"Nas medidas de redução do consumo particular convergem hoje, ao - TopicsExpress



          

"Nas medidas de redução do consumo particular convergem hoje, ao nível político, as correntes mais significativas das classes dominantes. É crescente a aliança entre os movimentos ecológicos e as organi­zações que visam a diminuição dos impostos e a extinção das instituições do consumo. Milton Friedman projecta sobre as propostas de O Clube de Roma a inevitável sombra repressiva. Foi nos Estados Unidos que o movimento para a diminuição dos impostos alcançou a vitória mais importante, em mediados de 1978, com a adopção da Proposta 13 pelos eleitores da Califórnia. Diminuiu-se em mais de metade o imposto sobre as propriedades, beneficiando as empre­sas industriais da maior parte dessa redução; os efei­tos sobre as instituições do consumo fizeram-se sentir de imediato, aumentando o preço dos serviços públicos, diminuindo o seu âmbito e piorando a qualidade. Mas é neste sentido que apontam as necessidades do capi­talismo, por isso os políticos que melhor farejam os ventos rapidamente se vão convertendo à tendência dominante. Durante as eleições e votações de prin­cípios de Novembro de 1978 as propostas para a limitação dos impostos constituiram o tema princi­pal, tanto no partido Republicano como no Demo­crático. Antecipando-se às pressões da média bur­guesia, são os próprios governadores e parlamentares estaduais a tomar a iniciativa da redução das insti­tuições de consumo3. Na Suécia, em Setembro de 1976, o movimento contra os impostos e as instituições do consumo, ajudado pela corrente ecológica com palavras de ordem que geralmente fazem o enlevo dos ecológicos esquerdistas, derrubou o governo social-democrata o pôs no poder uma coligação dos partidos da direita conservadora e populista. Na Alemanha Federal o movimento ecológico dispõe de uma vasta audiência mediante os trezentos mil membros dos Bürgerinitiativen, comités de acção de moradores que tiveram como objectivo inicial um certo número de reivindicações úteis quanto à vida urbana, a poluição no exterior das fábricas, etc., mas que cada vez reflectem mais estreitamente os objectivos próprios da corrente ecológica. Por isso é importante sublinhar que o principal partido ecoló­gico alemão, G.A.Z. (Acção Verde Futuro), que obteve resultados apreciáveis em eleições recentes, tem como novo dirigente um deputado (Herbert Gruhl) que alinhara até então na União Democrática­-Cristã, o grande partido das direitas conservadoras. O caso alemão é ainda significativo pela convergên­cia crescente entre o G.A.Z. e o movimento anti­-impostos (dirigido por Hermann Fredersdorf, mem­bro do partido Social-Democrata -nova fusão entre as direitas e as esquerdas-), demonstrando que o objec­tivo central de todas estas correntes é a restrição do consumo. Na Áustria um referendo realizado nos princí­pios de Novembro de 1978 inviabilizou a política governamental de construção de centrais nucleares. O partido Popular (democrático-cristão) apelou ao voto negativo, embora invocasse somente discordán­cias técnicas. Mais significativo, por isso, foi o facto de a oposição de fundo ao emprego da energia nuclear ter vindo simultaneamente de ecológicos que se con­sideram à esquerda do partido Social-Democrata, que detém o governo, e do partido da Liberdade, que ocupa a extrema direita do leque parlamentar. Em França, na segunda volta das eleições legis­lativas de 1978, os votos ecológicos dividiram-se entre os candidatos das direitas conservadora e liberal, e os dos partidos Socialista e Comunista, o que mostra a força do movimento ecológico unificando campos políticos que tradicionalmente têm dividido com grande profundidade ias classes dominantes francesas.4 E até em Portugal um movimento ecológico dis­perso e ainda informe pode ter como um dos incan­sáveis promotores e porta-vozes o presidente, ou secretário-geral, ou lá o que é, do pequeno grupo fascista-populista denominado Partido Popular Monár­quico. Jornais e revistas (entre todas, com maiores pretensões a Raiz & utopia) podem unir numa plata­forma ecológica comum elementos oriundos da ­esquerda e da extrema-esquerda com representantes das direitas parlamentares ou até fascizantes. A freqüên­cia desta conjugação não permite manter ilusões. A capacidade do movimento ecológico para fun­dir esquerdas e direitas revela que ele é parte inte­grante de um realinhamento das oposições sociais. A classe dos gestores não precisa já de manter velhas fórmulas, hoje inteiramente desprovidas de signifi­cado imediato, que restavam das épocas em que par­tilhou com o proletariado os campos comuns da social­-democracia ou do stalinismo. Esse apego às tra­dições só prejudicaria agora a união entre esses ges­tores e as camadas burguesas ou outros gestores que se mantiveram no campo ideológico conservador. Ainda aqui a ecologia tem um papel fundamental na reorganização de forças sob a égide das classes domi­nantes. Face a estas correntes o movimento operário aparece ainda disperso e dividido e, à primeira vista, dir-se-ia que as instituições do consumo, incluindo o sistema dos sindicatos burocratizados, continuam -apesar de tudo- a funcionar. Os indícios de ruptura são, porém, demasiado frequentes e têm ocorrido conflitos demasiado característicos do seu agravamento para que não possamos prever a cres­cente dissolução desse campo de unificação dos interesses sociais. A prosseguir-se, com o consequente reforço da solidariedade operária, a unificação entre lutas e o agravamento da aposição do proletariado às classes capitalistas, o capitalismo teria, para já, um único campo disponível para a unificação de classes: o movimento ecológico, especialmente pela participação dos ante-gestores desempregados. Nesse caso, será nas relações do movimento ecológico com o numeroso sector dos trabalhadores desempregados que residirão os perigos mais consideráveis para o desenvolvimento autónomo e revolucionário do movi­mento operário contemporâneo5. Se a corrente ecoló­gica vier a confirmar-se como o principal campo actual de unificação das classes, a sua cisão será então a condição necessária para o prosseguimento do movimento operário6. O movimento ecológico é, hoje, o inimigo oculto." J.Bernardo
Posted on: Mon, 01 Jul 2013 08:35:06 +0000

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