Manaus, 28 de novembro de 2013. O platô. O tempo passa, - TopicsExpress



          

Manaus, 28 de novembro de 2013. O platô. O tempo passa, inexorável, no talvegue do rio da vida em direção, sempre, ao grand finale, a morte de todo ser e tudo que é orgânico. O caboclo não teme. Forte, rema, subindo o rio amarelo, barrento, acostumado, seus braços, com essa espécie de extensão, os remos, à superação doída e dura, diária e constante, sabendo que de sua persistência e força de vontade, nessa luta desigual entre ele e o rio, depende a vida de sua esposa e mulher, e, do filho em sua barriga, que jaz no fundo da canoa rasa. Quando em vez um banzeiro mais forte jogava água para dentro. Ela mesmo cansada do jeito que estava, com uma cuia, tentava esvaziar a canoa. A tarde caíra rápida anunciando um anoitecer prematuro, célere e inesperado por conta das nuvens cinzas e negras, que se formara desde logo sobre a cabeceira do rio, lá longe. A correnteza aumentara sua velocidade e sua força praticamente duplicara. A mulata gemia baixinho. O parto iminente a derrubara com o romper da bolsa, havia algumas horas. Ela sem força sentara, exausta, à poltrona, surrada, mas, ainda servindo. Ele apressara em carrega-la até a canoa. Colocou-a sobre uns panos que forravam o fundo do barco. Sentou-se na proa e começara a remar sabendo que pelo duas horas seriam necessárias para que chegasse até o posto médico na vila mais perto. A senhora, dissera-lhe a médica da região, na última consulta que fizera, vai ganhar seu bebê somente daqui a dois meses. Procure descansar e quando faltar um mês venha para cá. Vai dar tudo certo. Três anos antes ele estava a serviço, na vila, do coronel e comprava certos artigos, medicamentos, alimentos, pavios, lamparinas, aladins, espingardas, munição, facões, facas, e uma série de necessidades para o seringal. Depois se dirigira a um mercadinho, uma taberna, lugar que vendia de tudo e estava na terceira cerveja quando a vira, passando na rua, uma passarela, de madeira, mais alta que o chão, que era prevenção para quando viesse a enchente as gentes pudessem andar em seco. Ela usava um vestido de chita, solto, que na andança marcava o corpo, pequeno, mas, cheio de curvas. Ele correra até a porta e mirara dentro de seus olhos. Ela baixara a cabeça e passara por ele sem responder aos galanteios, dera, apenas um ligeiro olhar e um meigo e curto sorriso mostrando os dentes alvos. - Patrão, dissera ele para o coronel, vou me casar e preciso de um lugar para construir uma casinha. O coronel cedera-lhe um lugar, esplêndido. Era um platô, reto e descampado, até encontrar a floresta bruta, isto na parte traseira e o barranco, passagem do rio e da vida vindo da frente da casa. Escolhera construir perto de uma árvore bem brande seu ninho de amor, como ele dizia. Era uma casa pequena, sob palafitas, uma escadinha, na entrada, sala de visita, cozinha, quarto bem grande. O banheiro ficava fora da casa e toda vez que chovia ele pensava em fazer um banheiro senão dentro da casa, talvez o mais perto possível, para que sua amada se sentisse mais confortável. Ela aceitara o pedido e logo casaram e estaleceram-se no platô. O riacho ficava do lado direito de quem chegava. A água era fria, às vezes, muito gelada, via-se os peixes nadando, em suas águas bem claras e transparentes. Tinham de tudo, tudo necessário para viver. Goiabeiras, mangueiras, cajueiros, laranjeiras, limoeiros, ingazeiros, macaxeiras, melancias, produtos de horta e alguns bicos de galinha e patos. Um verdadeiro e trabalhoso Éden. Um pouco longe da praticidade e segurança de uma cidade é verdade, mas, ali dispunha de um lugar de descanso. Remava firme. As ondas estavam mais fortes e altas. O vento fazia som alto ao passar pelas folhas e galhos das árvores. Remava contra a correnteza e portanto mais perto da margem onde ela era mais fraca. Era como se fosse noite. A pouca claridade pouca coisa deixava ver. Nem ele nem ninguém sabe ao certo o que aconteceu. O fato é que a canoa virara e nunca encontrou-se a canoa e qualquer vestígio da mulata. A cabocla desaparecera junto com seu rebento. Ele segurara um galho e pela árvore chegara até o barranco e fazendo um caminho inverso ao que fazia na canoa, chegara até o platô. Sentara-se no banquinho que construíra para sentado com sua amada contemplarem o rio, o por do sol, e, sob a chuva que caía deixou suas lágrimas escorrerem por sua face.
Posted on: Thu, 28 Nov 2013 05:26:20 +0000

Trending Topics



v>
Default Mkanda mzima jinsi Polisi walivyohangaika na Joshua
Is there anybody out there who would like to complete their first

Recently Viewed Topics




© 2015