Mais um trecho para reflexão retirada do Livro: Como a Não - TopicsExpress



          

Mais um trecho para reflexão retirada do Livro: Como a Não Violência Protege o Estado de Peter Gelderloos “Podemos dizer, resumindo, que a não violência garante o monopólio da violência ao Estado. Os Estados (as burocracias centralizadas, que protegem o capitalismo, preservam a supremacia branca, a ordem patriarcal, e implementam a expansão capitalista) sobrevivem ao assumir o papel de provedor único e legítimo da força violenta em seus territórios. Qualquer luta contra a repressão precisa de um conflito com o Estado. Os pacifistas fazem o trabalho do Estado ao pacificar a oposição[1]. Os Estados, por sua parte, desanimam a militância contida dentro da oposição e incitam a passividade. Alguns pacifistas negam esta mútua relação de dependência ao afirmar que o governo adoraria que eles abandonassem sua disciplina não violenta e se entregassem à violência, ou que o governo, inclusive, encoraja a violência entre dissidentes e que muitos ativistas que incitam a militância são, de fato, provocadores governamentais[2]. Assim, argumentam que são os ativistas militantes que verdadeiramente atuam como fantoches do Estado. Apesar de que, em alguns casos, o governo dos Estados Unidos usou infiltrados para incitar os grupos de resistência a acumular armas ou planejar ações violentas (por exemplo, nos casos do atentado de Molly Maguires e Jonathan Jackson, durante a greve do judiciário[3]), deve-se estabelecer uma distinção crítica. O governo encoraja a violência quando tem certeza de que tal poderá ser contida e não escapará de suas mãos. No fim, induzir um grupo de militantes de resistência a atuar prematuramente ou a cair numa armadilha elimina o potencial para a violência de tal grupo, ao garantir facilmente uma condenação à prisão perpétua, ou permitir às autoridades esquivar os processos judiciais e acabar mais rapidamente com os radicais. De maneira geral, e em quase todos os outros casos, as autoridades pacificam a população e dissuadem rebeliões violentas. Existe uma razão clara para isso. Contrariamente às insensatas reivindicações dos pacifistas de que, de alguma maneira, empoderam a si mesmos ao excluir a maior parte de suas opções táticas, governos de toda parte reconhecem que o ativismo revolucionário não constrangido supõe uma das maiores ameaças de mudar a distribuição de poder na sociedade. Apesar do Estado sempre ter se reservado o direito de reprimir quem deseja, os governos modernos “democráticos” tratam os movimentos sociais não violentos com objetivos revolucionários como ameaças potenciais, mais do que como ameaças reais. Espiam estes movimentos para estarem atentos a seu desenvolvimento, e usam a estratégia do “pau e a cenoura”[4], para conduzir esta massa de movimentos a utilizar canais de luta totalmente pacíficos, legais e ineficientes. Os grupos não violentos poderiam estar sujeitos a receber uma surra, mas eles não são alvos a serem eliminados (exceto por governos retrógrados ou enfrentando um período de emergência que ameace sua estabilidade). Por outro lado, o Estado trata os grupos militantes (aqueles mesmos grupos que os pacifistas consideram ineficientes) como ameaças reais e tenta neutralizá-los com uma contrainsurgência altamente desenvolvida e operações de guerra interna. Centenas de sindicalistas, anarquistas, comunistas e agricultores militantes foram assassinados durante as lutas anticapitalistas do final do século XIX e do início do século XX. Durante as últimas gerações de lutas de libertação, paramilitares apoiados pelo FBI assassinaram sessenta ativistas e partidários do Movimento Indígena Americano (AIM) na reserva Pine Ridge, e o FBI, a polícia local e agentes pagos assassinaram dezenas de membros do Partido Panteras Negras, da República Nova África e do Exército de Libertação Negra, assim como de outros grupos[5].” “As táticas tradicionais das manifestações, nas quais os manifestantes concentram sua atenção, são marchas, cartazes e formas de resistência “passiva” tais como sentadas [a ênfase é minha]. Os elementos extremistas podem empreender táticas mais agressivas que incluiriam vandalismo, assédio físico contra delegados governamentais, impedimento da passagem, formação de cadeias e escudos humanos, artefatos explosivos lançados contra unidades policiais montadas e o uso de armas (por exemplo, projéteis e bombas caseiras)[11]. O grosso do memorando se centra nesses “elementos extremistas”, claramente