“Não há esperança sem profetas. A missão dos profetas é - TopicsExpress



          

“Não há esperança sem profetas. A missão dos profetas é suscitar e alimentar a esperança. Assim foram os profetas de Israel, que são os ícones da profecia. O profeta aparece quando o povo deixa de ter esperança e se torna prisioneiro do presente __ quando se tem a impressão de estar prisioneiro, numa situação sem saída; quando um povo está dominado por um pensamento único, obcecado por uma religião que sacraliza os poderes dominadores; quando a esperança está sendo substituída pelos desejos ou pelos ressentimentos __ porque os desejos foram reprimidos; quando o povo se esqueceu da esperança, então os profetas levantam a voz”. “Ninguém fabrica profetas. Eles são imprevisíveis e indispensáveis. Nenhum povo se liberta repentinamente sem ter sido provocado. Nenhum povo entra na caminhada sem ser convocado. No Cristianismo, o ministério fundamental é o ministério de apóstolo, e logo depois vem o profeta, como diz São Paulo (I Cor 12,28; Ef 2,20)”. “O profeta lembra as promessas do início, que estão na base e na origem da esperança e definem a vocação e o destino da humanidade. Denuncia a traição de um povo que se fecha no gozo presente. Quem goza são os poderosos e aos outros se lhes ensina que a sua vocação consiste em dar gozo aos poderosos. Os poderosos afastam o povo da sua caminhada e querem estabilizar o povo na sua submissão. Não são solidários, não são partes do povo. Estão acima do povo, para poder explorá-lo e colocar a sua caminhada a serviço da sua vontade de poder”. “O profeta lembra que a vocação da humanidade é a esperança caminhando para um mundo de liberdade. Lembra que outro mundo é possível, mesmo quando todos afirmam que é impossível. É o anunciador da possibilidade humana sem limites, quando todos querem convencer o povo de que não há outra saída, não há outra solução. Os falsos profetas, hoje tão numerosos, querem mostrar aos pobres que não há possibilidade de libertação. Querem convencê-los de que eles, os poderosos, fazem todo o possível para libertar os oprimidos, mas têm dificuldades intransponíveis. Inevitavelmente o profeta entra em conflito com a sociedade estabelecida e com as falsas elites que criaram um sistema que lhes permite explorar as riquezas naturais, os recursos da inteligência humana e o trabalho. O conflito é inevitável. Os profetas foram perseguidos”. “Jesus realizou na perfeição o modelo de profeta. Foi o profeta por excelência. Veio lembrar ao seu povo a sua verdadeira vocação. Denunciou a traição das elites e anunciou a libertação do seu povo. Veio ressuscitar as esperanças. Foi perseguido e morreu por ter sido profeta”. “Depois de Jesus, todos os cristãos são chamados a ser profetas __ individuais e coletivamente, pois formam um só corpo em Jesus. Eles cumprem a missão de profeta coletivamente como povo reunido em Jesus Cristo (At 2,16-20). Por isso, o Povo de Deus é como o sal da terra, como uma cidade construída em cima do monte, como uma lâmpada colocada bem alto para iluminar todo o ambiente”. “Desse modo está definida a missão da Igreja, parte visível do povo de Deus: ser uma minoria que desperta a esperança na humanidade e, dessa maneira, aponta o rumo. A Igreja não tem finalidade em si mesma. É um sinal levantado para atrair todas as nações. É um sinal de esperança __ a mesma que Deus suscitou desde Abraão. Claro que, à medida que aparece como um povo ao lado de outros __ com tanta especificidade como os outros, gerando uma cultura como os outros __ , ela deixa de ser sinal para se confundir com os outros. Deixa de atrair, porque a sua presença desperta uma reação de defesa de identidade. Os outros se sentem atingidos na sua identidade e reagem, procurando defender-se”. “A Igreja para ser um povo de profetas, precisa de profetas individuais. Tais profetas apareceram na história, de modo irregular. Em certas épocas proliferam, em outras menos e, em outras, desapareceram”. “Por isso, na nossa época, como em muitas circunstâncias na história, a Igreja precisa de profetas para que possa cumprir adequadamente a sua missão. A Igreja precisa deles para se tornar profética de novo, isto é, para recuperar o sentido da sua vocação e da sua missão”. “A Igreja atual cultiva com grande cuidado a sua identidade, a tal ponto que essa preocupação chega a ser patológica em certos