Nunca mais Não falarei mais. Não recolherei os sapatos da mágoa - TopicsExpress



          

Nunca mais Não falarei mais. Não recolherei os sapatos da mágoa que ficaram no tapete, exatamente nos finais de romances. Não debulharei lágrimas nem de tristeza, nem de alegria, tampouco de conformidade. Serei neutra. Permanecerei muda. Não reclamarei do inverno, nem do verão. Não irei pisar nas folhas de outono. Não abrirei os braços para acolher as flores da primavera. Não terei fascínio pela noite. Não cantarei pelos dias amanhecidos. Não suportarei nenhum blá, blá, blá romântico, alternados com bombardeios de afetos. Não darei trégua e nem esmola os fictícios sonhos. Não serei mansa, intensa, irreversível nas decisões de ficar para sempre. Não terei desejos nem de longe nem de perto. Nem um fio de esperança fará os meus olhos mirarem o horizonte, encasquetando que o céu existe. Não esboçarei sorriso nas chegadas, aliás, nem esperarei as chegadas. Não acreditarei que tudo é real e nem darei trela para as fantasias. Tudo será o mesmo em eternas repetições. Nem santo, nem anjo, nem bicho de estimação me comoverá. E os delírios serão todos interpretados, de preferência por qualquer pessoa racional, para confirmar o que já sei: nada é. Não guardarei boas novas e as antigas estarão emboloradas por falta de uso. Não engolirei pedidos. Não degustarei bebidas de alegrias borbulhantes. Não acenderei velas. Não baterei palmas. Não comemorarei ganhos. Tudo será desperdiçado numa esquina qualquer ou numa mesa de bar. Nada terá importância e nada será. Sinceramente, não me fará nenhuma falta o equilíbrio, a docilidade, a grandeza de coração. Tudo será pequeno, minúsculo, miúdo e invisível. Um cisco, um caco, um resto. Um quase. Nem por conveniência serei boa. E podem perguntar que não irei responder. Podem insistir que não irei acreditar. Podem oferecer que não irei aceitar. Abandonarei a sobriedade. Sairei do casco e enfrentarei o nada e o tudo com muita indiferença. Serei fria, gelada, encolhida, rançosa, vencida. Espero com isso não causar indigestão. Nem susto. Nem surpresa. Nem desilusão. Também não serei eu, a protagonista dessa peça. Ita Portugal
Posted on: Wed, 09 Oct 2013 00:27:58 +0000

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