Jardim Botânico No aniversário de 205 anos do Jardim Botânico, - TopicsExpress



          

Jardim Botânico No aniversário de 205 anos do Jardim Botânico, 13 de junho, participei de mesa organizada pela historiadora Alda Heizer que marcou também a estreia da nova presidente da instituição, Samyra Crespo. Na mesa, coordenada por Henrique Lins e Barros, estavam comigo o economista Sérgio Besserman, a diretora do Museu de Astronomia, Heloisa Bertol e a pesquisadora do Jardim Botânico, Rafaela Campostrini Forzza. Conversa boa, em clima descontraído, contando com a participação da plateia onde estavam muitos dos pesquisadores da casa. Apresentei parte do texto que escrevi para prefaciar o livro de Rosa Nepomuceno, "O Jardim de D. João", lançado em 2007, pela Casa da Palavra, onde aprendi quase tudo que sei sobre a história do Jardim e que resumo aqui neste artigo. Escrito com graça e leveza, a partir de um minucioso levantamento bibliográfico e documental, o livro de Rosa recupera toda a história do lugar, desde o momento em que foi escolhido por D. João VI para ser o horto onde deveriam ser cultivadas as então cobiçadas especiarias. O Jardim Botânico é o único sobrevivente de uma série de jardins surgidos a partir de política implementada pelo ministro de D. João, D. Rodrigo De Sousa Coutinho, com base no trabalho de Manuel de Arruda Câmara: "Discurso sobre a utilidade da instituição de jardins nas principais províncias do Brasil". Era um tempo em que muito da riqueza do mundo se concentrava nos vegetais e a Coroa Portuguesa oferecia prêmios e isentava de impostos quem se dispusesse a aclimatar árvores que pudessem ser úteis ao progresso agrícola do Brasil. O tráfico de plantas, a hoje chamada biopirataria, era então praticado com grande desenvoltura entre as nações. Nesta arte merece destaque o português de excelente lábia, Luis de Abreu Vieira e Paiva, cujo navio naufragou em 1809, perto das Ilhas Maurício, pertencentes à França. Ali, um botânico francês, Pierre Poivre, tinha criado o fantástico Jardim de la Pamplemousse onde cultivava espécies das Américas e da Ásia. Abreu Vieira conseguiu libertar duzentos e ainda levou, à sorrelfa, vinte caixotes de plantas para serem cultivadas no horto do Rio de Janeiro. Foi assim que aqui chegaram, entre outras, a cânfora, o cravo da índia, a canela, a noz-moscada, a manga, a lichia, a cajá e o abacate. Vieram também acácias, nogueiras, abricós, fruta-pão e uma areca cuja muda, D. João fez questão de plantar pessoalmente. Foi a primeira das hoje chamadas palmeiras imperiais que são a marca do Jardim. A essas espécies, vieram se juntar as tantas mudas que Severiano Maciel da Costa mandava da Guiana Francesa, tomada para retaliar a invasão de Portugal pelas tropas napoleônica. Na Guiana, os franceses também cultivavam magníficos jardins e foi de lá que vieram 82 espécies, em 1810. As primeiras sementes de chá chegaram em 1812, junto com as de jasmim-do-imperador cuja flor era usada para perfumar a infusão. Para cultivá-las chegaram ao Rio de Janeiro, em 1814, cerca de 300 chineses de Macau. Pioneiro na plantação do eucalipto, Frei Leandro Sacramento foi o primeiro botânico a dirigir o Jardim, posto que ocupou de 1824 a 1829. Durante o reinado de D. Pedro II, o Jardim Botânico foi anexado ao Imperial Instituto Fluminense de Agricultura, órgão voltado ao desenvolvimento de técnicas agrícolas que criou ali uma escola prática de horticultura. Em vez das pesquisas botânicas, cresceram as roças de milho, feijão, aipim, mandioca, cacau, café, batata, arroz, cana-de-açúcar, fumo e algodão. Com o cultivo da bombonassa trazida do Peru e que produz fibra para o chapéu panamá, chegou a abrigar até uma fábrica de chapéus. A eleição do lugar como espaço de lazer da cidade, facilitada pela evolução dos meios de transportes, fez com que muitas espécies se perdessem pelo avanço dos visitantes colhendo um pau de canela aqui, uma pimenta de cheiro acolá, arrancando uma mudinha para plantar em casa mais adiante, etc. O retorno à vocação original se deu já em plena República, na última década do século XIX, por obra do naturalista-pintor João Rodrigues Barbosa. O grande estudioso das orquídeas brasileiras, homem de temperamento duro, não muito benquisto na Corte, dirigia o Museu Botânico do Amazonas desde 1883. Com a República, voltara ao Rio e, em maio de 1890, assumia a direção do Jardim Botânico, onde trabalharia por 19 anos, dando a ele a feição respeitável que daí em diante ostentaria no mundo das pesquisas botânicas. Rodrigues Barbosa começou tirando as mesas de piquenique que o desonravam e encomendando um mapa do terreno, a partir do qual promoveu a reorganização dos viveiros, canteiros e estufas. Para amenizar os alagamento causados pelas cheias do rio dos Macacos, Rodrigues Barbosa retificou os cursos d´água, abriu valetas, canais e bueiros. Em sua administração foi inaugurada a biblioteca, foram reestruturados os departamentos de pesquisa e o corpo de funcionários, do qual passou a ser figura obrigatória o naturalista-viajante. Várias expedições foram feitas então à Amazônia para fazer coletas. Uma delas trouxe as sementes da vitória-régia. A partir desse renascimento, o Jardim se impôs como um lugar privilegiado, passeio obrigatório de todo visitante ilustre. Einstein, que ali esteve em 25 de março de 1925, deslumbrado com a beleza do jequitibá-rosa, perguntou ao diretor do Jardim Botânico, Pacheco Leão que árvore era aquela. Este lhe disse que o jequitibá, além de ser o gigante da nossa flora, produzia madeira nobre usada na construção de casas, canoas e pontes; sua casca continha tanino e era usada para o fabrico do papel. Quando um jequitibá caía na floresta - completou Pacheco Leão - o estrondo era tremendo. Conta a lenda que, depois de ouvir isto, Einstein abraçou e beijou o jequitibá-rosa.
Posted on: Sat, 15 Jun 2013 12:44:45 +0000

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