"MAS ERA A TI, a ele ou a mim que o homem visitava, às vezes? De quem seria a língua sem nojo que explorava o mais fundo de todos os buracos do corpo dele? Da janela, eu observava as mãos que puxavam apressadas o fecho da calça, os dedos hábeis afastando panos, as narinas sugando o cheiro secreto das virilhas. O grande corpo vivo e móvel do homem, atrás das grades eu queria minhas aquelas mãos e meus aqueles dedos e minhas também aquelas narinas e aquela lingua lambendo o membro dele até que estivesse rijo o suficiênte para que, com muito cuidado, adentrasse gemendo de prazer. Eras tu, era eu ou era ele quem torcia lentamente o corpo até cair de costas sobre a cama, e contornando com as pernas abertas o tronco e a bunda do homem pudesse assim sento-lo dentro de mim, de ti ou dele, como a fêmea deve entir seu macho, cara a cara, jamais como um homem recebe a outro homem, o rosto contra a nuca, nesse amor feito de esperma e pêlos, suor e merda?Atrás da janela dele, eu olhava sem me permitir. Mas nosso orgasmo era o mesmo, e éramos um só, os três, cavalgados por esse homem que esgotávamos com a sede de nossas línguas. Nesse momento, eu conhecia a tua face tão bem quanto a dele e a minha. E não me assustavam os poros abertos e nem me enojava o gosmoso de dentro."(Morangos Mofados- Caio Fernando Abreu)
Posted on: Mon, 07 Oct 2013 04:28:27 +0000
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