Nas entrelinhas do discurso! “Minhas amigas e meus amigos, - TopicsExpress



          

Nas entrelinhas do discurso! “Minhas amigas e meus amigos, todos nós, brasileiras e brasileiros, estamos acompanhando, com muita atenção, as manifestações que ocorrem no país. Elas mostram a força de nossa democracia e o desejo da juventude de fazer o Brasil avançar.” - Tudo bem! Todo discurso precisa de uma introdução e essa é a introdução. - Não foi tão mal, mas o “desejo da juventude” poderia ser generalizado como “desejo da Nação”. A falta dessa generalização reduz a legitimidade que o governo dá aos movimentos. Se aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas. Mas se deixarmos que a violência nos faça perder o rumo, estaremos não apenas desperdiçando uma grande oportunidade histórica, como também correndo o risco de colocar muita a coisa a perder. - Dizer que há limitação econômica, frente aos gastos realizados para a Copa do Mundo, é indício de que o recado das movimentações não foi entendido. Além disso, diante da carga tributária brasileira, esse argumento jamais poderia ter sido dito em um pronunciamento voltado para a Nação Brasileira, especialmente neste momento. - Quanto à questão da violência, o governo pecou gravemente em dar tanta atenção a ela, pois, como já se sabe massivamente, “é uma minoria que não representa o movimento.” Digo isso agora, pois veremos essa “perca de tempo” em mais de 1/3 do discurso. Como presidenta, eu tenho a obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar com todos os segmentos, mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem, indispensáveis para a democracia. O Brasil lutou muito para se tornar um país democrático. E também está lutando muito para se tornar um país mais justo. - Ainda estamos no marasmo da introdução, mas convinha dizer “tornar um país justo”, e não “tornar um país mais justo”. Mais um indício de que a causa do movimento não foi bem entendida, ou de que não se percebeu o seu peso. Não foi fácil chegar onde chegamos, como também não é fácil chegar onde desejam muitos dos que foram às ruas. Só tornaremos isso realidade se fortalecermos a democracia - o poder cidadão e os poderes da república. - Introdução... com uma dose de “água fria”. Poderia ter dito que “não será fácil chegar onde desejamos”, mas resolveu dizer que “não é fácil chegar onde desejam.” Os manifestantes têm o direito e a liberdade de questionar e criticar tudo. De propor e exigir mudanças. De lutar por mais qualidade de vida. De defender com paixão suas idéias e propostas. Mas precisam fazer isso de forma pacífica e ordeira. - Ainda estamos no 1/3, que fala sobre a violência que não representa o movimento. Objetividade deficiente. O governo e sociedade não podem aceitar que uma minoria violenta e autoritária destrua o patrimônio público e privado, ataque templos, incendeie carros, apedreje ônibus e tente levar o caos aos nossos principais centros urbanos. - Nesse momento, achei que estava vendo um déjà vu... mas ainda era a introdução. Essa violência, promovida por uma pequena minoria, não pode manchar um movimento pacífico e democrático. Não podemos conviver com essa violência que envergonha o Brasil.Todas as instituições e os órgãos da Segurança Pública devem coibir, dentro dos limites da lei, toda forma de violência e vandalismo. Com equilíbrio e serenidade, porém, com firmeza, vamos continuar garantindo o direito e a liberdade de todos. Asseguro a vocês: vamos manter a ordem. - Até onde vai a introdução? - Além disso, convém dizer que a responsabilidade por manter a ordem é das forças de segurança pública que, por mais que se esforce, parece não estar aparelhada adequadamente (meios humanos e materiais) para dar conta de uma minoria. Situação bastante sugestiva frente aos apelos do movimento, o de “mais segurança”. Brasileiras e brasileiros, as manifestações dessa semana trouxeram importantes lições: as tarifas baixaram e as pautas dos manifestantes ganharam prioridade nacional. Temos que aproveitar o vigor destas manifestações para produzir mais mudanças que beneficiem o conjunto da população brasileira. - Ufa. O discurso começou. Vamos ouvir o que a Chefe do Poder EXECUTIVO irá FAZER (note a proximidade entre as duas palavras destacadas) frente a essa situação. A partir daqui ela mostrará a sua liderança e o seu compromisso com o Brasil. A minha geração lutou muito para que a voz das ruas fosse ouvida. Muitos foram perseguidos, torturados e morreram por isso. A voz das ruas precisa ser ouvida e