momentos. Essa identidade outra coisa não é senão os elementos culturais que foram se somando ao longo de 2.000 anos, até constituir a complexa instituição atual. Agarrada à sua identidade, a Igreja tornou-se incapaz de falar até mesmo para os povos que já foram cristãos durante séculos”. “Desde o início aparecem profetas na Igreja. Depois da geração dos apóstolos, os profetas __ muitas vezes itinerantes __ aparecem à frente da Igreja. Mais tarde, quando se formam comunidades estáveis, adotando o código de vida social baseado na família __ predominante na sociedade imperial __ , impõe-se o ministério local com bispos e presbíteros ligados a um lugar. Os ministros itinerantes vão desaparecer pouco a pouco, e no Concílio de Nicéia (325 d.C.) já não existem mais. A Igreja, convocada e dominada pelo imperador, achava que conquistara o universo e podia deixar de ser missionária, não precisando mais de profetas __ sua presença serviria apenas para perturbar a ordem. Estimou-se que a Igreja precisava, em primeiro lugar, de administradores __ e providenciaram a formação de um clero que fosse administrador”. “No entanto, a profecia reapareceu quando a Igreja perdeu o seu ‘vigor’ __ com a decadência do clero, a paganização da religião e a fixação das estruturas sociais de dominação. A Igreja perdeu a continuidade com o espírito evangélico, várias vezes na história. Então reapareceram profetas na figura de monges. Frades, eremitas e pregadores populares”. “E na atualidade? Claro que as atuais estruturas da Igreja deixaram de ser funcionais. Mas o problema é mais amplo. Trata-se de redefinir a missão da Igreja: o desafio não é a luta contra as heresias, as deformações litúrgicas, a falta de disciplina e de uniformidade. O desafio é a evangelização de um mundo cada vez mais afastado do Cristianismo __ por exemplo, nas velhas terras de cristandade. Milhões não percebem, na atuação da Igreja, o alegre anúncio do Reino de Deus, a liberdade do Espírito e a prioridade do amor sobre todas as leis”. “Foi essa a situação que João XXIII tinha percebido e que teve em mente quando convocou o Concílio. Mas ele não foi entendido. A maioria dos bispos ainda estava fixada na fase anterior, longe do desafio de evangelizar o mundo novo. Achavam que a sua missão era administrar o passado e não anunciar o futuro”. “Na preparação do Concílio Vaticano II atuaram milhares de homens e mulheres dotados de carisma profético. Aos bispos, teólogos e sacerdotes comprometidos com seu povo, somaram-se leigos que lideravam movimentos sociais, bem como escritores e artistas que abriram espaços para a nova figura da Igreja. Após o Concílio, a América Latina testemunhou o nascimento de muitos mártires, de Santos padres __ os bispos de Medellín e Puebla, de sacerdotes, religiosas, religiosos, comprometidos com o povo, (leigos do meio, popular ou até mesmo, intelectuais), que tiveram um ‘certo’ papel profético, despertando: a esperança de uma Igreja diferente a serviço da humanidade, dos oprimidos e dos pobres”. “Todo esse contingente de homens e mulheres esperou contra toda esperança, uma vez que as estruturas eram tão rígidas que não deixavam entrever nenhuma saída. São conhecidas as reflexões do Pe. Leiber, SJ, que tinha sido confessor de Pio XII: a Igreja Católica é como um castelo medieval cercado de água, com a ponte levantada e cuja chave foi jogada na água. Ela é irreversível e voluntariamente prisioneira de si mesma. As barreiras são tão fortes que impede qualquer tentativa de mudança. No entanto apareceu João XXIII na hora em que menos se esperava. Atualmente não sabemos o que pensa o confessor do Papa (Neste contexto, ainda era João Paulo II), mas muitos compartilham o ponto de vista de que a Igreja voltou a encerrar-se no castelo medieval”. “Os que promoveram o Vaticano II, Medellín e Puebla viveram e despertaram a esperança, mostrando ao mundo uma figura de Cristianismo que até então não se conhecia. Foram evangelizadores porque anunciaram o Reino de Deus e o seu testemunho confirmava as suas palavras. Aguarda-se nova geração de profetas para ANIMAR E CONVERTER DE NOVO O POVO DE DEUS. Trata-se de mudar a Igreja tal modo que possa ser sinal de esperança para a humanidade, renovando as energias em vista de um mundo diferente do que aí já está”.
Posted on: Mon, 28 Oct 2013 21:13:48 +0000

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