Há exatamente dois meses, nosso país entrava em convulsão - TopicsExpress



          

Há exatamente dois meses, nosso país entrava em convulsão social. Vc ainda tá acordado? Não vamos dormir de novo.... Não costumo postar meus textos aqui, mas pensei que, como o assunto é recente, talvez se interessem em ler. Acho que quem ainda estiver politicamente engajado por causa dos protestos de junho vai gostar do que eu escrevi aqui. Se não, se lembre que é apenas uma (humilde) opinião. Espero que gostem. A pergunta-mote do texto era essa: o que move os manifestantes que protestaram, em junho, por todo o Brasil? Tendo como estopim o aumento das tarifas de ônibus em várias capitais do Brasil, as manifestações de junho adquiriram proporções inesperadas quando, em grande medida, a juventude do país se mobilizou por meio das redes sociais. O ativismo dos jovens incentivou e atraiu o apoio a um conjunto difuso de reivindicações que demandava desde melhorias na educação, na saúde, na segurança e no transporte públicos até a reforma da representatividade das instituições democráticas. Embora as exigências tenham sido amplamente variadas, as manifestações foram movidas, primordialmente, pela necessidade de mudança na cultura política do país e de renovação da identidade brasileira. A constituição da identidade brasileira foi objeto de estudo de inúmeros sociólogos, antropólogos e historiadores. Entre eles, Sérgio Buarque de Holanda formulou, em Raízes do Brasil, de 1936, uma teoria sobre a identidade nacional que ainda pode ser considerada contemporânea. Segundo Holanda, a colonização portuguesa promoveu más influências na constituição da identidade brasileira, na qual público e privado se confundem, e o que denomina de lanheza no trato permite o favoritismo e a corrupção. As recentes manifestações expressam, mesmo que inconscientemente, a demanda comum de que essa identidade seja reformulada. De igual forma, o reajuste da função do Estado na sociedade é outra demanda comum dos manifestantes. Em 1958, Raymundo Faoro defendeu a tese, em Os donos do poder, de que a cultura política do país é baseada, essencialmente, no patrimonialismo e na burocratização excessiva do Estado. O patronato político brasileiro não apenas se manteve no poder com a mentalidade de que o público é, ao mesmo tempo, privado, mas também manteve a ordem vigente, ao enfatizar a participação estatal em muitos aspectos da vida cotidiana. As manifestações atuais exigem que essa atuação estatal seja, embora onipresente, desburocratizada, de forma a garantir efetividade dos direitos previstos. Em essência, todas as reivindicações apresentadas, posto que constituam um conjunto difuso de objetivos, demonstram a vontade geral de acabar com o descompasso entre as atitudes e as posições das instâncias decisórias e as necessidades e as exigências efetivas do povo. Nesse sentido, Judiciário, Legislativo e Executivo, em diferentes medidas, foram alvos de reclamações e protestos, pois há um sentimento generalizado de falta de representatividade entre aqueles que elegeram e os eleito; entre aqueles que decidem e os que cumprem decisões. A reforma política, desse modo, insere-se no contexto da busca de mudança na cultura política do país, ao mesmo tempo em que se intenta reinventar ou reformular a identidade nacional. Não por acaso, os protestos foram consentâneos com a Copa das Confederações. Os brasileiros são normalmente conhecidos por ser um povo alegre e apaixonado por futebol. A mobilização maciça ocorreu exatamente nesse período, no qual a atenção da mídia internacional está direcionada para o país, em virtude de a consciência coletiva estar em busca de uma nova identidade, em que não se vinculasse a imagem do brasileiro somente a festas e a esportes populares. Pode-se identificar, de igual forma, uma necessidade inconsciente de autodefinição da juventude atual, que, até o momento, não havia tido a oportunidade de manifestar-se como grupo social politicamente engajado que influenciasse as mudanças importantes. O historiador José Murilo de Carvalho, ao analisar os anos iniciais da República no Brasil, justificou as constantes mobilizações sociais do período em razão da necessidade de “republicanizar a República”. À época, os governos eram formalmente republicanos, porém efetivamente ditatoriais. O imperativo atual de renovação das instituições democráticas expressa-se na busca de mudanças tanto na cultura política quanto na identidade nacional; seria necessário, desse modo, redemocratizar a democracia brasileira. Esse é o principal motivo que moveu os manifestantes nos protestos de junho. As mudanças exigidas tornar-se-ão realidade à medida que essa cultura e essa identidade se redefinam e se renovem. Henrique Douglas Jr
Posted on: Thu, 08 Aug 2013 22:47:46 +0000

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