respeitada. E ela não pode ser confundida com o barulho e a truculência de alguns arruaceiros. Sou a presidenta de todos os brasileiros. Dos que se manifestam e dos que não se manifestam. A mensagem direta das ruas é pacífica e democrática. Ela reivindica um combate sistemático à corrupção e ao desvio de recursos públicos. Todos me conhecem. Disso eu não abro mão. - Caraca! Voltamos para a introdução??? - Promoção pessoal também não cai bem nessa hora, especialmente se aplicarmos a analogia nas situações (atual e da Ditadura) e tentar identificar em que parte das movimentações (se da minoria baderneira ou da maioria pacífica) a Presidenta preveria participar. - Outro erro, além de ainda estar na introdução, é a de falar de passado enquanto a Nação quer ouvir sobre seu futuro. Esta mensagem exige serviços públicos de mais qualidade. Ela quer escolas de qualidade; ela quer atendimento de saúde de qualidade; ela quer um transporte público melhor e a preço justo; ela quer mais segurança. Ela quer mais. E para dar mais, as instituições e os governos devem mudar. - Achei que ela não iria chegar, mas chegou! - Daí vem a pergunta natural... qual serão os passos para chegar lá? Irei conversar, nos próximos dias, com os chefes dos outros poderes para somarmos esforços. Vou convidar os governadores e os prefeitos das principais cidades do país para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos. O foco será: primeiro, a elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana, que priviligie o transporte coletivo. Segundo, a destinação de 100% do petróleo para a educação. Terceiro, trazer de imediato milhares de médicos do exterior para ampliar o atendimento do SUS. - “conversar com os chefes dos outros poderes”... ótimo. O óbvio precisa se dito as vezes. - “convidar os governadores e os prefeitos... para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços público”... ótimo. Desde que as melhorias saiam do discurso. - “elaboração do Plano Nacional de Mobilidade Urbana”.... pena que esteja ainda na fase de elaboração, mas seria pedir demais para a classe política brasileira que ela “acordasse” com a solução pronta. - “destinação de 100% do petróleo para a educação”... uma solução, ao menos, estava na manga. Precisa sair do papel. - “trazer de imediato milhares de médicos do exterior”... lamentavelmente, o governo resumiu a situação caótica da saúde como sendo a falta de mão-de-obra, como se houvesse hospitais e leitos espalhados em toda a parte, só faltando médicos para atender. Existem hospitais para acomodá-los? Além disso, trata-se de uma solução polêmica até no nível político. A impressão que deu é que os interesses políticos prevalecem até no momento de crise... Anuncio que vou receber os líderes das manifestações pacíficas, os representantes das organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores, das associações populares. Precisamos de suas contribuições, reflexões e experiências. De sua energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua capacidade de questionar erros do passado e do presente. - O clamor da Nação Brasileiro é óbvio: “mais Saúde, Segurança, Educação e Transporte, serviços públicos de qualidade”. Se for preciso, que se aproveite e faça a Reforma Tributária e uma Reforma Política, mas não percam tempo (ou ganhando tempo) tentando saber se “é isso mesmo que querem?”. - “Precisamos de suas contribuições, reflexões e experiências. De sua energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua capacidade de questionar erros do passado e do presente.”. Seria isso um atestado de incompetência (de não saber o que fazer) ou pura demagogia? Brasileiras e brasileiros, precisamos oxigenar o nosso velho sistema político. Encontrar mecanismos que tornem nossas instituições mais transparentes, mais resistentes aos malfeitos e acima de tudo mais permeáveis à influência da sociedade. É a cidadania, e não o poder econômico, quem deve ser ouvido em primeiro lugar. - “oxigenar o nosso velho sistema político”... descreveu como se o sistema político estivesse na UTI. Se isso foi um recado para dar início a Reforma Política, ótimo. Só espero não estar sendo otimista demais. - Quanto ao restante, está na linha certa. Quero contribuir para a construção de uma ampla e profunda reforma política, que amplie a participação popular. É um equívoco achar que qualquer país possa prescindir de partidos e, sobretudo, do voto popular, base de qualquer processo democrático. - Não entendo de onde a Presidenta tirou a ideia de que alguém