Na minha opinião, o editorial é pior do que ruim. É desonesto. Qual é o truque? A Globo se coloca no mesmo saco que o Estadão - coloca-se como "apoiadora de primeira hora" do governo militar. Apoiadora de Castelo Branco contra João Goulart. Isso desfoca completamente o fato de que a Globo apoiou pesada, ativa e completamente a fase mais negra da ditadura brasileira - os anos sob o AI-5. Apoiou pesada, ativa e completamente o regime militar na fase da tortura, do DOI-CODI. Aliás, é NESSA fase, e não na primeira que o apoio da Globo ganhou seus contornos característicos. É nessa fase, e não na primeira, que ela se torna o braço direito do regime militar. É nessa fase, e não na primeira, que Amaral Neto puxava o saco dos militares enquanto o pau-de-arara comia solto na rua Tutóia. Faltam, nesse editorial safado (não há outra palavra para esse TIPO de desonestidade) muitos nomes. Ficaria bem melhor se, ao invés de falar tanto em João Goulart, o editorial tivesse citado, por exemplo, uma única vez que fosse, o nome de Emílio Garrastazu Medici. A Rede Globo não foi simplesmente uma "apoiadora de primeira hora" do regime militar. Na forma e com o tamanho que tem hoje, foi CRIA do regime militar - eleita para ser um gigante no reino das comunicações televisivas, que apenas engatinhavam em 64. Se fosse pela participação do Globo no golpe, nem sequer falaríamos hoje sobre o assunto. Se falamos, é porque Roberto Marinho foi parceiro dos militares na hora mais dura do regime. Se é preciso reconhecer que o núcleo de dramaturgia da Globo teve papel fundamental no combate ao regime e na resistência a ele, e preciso também não dourar a pílula, e contar as coisas como elas foram. A Central Globo de Jornalismo foi o braço direito da ditadura militar durante vinte anos. Se querem falar do assunto, falem por extenso.(Jota Vê)
Posted on: Sun, 01 Sep 2013 11:35:28 +0000