identificados como ativistas que aplicam uma diversidade de táticas, em oposição aos ativistas pacifistas, que não são identificados como uma ameaça importante. De acordo com o memorando, os extremistas mostram os seguintes rasgos que os identificam: Os extremistas podem estar preparados para se defender das forças oficiais da lei no transcurso da manifestação. As máscaras (máscaras de gás, óculos submarinhos, panos, máscaras com filtro e óculos de sol) podem servir para minimizar os efeitos do gás lacrimogêneo e do gás de pimenta, e também para ocultar identidades. Os extremistas também podem usar escudos (tampas de contêiner, lâminas de plexiglás, rodas de caminhão etc.) e equipamentos de proteção corporal (várias camadas de roupas, toucas e capacetes, acessórios esportivos, colete salva-vidas etc.) para se proteger durante a manifestação. Os ativistas também podem usar técnicas de intimidação como filmar e rodear os policiais para impedir prisões de outros manifestantes. Depois das manifestações, os ativistas normalmente são relutantes em cooperar com as forças oficiais da lei. São raras as vezes que carregam algum tipo de identificação e geralmente se negam a facilitar qualquer informação sobre si mesmos e o resto dos manifestantes [...] As forças oficiais da lei deveriam estar atentas aos possíveis indicadores de protestos ativistas e transmitir à Força Tarefa Conjunta de Terrorismo [Joint Terrorism Task Force] do FBI mais próxima qualquer ação que seja potencialmente ilegal[12]. Não é triste que o indicador mais certeiro de que uma pessoa é “extremista” seja sua boa vontade de se defender dos ataques da polícia? E qual é a responsabilidade que têm os pacifistas criando esta situação? Em qualquer caso, ao negar e, inclusive, denunciar ativistas que usam uma diversidade de táticas, os pacifistas tornam estes extremistas mais vulneráveis à repressão que os agentes policiais claramente querem usar contra eles. E como se não fosse suficiente para desarticular a militância e para condicionar os dissidentes a praticar a não violência através da violenta repressão dos indisciplinados, o governo também injeta pacifismo nos movimentos rebeldes de maneira mais direta. Dois anos depois de invadir o Iraque, o exército dos Estados Unidos foi pego interferindo uma vez mais nos meios de comunicação iraquianos (a interferência prévia incluiu o bombardeio hostil dos meios de comunicação não alinhados, a retransmissão de histórias falsas e a criação de uma linguagem árabe de organização da mídia completamente nova, como a al-Hurriyah, que foi conduzida pelo Departamento de Defesa como parte de suas operações de manipulação psicológica). Desta vez, o Pentágono pagou para introduzir artigos nos jornais iraquianos apelando para a unidade (contra a insurgência) e a não violência[13]. Os artigos foram escritos como se os autores fossem iraquianos, numa tentativa de frear a resistência militante e manipular os iraquianos para aderir a formas diplomáticas de oposição que poderiam ser mais facilmente cooptadas e controladas. O uso seletivo do pacifismo no Iraque por parte do Pentágono pode servir como uma parábola das amplas origens da não violência. Ou seja, esta provém do Estado. Toda população conquistada é educada na não violência através de suas relações com uma estrutura de poder que ostenta um monopólio do direito ao uso da violência. É a aceitação, através do desempoderamento, da crença estatal de que as massas devem ser despojadas de suas habilidades naturais para a ação direta - incluindo a propensão à autodefesa e ao uso da força -, ou, se não, irão descender ao caos, numa espiral de violência, oprimindo-se e atacando-se uns aos outros. Esta é a segurança do governo, e a liberdade escravizada. Somente uma pessoa treinada para aceitar ser regulada por uma estrutura violenta de poder pode realmente questionar os direitos de alguém e sua necessidade de se defender de uma maneira contundente da opressão. O pacifismo também é uma forma de impotência aprendida, e, através dele, aqueles que dissentem sustentam a bondade do Estado encarnando a ideia de que não devem usurpar poderes pertencentes exclusivamente a ele (tal como a autodefesa). Desta forma, um pacifista se comporta como um cão domesticado a golpes pelo seu amo: ao invés de morder quem o ataca, esconde o rabo demonstrando-se desarmado, e aguenta as batidas com a esperança de que parem.”
Posted on: Thu, 17 Oct 2013 23:55:17 +0000

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