Ninguém escapa do romantismo.... Romântico não é apenas - TopicsExpress



          

Ninguém escapa do romantismo.... Romântico não é apenas quem sonha com um conto de fadas. ....Romântico é quem idealiza a vida em qualquer um de seus lados, não apenas o dos relacionamentos amorosos. Idealizar é construir a ideia de alguma coisa. Romântico é aquele que vive mais a ideia da coisa que a coisa real. As coisas que conhecemos só se tornam conhecidas por nós quando e à medida que formamos delas uma ideia; o contato com a realidade é mediado por nossas ideias. Mesmo assim, é possível desenvolver a tendência de vivermos ou voltados para a realidade ou voltados para as ideias. Pois, se por um lado o contato com o real é mediado pelas ideias, por outro a ideia também se distancia da realidade. A ideia que se distancia da realidade se afasta do presente; a ideia que se distancia da realidade é o ideal. Os ideais representam a imagem de como gostaríamos que a vida fosse; representam, portanto, os objetos e objetivos de nossas buscas, nossos planos, nossas metas, nossos sonhos. Romântico é quem se devota aos seus ideais; romântico é quem se dispõe a sacrificar o presente em virtude do futuro sonhado. Assim, o romântico acredita na compensação futura dos sacrifícios presentes.....No campo dos relacionamentos, o romântico se doa ao outro não porque a doação o satisfaz, mas porque ele acredita que será recompensado, no futuro, com a realização do amor ideal. É comum o romântico se sacrificar durante o namoro acreditando que a aliança do casamento compensará todo o seu martírio, e mesmo os já casados passam décadas a espera de uma compensação que nunca chega. Há também o romântico engajado, aquele que se dedica à transformação política e social do mundo. O engajado geralmente não se sacrifica em nada; ele exige que os outros se sacrifiquem pelos seus ideais - isso quando ele próprio não pega em armas para sacrificar aqueles que elegeu como culpados pela condição do mundo que tanto critica. Entretanto, se por um lado o engajado não sacrifica sua própria vida ou seus bens materiais, por outro ele vive o sacrifício de uma vida de ressentimentos, ódio, revolta e indignação pela qual, evidentemente, espera que a sociedade futura que ele idealizou lhe traga sérias compensações. Em oposição ao engajado existe o empreendedor. Esse tipo de romântico não deseja mudar a conjuntura política e social do mundo. Pelo contrário, ele deseja desenvolver todo o seu potencial pessoal para dela extrair o maior sucesso, dinheiro e reconhecimento. O empreendedor não se apega a nada e a ninguém - ou melhor, ele se convence de que seus objetivos profissionais são mais importantes do que o apego a pessoas e lugares e que é importante estar disposto a cortar laços se quiser alcançar seus objetivos. Movido por esse ideal, o empreendedor leva uma vida de sacrifícios pelos quais espera ser compensado com o sucesso e o prestígio profissional. E o que dizer do religioso? Por acaso existe romantismo maior que a religião? Para que serve a religião senão para nos convencermos que os sacrifícios e a falta de sentido da vida serão recompensados depois da morte? Para que serve a religião senão para nutrir a esperança de que a vida tão idealizada por nós nos aguarda depois que, finalmente, abandonarmos de vez a vida real?....Nossa sociedade sofre de uma doença crônica: o romantismo. Analisando o perfil do romântico clássico, do engajado, do empreendedor e do religioso, há algum de nós que não se encaixe em algum deles ou até em mais de um? O romantismo cega. Às vezes, a a cura vem apenas no leito de morte. No leito de morte muitos percebem que perderam toda a vida na busca por seus ideais; percebem que a compensação nunca chegou; entendem, finalmente, que o único ganho na vida é viver, e que a vida só se passa no presente, na companhia da aparente simplicidade e falta de sentido do que temos agora. Às vezes, a cura vem antes da morte. E, curiosamente, de todas as formas de romantismo a mais fácil de se curar é justamente a sua forma clássica. É comum as pessoas entenderem que o relacionamento ideal nunca se realiza e que não há compensações para a doação que não se satisfaz na própria doação. Entretanto, infelizmente o romantismo que é frustrado no amor pode encontrar escoamento na religião ou no empreendedorismo. Se amar as pessoas é tão difícil, dediquemo-nos então ao amor a Deus, pois Deus pode ser tudo que quisermos! Ele é a imagem da perfeição jamais encontrada nas pessoas. E se nossa autoestima se abala tanto com as frustrações do amor, tentemos compensá-la com o sucesso e com o dinheiro. Então, quando não houver mais o que esperar de Deus senão a morte, ou quando não houver mais nada a se conquistar senão mais dinheiro do que já temos e o sucesso já tiver enjoado de si mesmo, talvez a falta de sentido desse romantismo todo se torne evidente. Mas aí a vida já terá passado. Talvez, o difícil não seja curar o romantismo; o difícil talvez seja curá-lo em tempo hábil para que ainda se possa viver......
Posted on: Tue, 19 Nov 2013 10:52:59 +0000

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