Mariana Whitehead Guimarães Olá, estou postando um relato muito interessante. Discordo dela no seguinte: creio ser possivel sim ter aquele parto idealizado, talvez não em plenitude, mas com 80/90% do idealizado. Como não sei as circunstâncias que envolveram o parto dela, posso apenas inferir que talvez, talvez, o obstetra não estivesse plenamente preparado, ou mesmo ela, não estou julgando, apenas inferindo. Gostei muito do relato pq traduz a realidade pela qual muitas parturientes já passaram e ainda vão passar. Acho muito pertinente a parte em que ela refere a mágoa, a ferida, até mesmo podendo vir do companheiro. E muitas vezes isso acontece sem que a equipe que está partejando, assistindo, enfim participando deste momento único, perceba que tal se sucedeu, por isso a devolutiva de como a paciente sentiu-se é fundamental para melhorar cada vez mais o participar do trabalho de parto, parto e pós parto. Por sugestão da Otilia B Neo, estou enviando um texto que mandei na materna e que depois acabei encaminhando para a lista de Campinas. Quero dividir com as gestantes as minhas impressões sobre o parto ideal e o parto real: "Quando eu busquei um atendimento humanizado, eu sabia que não estava comprando um parto. Parto não se compra. Parto não se vende. Eu busquei uma equipe humanizada com o intuito de receber um atendimento honesto, baseado em evidências científicas, para que eu fosse operada apenas em caso de necessidade. Eu sempre soube que estar com uma obstetra com uam taxa de cesarianas dento do recomendado pela OMS não me garantiria um parto lindo e natural, e sim, um atendimento justo. Não acho que médico nenhum, nem cesarista e nem humanizado, tem o direito de magoar, ferir, desrespeitar uma mulher que está deitada em plena maca cirurgica. Ninguém tem esse direito. Nem o marido. Se houve um momento assim, esse feedback a equipe merece ter. Mesmo que seja por uma carta escrita a mão e enviada via correio mesmo. Um email.. Uma conversa, talvez? Mas o feedback PRECISA existir. Qdo alguém vem me perguntar de parto, o que eu sempre faço questão de falar é que não adianta ficar vendo video de parto no youtube, não adianta ficar vendo fotos, não adianta só ler relatos, pq muitas vezes o desabafo não aparece no texto. Os vídeos são editados. E ninguém vai divulgar fotos que não gosta. E por isso acho sempre muito muito muito importante participar de grupos presenciais, onde se discutem ocorrências, casos, frustrações. Acho importante planejar o parto. Mas uma vez feito o plano de parto, uma vez escolhida a equipe em que a mulher confia que irá atendê-la de acordo com as suas expectativas (e isso nao significa que a equipe vá garantir o parto, mas que vai atuar com coerência dentro de uma linha), a gestante tem que desapegar do parto. Desapegar mesmo. Mandar aquele parto idealizado pra longe. Manter ele nos sonhos. E ter consciência de que ele é um sonho. Porque, por mais que ocorra tudo bem, por mais que mãe e bebê fiquem bem, quero saber qual foi a mulher aqui dessa lista que teve um parto exatamente como sonhou e planejou? Sim, pode acontecer? Claro que pode. Mas elas são minoria aqui nessa lista imensa de mulheres que estão em busca de um nascimento digno e tratamento respeitoso. Quantas não sonharam com um PD calmo e tranquilo e tiveram um PD hard core? Quantas não sonharam com um PD e acabaram indo para o hospital? Quantas planejaram um parto hospitalar natural e acabaram tomando analgesia? Ou tiveram um forceps? Ou um vácuo extrator? Quantas não queria simplesmente um parto, seja lá como fosse, e acabaram em cesárea? Ter uma equipe humanizada não é garantia de parto calmo, lindo e realizado como idealizado. Na minha concepção, ter uma equipe humanizada é única e exclusivamente a garantia de um atendimento médico baseado em evidências científicas. E se não foi isso que a gestante recebeu, ela precisa conversar com a equipe e colocar pra fora. Ter uma doula não é garantia de saber lidar bem com a dor, de ficar sem analgesia. Ter uma doula é ter garantia de ter um ombro amigo na hora do aperto. E se não foi isso que a gestante recebeu, essa doula precisa saber que não prestou o serviço de acordo com o que foi combinado. Ter um obstetra humanizado não garante que a pessoa não vai precisar de uma cesárea. Ter um pediatra humanizado não garante que um bebê vá nascer 100% bem e não vá precisar de intervenções ou internação. Acho que é grave quando se diz por aí que parto humanizado é marketing, é pacote pra médico ganhar dinheiro... pq olha, eu já fiz e refiz contas... Sai muito mais lucrativo ser um cesarista. Enfim... fica o meu recado para as gestantes: desapeguem do idealizado. Planejem os seus partos, façam seus planos, documentem, discutam com doula e obstetra. E aí frequentem grupos presenciais, conversem sincera e longamente com mulheres que já pararam. Façam a parte de vocês. Entender que o melhor parto para a díade mãe e bebê é o parto mais adequado naquele momento, e não o idealizado durante uma vida não é tarefa fácil. Mas quando se consegue... É uma libertação. Mari, que sonhou com um trabalho de parto no aconchego do lar, com a presença da doula e ida para o expulsivo no hospital, com um parto totalmente natural e sem drogas, calmo e romântico. E que teve um parto induzido, punk hard core, com muito grito, com muita sujeira que havia debaixo do tapete sendo jogada pra cima a cada contração, com analgesia e ocitocina. Mas que foi exatamente o parto que precisava ter
Posted on: Fri, 02 Aug 2013 22:38:14 +0000