NOTAS SOBRE TAVIRA Cheguei finalmente à vila da minha - TopicsExpress



          

NOTAS SOBRE TAVIRA Cheguei finalmente à vila da minha infância. Desci do comboio, recordei-me, olhei, vi, comparei. (Tudo isto levou o espaço de tempo de um olhar cansado). Tudo é velho onde fui novo. Desde já — outras lojas, e outras frontarias de pinturas nos mesmos prédios — Um automóvel que nunca vi (não os havia antes) Estagna amarelo escuro ante uma porta entreaberta. Tudo é velho onde fui novo. Sim, porque até o mais novo que eu é ser velho o resto. A casa que pintaram de novo é mais velha porque a pintaram de novo. Paro diante da paisagem, e o que vejo sou eu. Outrora aqui antevi-me esplendoroso aos 40 anos — Senhor do mundo — É aos 41 que desembarco do comboio [indolentão?]. O que conquistei? Nada. Nada, aliás, tenho a valer conquistado. Trago o meu tédio e a minha falência fisicamente no pesar-me mais a mala... De repente avanço seguro, resolutamente. Passou roda a minha hesitação Esta vila da minha infância é afinal uma cidade estrangeira. (Estou à vontade, como sempre, perante o estranho, o que me não é nada) Sou forasteiro tourist, transeunte. E claro: é isso que sou. Até em mim, meu Deus, até em mim. (F Pessoa)
Posted on: Fri, 20 Sep 2013 02:50:48 +0000

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