Hoje a abordagem sobre o “Álbum da semana” vai ser diferente: - TopicsExpress



          

Hoje a abordagem sobre o “Álbum da semana” vai ser diferente: pelo fato do disco em questão se tratar de um compacto 2 em 1 (isso mesmo, são dois álbuns da semana em uma só semana), fica muito difícil manter uma análise com um material mais introspectivo, mais denso e questionador, como costumo estruturar minhas resenhas (ou crônicas, ou textos, como preferir), muito em questão da quantidade de conteúdo que as obras apresentam e o impacto que as mesmas causaram não só na época de seus lançamentos, mas durante as décadas posteriores, principalmente a que seguiu após a concepção de tais trabalhos. Não pretendo de forma alguma diminuir a grandeza destes registros, mas não foi possível apresentá-los de forma diferente. A primeira “dor de cabeça” que encontrei foi logo de cara, no momento de fotografar o álbum. Simplesmente não consegui achar uma forma de fotografar o disco a ponto de mostrar apenas um dos trabalhos, pois uma série de detalhes no CD (a impressão da capa, a distribuição das faixas e por aí vai...) impediam-me de executar tal tarefa, sem contar que “esmiudar” os dois trabalhos levaria um tempão... Tempo este que não possuo (embora esteja de férias da faculdade, mas do trabalho...). Contudo, tal empecilho não pode me impedir de falar sobre a banda que os concebeu, principalmente se levar em conta a importância que tal conjunto possui para a música pesada, mais especificadamente para o Thrash Metal e o Metal Extremo. Tudo começou no início dos anos oitenta, na cidade alemã de Gelsenkirchen, famosa por abrigar o tradicional clube de futebol Schalke 04. Nela, o fã de Heavy Metal e torcedor do clube citado, o jovem Thomas Such, vivia uma vida um tanto normal, para os padrões do local. Famoso polo industrial do país, o município abriga grandes minas de carvão, a principal fonte de renda local, e que fatalmente conduz praticamente toda a massa trabalhadora para sua fonte. Durante o período atuando como mecânico das máquinas que extraiam o carvão do solo (Thomas escolheu a área da mecânica para atuar no setor), o jovem headbanger passava o tempo que tinha de folga frequentando os pubs locais que, vez ou outra, ofereciam algo próximo do que costumava escutar em casa, afinal, desde bem novo o rapaz tinha contato com a música através dos discos antigos de rock que a irmã mais velha possuía. Nessas andanças pelos bares, acabou conhecendo outros jovens que, por ironia do destino ou mero acaso, partilhavam do mesmo gosto musical que o seu. Vale destacar que no início dos anos oitenta muitas regiões da Alemanha ainda engatinhavam rumo a uma cena consolidada como vemos atualmente, e encontrar jovens dispostos a construir esta cena era uma tarefa difícil, mesmo com os já consagrados SCORPIONS e ACCEPT atuando há alguns anos e lançando obras de destaque. Como em qualquer ambiente social, a força da união prevalecia entre a juventude alemã, e lentamente as gotas de suor dos primeiros esforços dos metalheads davam base para o surgimento de grupos novatos que, se pecavam pela falta de técnica e experiência nesses primeiros anos, compensavam pelo espírito que empregavam em sua empreitada. Pouco a pouco, as recém-criadas bandas executavam suas performances para plateias minúsculas, mas que compareciam aos seus shows e promoviam uma grande festa nos botecos e praças, mesmo que de forma nada profissional. Havia nesses locais um sentimento de união e expectativa, algo que ligava tanto os praticantes como os fãs de som pesado de uma forma poucas vezes presenciada, culminado no surgimento de algo fantástico: eram os primeiros passos da tradicional cena do Metal alemão. O princípio, rústico, assim como a subcultura em geral, trouxe uma enxurrada de influências britânicas, principalmente se levar em conta a proximidade dos países e a natural originalidade dos grupos ingleses em geral. A NWOBHM atacava de todas as frentes, e num dado momento tornou-se muito mais raro encontrar entusiastas de qualquer outro estilo musical que não fosse o Heavy Metal. Fanático pela cena inglesa, o objetivo de Thomas a princípio não era executar músicas calcadas no som britânico, mas é inegável que a influência de conjuntos como RAVEN, WITCHFINDER GENERAL, e principalmente o VENOM tomaram (e ainda tomam) forma nos seus trabalhos, trazendo à tona uma afinidade bastante peculiar entre as bandas alemãs mais extremas e o som rápido e agressivo dos grupos britânicos. Ainda em alta naquela época, o Crustpunk era uma realidade constante nos becos europeus, além do famigerado Hardcore, estilo esse que dava seus primeiros passos em meio às sombras da música dos anos oitenta. Tudo isso fazia parte do prolífico universo do Metal germânico, criando uma atmosfera que, coberta por jaquetas de couro e cintos de bala de fuzil resgatava um passado que foi brevemente deixado para trás, desenterrando os horrores da Segunda Guerra Mundial e deixando claro que a nova geração tinha muito mais a dizer do que as histórias das marcas de bala deixadas nas paredes pelas tropas nazistas e aliadas, e ali permaneciam como uma lembrança na memória de uma nação. Foi breve o período em Thomas viu-se distante de seu objetivo. Já amparado pelo companheiro Christian Dudek, indivíduo com quem trocava informações