Manifestos de Junho: Da não violência e porque nada muda Luciano - TopicsExpress



          

Manifestos de Junho: Da não violência e porque nada muda Luciano Alvarenga Uma das questões que chama a atenção nas manifestações de junho por todo o Brasil foi o insistente apelo dos manifestantes para que tudo fosse feito em ordem, sem violência, em paz. E os gestos e atitudes de violência praticada por poucos e ínfimas minorias receberam destaque fortemente negativo da grande imprensa e de algumas lideranças do movimento. O Brasil é um pais com certa cultura de grandes manifestações, pelo menos desde a redemocratização com as Diretas Já, Fora Collor e agora a que acabamos de acompanhar. Temos pelo menos uma grande manifestação a cada década e meia, não é pouco em comparação com outros países democráticos minimamente comparáveis com o nosso. Sem levarmos em conta as imensas greves nos anos 1970 e em parte dos anos 1980. Desconsiderando o Fora Collor em que parte das elites e a grande imprensa apoiaram a derrubada do presidente, nas Diretas o movimento popular foi derrotado pelas forças conservadoras no congresso nacional. Observe-se que os próprios líderes civis e políticos das diretas em nenhum momento cogitaram, publicamente, jogar a massa do povo contra o congresso nacional em função da frustrante votação pelas eleições indiretas. Caso as lideranças daquele massivo movimento tivessem se recusado a aceitar a derrota no congresso e levado a questão para o confronto nas ruas, certamente teríamos tido uma situação de ruptura em que o povo tinha grandes chances de vitória e inédito aprendizado político. E por que não foi feito? Medo. Do endurecimento do regime, por um lado, e medo da massa e o que poderia acontecer caso houvesse uma ruptura em que as ruas ditariam os rumos das coisas. Os líderes do movimento democrático tinham consciência que a derrota das diretas não significava a sua derrota. Eles eram a próxima geração a assumir o poder. De uma maneira ou outra todos eles estariam no poder 10 anos depois. A esquerda 20 anos mais tarde com o PT. Essa é uma das razões para a lentidão das mudanças no país. As lideranças, especialmente de esquerda e democrática, incitam a massa nos momentos críticos em que isso é necessário, até o ponto em que seja possível mudar, mas sem que haja ruptura. A energia da massa, sua capacidade de revolucionar por meio de seu peso, força e violência caso ela seja direcionada a isso, nunca é usada, nem instrumentalizada. A direita e a esquerda tem medo de fazer isso, a direita por motivos óbvios, e a esquerda por que não é revolucionária. A reação que não houve ao golpe militar em 1964 é outro momento marcante de apatia das lideranças de esquerda e democrática. É o que estamos vendo agora com características particulares. Não é a esquerda que esteve à frente dos manifestos de junho, mas por outro lado, a própria população envolvida, jovem em sua maioria, repudia a violência inconscientemente reprimindo o medo do que não se sabe exatamente possa acontecer se essa violência vir à tona. Diante da imensa violência que sofrem as populações pobres e jovens nas cidades, perpetradas pelas forças do capital e das finanças, a barbárie em que as pessoas são obrigadas a viver todos os dias, isto é, diante da imensa violência impingida institucionalmente pelo poder político e econômico, as ruas paradoxalmente respondem com gestos que repudiam a violência. Como se fosse possível alguma mudança realmente transformadora sem violência, especialmente num quadro social de extrema barbárie em que a sociedade brasileira está mergulhada. As linhas de ação já em andamento no congresso nacional e pelas lideranças políticas em geral, incluídas nelas sindicatos vinculados ao status quo, indicam que a não violência das manifestações foi o sinal para manter tudo como está ou mudar apenas aquilo que não muda nada. Entretanto, caso as mudanças ansiadas não sejam satisfatoriamente atendidas, essa situação pode resultar num estrondoso sentimento de impotência e frustração de uma geração inteira de novos atores sociais, confirmando mais uma vez que o país não tem jeito e a culpa, novamente, do povo incapaz e inepto.
Posted on: Sat, 13 Jul 2013 23:17:26 +0000

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