Hoje infelizmente não voltei pra casa com a mesma alegria e - TopicsExpress



          

Hoje infelizmente não voltei pra casa com a mesma alegria e esperança que tive na segunda-feira. Que o Centro do Rio estava lindo, não há dúvidas que estava. Estava repleto de pessoas felizes, cantando, gritando frases de ordem por toda parte. Às vezes parecia que a Presidente Vargas não tinha fim. Era um mar de gente. Uma coisa linda de se ver! À princípio dava vontade de brindar a nós por todo aquele feito: um milhão de pessoas na rua - e não é carnaval. Mas, no meio da multidão, ao olhar pro lado algumas coisas pareciam não ter lógica pra mim: a passeata ora parecia festa à fantasia; com máscaras de festas de todos os tipos, pessoas com rostos completamente cheios de tinta, ora parecia tributo a Guy Fawkes - ok, cada um se manifesta da forma que convém. Existia uma infinidade de cartazes, cartazes nas mãos, nos muros, presos as grades, estava quase tudo lindo até me deparar com um que dizia " Pena de morte aos políticos corruptos". Fiquei chocada, simplesmente não acreditei no que estava lendo. Desde então não li nenhum outro cartaz. Somente avancei. Avancei entre muitas aspas. Além da dificuldade de andar em alguns momentos por conta do número de pessoas, o medo era uma dificuldade para avançar. Haviam rostos desesperados, pessoas correndo, bombas estourando ao fundo. "A PM vai me pegar", era simplesmente a única coisa que eu pensava enquanto voltava. Eu estava fugindo, isso não pode fazer sentido! E não faz! Entrava em ruas que não sabia onde ia dar, o objetivo era sair de lá. Estranho que aqueles becos escuros e sujos do centro nunca me pareceram tão convidativos e na hora foram. Eu me sentia mais segura neles. Continuei seguindo, não sabia onde ia dar, sei que cheguei na Lapa de alguma forma. Ahhh, a Lapa! Tantas recordações, tantas vibrações boas, mas hoje me pareceu mortífera. Não dava pra ficar lá! Precisava ir embora! Soube pelo telefone que na rua estava a PM, o BOPE, o CHOQUE, Cavalaria. Nunca desejei tanto estar em casa, mas pra isso eu precisa ir pra praça xv. Não era uma vontade, era minha única chance de ir pra casa. Bastou chegar na av. Pres. Antônio Carlos para ver os helicópteros sobrevoando, quanto mais me aproximava, mais o barulho aumentava e o medo também. Não havia dúvidas de que a polícia estava lá. Chegando ao terminal soube que meu ônibus não iria mais passar. Entrei na fila de um ônibus que foi sugerido. Todos na fila estavam tensos, olhavam para os lados, o medo era evidente. Os barulhos estavam se aproximaram de nós; o som de coisas quebrando, as bombas. Até que vimos uma massa correndo na nossa direção. O motorista não pensou duas vezes, abriu a porta de trás e as pessoas foram entrando, fechou e foi embora. Ao passar pelo Museu Nacional, vi mais caos. Haviam pessoas com barras de metal, pedras, essas se viraram para o ônibus e nos ameaçaram deliberadamente. Parecia que pretendiam reproduzir os feitos da polícia, só que em nós. Que esse grupo de radicais é uma exceção, não tenho dúvidas, mas causou um grande incomodo me sentir ameaçada por eles. Enquanto o ônibus só lembro de ter visto um cenário de guerra; fogo nas ruas, coisas quebradas, pessoas chorando. Chegando em casa,cade o alívio? Soube da repressão na Lapa, na UFRJ.... Hoje o Estado acabou com toda a fachada democrática e mobilizou todos seus mecanismos de violência contra os jovens e os trabalhadores de forma brutal, desumana. Vai ser difícil dormir essa noite. Difícil pra não dizer improvável.
Posted on: Fri, 21 Jun 2013 06:07:35 +0000

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