Hoje completo 6 anos de Rondônia. No dia 08/08/2007 desembarcava - TopicsExpress



          

Hoje completo 6 anos de Rondônia. No dia 08/08/2007 desembarcava por essas paragens com uma mochila, roupas, dúvidas, expectativa e muita esperança. Então resolvi publicar novamente meu texto sobre o drama vivido pelos migrantes por esse imenso Brasil. “Minha vida é andar por esse país / pra ver se um dia / descanso feliz / guardando as recordações / das terras por onde passei / andando pelos sertões / e dos amigos que lá deixei. / Chuva e sol / poeira e carvão / longe de casa / sigo o roteiro mais uma estação / e a saudade no coração”[...]. É inspirador iniciar esse texto fazendo uso da canção do grande Luiz Gonzaga que a campos em homenagem aos milhões de migrantes que contribuíram sobremaneira na construção desse país. Nunca me vi na condição de migrante, mesmo no período de cinco anos em que residi no Rio de Janeiro, pois sabia que era uma migração temporária, seria apenas para a conclusão do curso de geografia e tão logo concluído, retornaria ao seio materno do meu inseparável ARACUÍ. JAMAIS PENSEI EM VIVER LONGE DO MEU SOLO SAGRADO! Sempre sonhei em ser professor em Castelo, minha terra natal e dessa maneira propagar minhas ideias e contribuir na formação dos jovens de minha terra. Entretanto, a vida prega surpresas, armadilhas e elas me trouxeram para a Amazônia, nos confins da inóspita selva. Não me arrependo de ter criado as condições que me afastaram de Castelo, se pudesse voltar no tempo, talvez tivesse feito diferente, muito embora mais valha ter a alma doida por lutar pelos seus ideais do que tê-la em descanso por não haver lutado! Essa luta me trouxe para Rondônia e preciso me conformar, mesmo porque, tenho tirado lições positivas em terras alheias, já que essas novas experiências tem me ensinado e muito. O Brasil é um verdadeiro caldeirão étnico: inúmeros grupos étnicos que povoaram nossas terras deixaram a sua marca na paisagem física e cultural e como geógrafo constatar in loco essas experiências me fizeram crescer profissionalmente, e claro, como ser humano também. Aqui, muito bem resolvido profissionalmente, busco há cinco anos recomeçar a vida a partir do zero, o que não é nada fácil para quem tinha na ocasião 27 anos. E muito embora, busque reconstruir uma rede de colegas e amigos que todo final de semana se encontra para nossos bate papo, churrascos e “tira-gosto” sou uma pessoa que, mesmo assim e com uma esposa que amo muito e com três filhos maravilhosos que Deus me deu, não vivo a felicidade em sua plenitude, pois não esqueço jamais meu ARACUÍ e os amigos que la deixe. Não esqueço o Operário FC, os acampamentos de veraneio na “Sombra da Tarde”, o montanhismo, as rodas de violão na praça e na ponte que dá acesso a fazenda do seu Felinto Martins, sempre ao lado do mano querido e dos nossos inseparáveis companheiros e “irmãos” Lucídio, Mauro. Não esqueço os churrascos na casa do meu amigo Geraldo e sua esposa Tânia com a presença constante do meu amigo Claudio (Cutinho e sua esposa Mônica). Segundo os geógrafos especializados em demografia quem passa por essa experiência migratória precisa superar suas consequências socioculturais. Antes de mais nada, devemos considerar que os movimentos migratórios, o ato de migrar, significam a existência de dois problemas: tanto uma ruptura do EMIGRANTE com o seu lugar de origem como a necessidade de reintegração social na condição de IMIGRANTE em seu lugar de destino. O primeiro é marcado pelo distanciamento físico nas relações familiares e de amizade, assim como o abandono das imagens dos LUGARES que marcam o cotidiano das pessoas: bairros, ruas, meu quintal com as águas do rio Castelo fluindo ao fundo e a paisagem do Pico do Forno Grande da janela do meu quarto, etc. O segundo representa a condição de forasteiro, de estranho, de anônimo e consequentemente a necessidade de integração com o novo espaço físico e social. Ruptura e reintegração são processos que acompanham os migrantes, quase sempre junto com conflitos tanto de natureza psicológica como sociocultural. O sentimento de perda em relação ao LUGAR de origem é vivido conjuntamente com o da esperança de conquista em relação ao novo. Seus traços culturais, que se expressam pelas diferentes formas de linguagem (fala, modo de vestir, música etc.), acabam transformando-se no lugar que os recebe, em sinais indetificadores do forasteiro. Negar ou persistir no cultivo dessa linguagem é um dos dilemas que se colocam para mim e obviamente para qualquer migrante. Quem resiste a esses dilemas e conflitos de natureza psicológica e sociocultural sai fortalecido tal como planta no deserto que mesmo vivendo em um ambiente árido e, portanto desfavorável à existência de vida, resiste com garra e persistência, ignorando as adversidades climáticas e mantendo-se viva. Assim vou vivendo onde nunca pensei em viver e na condição em que nunca pensei ser MIGRANTE. E como tal vou escrevendo minha carta sobre o mapa do Brasil e que de um modo ou de outro fica para a história. Não a escrevo tanto com as mãos ou com a cabeça, mas com os pés. Pés que carregam sonhos e projetos, que tropeçam e se ferem nas pedras do caminho, pés que deixam pegadas vivas em todas as estradas e em todas as direções.
Posted on: Thu, 08 Aug 2013 22:34:38 +0000

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