemplos, mas a resposta seria sempre a mesma: nossa classe média devidamente orientada ou aconselhada sobretudo pela imprensa diária e seus próceres. Não há uma posição equivocada, uma causa estúpida, uma opinião idiota que não tenha contado com a aprovação e o apoio quase unânimes dessa gente nos últimos 15 anos. E não, não acho que seja má consciência, remorso de supostos privilégios, nada assim. Nossa classe média apoia tudo isso por que é isso que seus professores "transados" (em geral de história, geografia ou português) lhe ensinaram, geralmente em escolas particulares, ao invés de ensinar-lhes as respectivas matérias (nas quais a maior parte dessa classe tiraria notas baixíssimas se os exames fossem sérios). Foi na escola que eles aprenderam a se revoltar obedientemente; a se revoltarem exatamente como os professores "bacanas" (barbudos, com camiseta do Che, coisas assim) mandavam. Foi lá que aprenderam — e seus filhos, netos etc. seguem aprendendo — a importância de serem "do bem", adotando uma visão não moral, mas meramente moralista do mundo. E seguiram aprendendo essas coisas e obedecendo com carinho aos mestres na universidade e depois dela. Essa se tornou a única visão de mundo aceitável hoje em dia, uma visão que é quase sempre pré-condição para ser aceito em qualquer roda ou círculo da classe média ou, vá lá, dessa classe média liberal, iluminada, sempre bem-intencionada, ostentadora de seu imenso altruísmo, que mais ou menos estabelece os pontos de vista hegemônicos. Que uma classe que, não faz tantas décadas assim, caracterizava-se justamente pela multiplicidade polêmica de opiniões, pense hoje em dia de forma tão homogênea é um triunfo notável da divulgação e imposição "soft" ou "light" de todo um conjunto de idéias, ou melhor, de opiniões. Os comunistas jamais conseguiram isso, nem na URSS, nem nos países da Europa Centro-Oriental, salvo, talvez, por alguns poucos anos durante a implantação do regime. O que vemos é mesmo o triunfo de Gramsci. Trocando em miúdos: as manifestações, do jeito como se organizam e agem, são de fato eventos fascistóides. Mas são também, no cômputo final, relativamente desimportantes. O assustador é essa rendição incondicional e, pior, eroticamente lasciva a um conjunto pré-fabricado e indiscutivelmente fechado de opiniões sempre absolutamente "corretas". Adianto, aliás, que tampouco me arrisco a fazer qualquer prognóstico, por mais humilde que seja, pois se trata de uma situação e de um fenômeno inteiramente novos na história humana. ============================================ Tomei a liberdade e tive a extrema audácia de corrigir/tornar mais legível este texto do Sr. Nelson Ascher, que é um escritor monumental. Acho que ele deve ter escrito este texto de seu celular ou com alguma pressa. Apenas transcrevi por extenso as abreviações, dei uma separada em parágrafos e reescrevi algumas frases que estavam um pouco confusas. Post original: facebook/photo.php?fbid=10201319734057411&set=a.1852119944798.2109033.1294747003&type=1
Posted on: Tue, 18 Jun 2013 22:20:04 +0000

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