sugere prescindir do voto popular? Parece até um mecanismo de dispersão da atenção do telespectador (estou exagerando? possivelmente!). - Quanto a prescindir de partidos, acho que é perfeitamente cabível e necessário quando os partidos “não representam os interesses da Nação Brasileira”. Melhor não tê-los. Temos de fazer um esforço para que o cidadão tenha mecanismos de controle mais abrangentes sobre os seus representantes. Precisamos muito, mas muito mesmo, de formas mais eficazes de combate à corrupção. A Lei de Acesso à Informação, sancionada no meu governo, deve ser ampliada para todos poderes da república e instâncias federativas. Ela é um poderoso instrumento do cidadão para fiscalizar o uso correto do dinheiro público. A melhor forma de combater a corrupção é com transparência e rigor. - A Presidenta acertou o discurso na última palavra, pois a falta de rigor na punição de corruptos é um dos principais, senão o principal, motivo dessa decadência. - A Presidenta é líder do executivo e, por isso, é a pessoa ideal para apresentar na Câmara e no Senado as deficiências legais que impedem o executivo de sanar as carências da população. O que eu esperava ouvir era que o governo (ou bancada governista) irá apresentar Propostas de Lei, em 60 dias, que suportariam as reformas que a Nação exige. - O Executivo pode não intervir no Legislativo ou Judiciário, mas todos devem seguir um rumo coerente, orquestrado por alguém que, supostamente, representa os anseios da Nação, atribuição natural de um presidente. Em relação à Copa, quero esclarecer que o dinheiro do governo federal, gasto com as arenas, é fruto de financiamento que será devidamente pago pelas empresas e governos que estão explorando estes estádios. Jamais permitiria que esses recursos saíssem do orçamento público federal, prejudicando setores prioritários como a saúde e a educação. - Eu preferia não ter ouvido isso. Parece até um “eu não sabia”, transferindo para Estados e Prefeituras a responsabilidade sobre o que fizeram com o dinheiro de financiamento da Copa do Mundo. Aliás, se é para financiar a Copa do Mundo, onde é que se esperava que o dinheiro (ou parte dele) fosse parar? - Infelizmente, a Presidenta tratou recurso público federal diferente de recurso público estadual ou municipal. Isso não demonstra compromisso com as causas do movimento. Na realidade, nós ampliamos bastante os gastos com saúde e educação. E vamos ampliar cada vez mais. Confio que o Congresso nacional aprovará o projeto que apresentei para que todos os royalties do petróleo sejam gastos exclusivamente com a Educação. - Eu também confio nisso sobre os royalties, mas o fato é que, todo esse “ampliamos bastante os gastos com saúde e educação” não foi suficiente para conter o início do movimento. Algo mais se espera, e não apenas para a educação. Não posso deixar de mencionar um tema muito importante, que tem a ver com a nossa alma e o nosso jeito de ser. O Brasil, único país que participou de todas as Copas, cinco vezes campeão mundial, sempre foi muito bem recebido em toda parte. - Será que a Presidente vai concluir sugerindo que os milhões de manifestantes pacíficos corroboram com a ideia de aplicar a violência da minoria baderneira em torcedores e turistas da Copa do Mundo? Será que a Presidente ainda está discursando para a minoria baderneira? Precisamos dar aos nossos povos irmãos a mesma acolhida generosa que recebemos deles. Respeito, carinho e alegria. É assim que devemos tratar os nossos hóspedes. O futebol e o esporte são símbolos de paz e convivência pacifica entre os povos. O Brasil merece e vai fazer uma grande Copa. - Se não foi essa a intenção, a de desqualificar o movimento pela minoria baderneira, qual o propósito disso no discurso? Puxão de orelha na minoria baderneira é responsabilidade da polícia. - Infelizmente, voltar a dar atenção à questão da minoria baderneira é desqualificar a legitimidade do movimento. Minhas amigas e meus amigos, eu quero repetir que o meu governo está ouvindo as vozes democráticas que pedem mudança. Eu quero dizer a vocês que foram, pacificamente, às ruas: Eu estou ouvindo vocês. E não vou transigir com a violência e a arruaça. Será sempre em paz, com liberdade e democracia que vamos continuar construindo juntos este nosso grande país". - Dizer que vamos “continuar construindo” não sugere muita mudança... mais uma dose de “água fria”. - É! Como Brasileiro, eu espera mais.
Posted on: Sat, 22 Jun 2013 18:06:01 +0000

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