sobre as bandas de Metal, o iniciante na música pesada juntou forças com o jovem guitarrista Josef Dominik, para então seguir rumo ao lançamento de seu primeiro trabalho profissional. O ano era 1984, e aquela altura Thomas já tinha dado cara e forma para o seu trabalho. O SODOM, nome que escolheu para a banda após ouvir muita bronca de sua mãe ao alegar que seu quarto mais parecia com Sodoma e Gomorra, cidades bíblicas que foram destruídas por Deus com raios e enxofre por praticarem uma vida sem regras, ambientadas num mundo de orgias e depravações sem fim, já tinha lançado no mercado as demos WHITCHING METAL (1982) e VICTIMS OF DEATH (1984) que, com o passar dos anos, toraram-se peças raríssimas, disputadas a tapas pelos colecionadores, fazendo com que os próximos trabalhos andariam na mesma linha, contudo com um toque mais profissional. Sendo assim, entre a primeira e a segunda metade dos anos oitenta o mundo presenciaria o lançamento de dois álbuns que, se fugiam da proposta das bandas de Metal Tradicional europeias em geral, proviam um laço com o resto do mundo, pois não é segredo pra fã nenhum dos dias de hoje que durante a mesma época o Thrash Metal dava as caras a partir do efervescente cenário da Bay Area, em São Francisco. Deve-se exaltar nesse espaço a importância que estes registros do SODOM tiveram com a segunda escola de Metal Extremo no mundo inteiro, principalmente a feroz vertente do Black Metal norueguês, a qual o ídolo máximo, Euronymous, era declaradamente fã dos primeiros trabalhos da banda, utilizando-os como grande referência. Assim, sob uma nota técnica podemos resumir princípio da banda germânica da seguinte forma: O EP IN THE SIGN OF EVIL foi lançado no dia 5 de Maio de 1984, apresentando cinco faixas em uma média de vinte minutos. O trabalho foi executado pelos integrantes Witchhunter (Christian Dudek, baterista, creditado como “Atomic Drum Invasion”, falecido em 2008), Grave Voilator (Josef Dominik, guitarrista, creditado como “Dynamic Power Palnt Guitar”) e o líder do grupo, Angelripper (Thomas Such, baixista e vocalista, creditado como “Exploder Black & Red Bass and Bestial Disaster Vocals”), tendo como produtor o ex-guitarrista da banda S.A.D.O., Wolfgang Eichholz e Horst Müller na mesa de som, responsável por obras do HELLHAMMER, CELTIC FROST, IRON ANGEL, RUNING WILD, KREATOR, DESTRUCTION e vários outros. A gravação ocorreu no estúdio Casablanca, em Berlim. Já o segundo trabalho, o full lenght OBSESSED BY CRUELTY foi lançado em Maio de 1986, sob a produção do já citado Horst Müller. Com gravação realizada em dois locais, no estúdio Casablanca e no Hilpoststein Studios, em Nornberg, também na Alemanha, já que um dos representantes da SPV (gravadora da banda na época) não gostou do material gravado no primeiro estúdio, o álbum ficou famoso não só pela crueza apresentada, mas por conter duas versões. Enquanto a primeira gravação, realizada no estúdio de Berlim foi utilizada para promover a banda em solo americano, a segunda, criada no outro estúdio circulou pelo continente europeu, sendo que esta última conta com uma faixa bônus exclusiva, AFTER THE DELUGUE, com participação do guitarrista Uwe “Assator” Christophers. A formação do SODOM à época contava com Algelripper, Whitchhunter e Destructor, que assumiu as seis cordas após a saída de Grave Violator. O guitarrista, aliás, é uma figura marcante no cenário do Thrash Metal alemão, já que o mesmo gravou álbuns magistrais ao lado não só do SODOM, mas também da lenda KREATOR. Uma curiosidade sobre o EP citado era que o mesmo deveria sair como um full lenght. Isso só não ocorreu porque o mesmo representante da SPV detestou o conteúdo da obra, de caráter blasfemo e anticristão, além da gravação crua e abafada. Isso forçou os rapazes a lançarem o conteúdo como um mini CD, deixando a grande estreia para o disco seguinte. Apesar do trabalho posterior ainda seguir a linha do EP, ele se encontra um pouco mais bem trabalhado, com ênfase nos instrumentos, mais destacados que o vocal rouco de Angelripper. Não dá para julgar a banda por completo apenas por estes dois registros, pois o repertório do grupo mudou drasticamente a partir do segundo álbum, PERSECUTION MANIA, introduzindo de vez a vertente Thrash Metal, além de acentuar a linha das bandas de Metal Tradicional. No princípio, o grupo praticava uma mescla de Black Metal com Speed Metal, ambas as influências retiradas das bandas britânicas praticantes de tais estilos. O fato de executarem músicas de tais vertentes na primeira metade dos anos oitenta tornou o conjunto numa das grandes influências do Metal Extremo, visto que tanto o Black como o Speed Metal eram ainda novidades no meio musical. Nas versões relançadas dos álbuns, os mesmos aparecem frequentemente no mesmo pacote, sendo que o lançamento de 2001 apresenta uma relação de faixas desconexa, mais em função da confusão que a gravação do debut causou. Contudo, todas as faixas, com exceção do bônus, estão presentes. Os anos seguintes apenas comprovaram que o SODOM merecia o posto de banda influente, cujo caráter seria posto à prova durante toda sua discografia, constituída de altos e baixos, mas nunca distante de suas raízes. Escrito em 06/07/29013 às 22:19.
Posted on: Sun, 14 Jul 2013 02:42:14 +0000

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