O BARBEIRO E O PAPA Numa tarde do mês de março, entra num salão de barbeiro um cliente cheio de pressa para cortar o cabelo. Essa pressa toda desperta no barbeiro uma curiosidade sem tamanho, que ele não se cabe dentro das calças, já que a vida de todos lhe interessava e não deixará passar a oportunidade de saber do cliente, para onde ia. Por isso a pergunta era inevitável: - Vai cortar cabelo para alguma festa? – Faz aquela pergunta o envolve com a toalha. - Vou viajar amanhã pela manhã! – Fala e dá um sorriso de satisfação. Quando o barbeiro ouviu a palavra viagem, sentiu inveja por não poder sair e fazer o que o cliente faria no dia seguinte. Roendo-se fala a sua impressão, o dialogo continua entre eles: - Viajar? Isso é a coisa mais chata do mundo meu amigo! Vai para onde? – Fez aquele comentário e continuou a cortar o cabelo do homem que não escondia a sua felicidade. - Viajar sim! Não acho que é uma coisa chata, acho que vai ser bom! Vou para Europa. – Enche o peito cheio de orgulho, olha o barbeiro que morde os lábios de raiva por nunca ter podido sair da barbearia e ver o mundo. - Europa? Não lê os jornais? Está em crise e só tem coisas velhas! – Fala e não olha o cliente que responde: - A Europa é um sonho de criança. A crise não é minha, pois vou passear e não morar. O que o senhor chama de coisas velhas, prefiro chamar de história. – Olha para o barbeiro que lhe pergunta: - Vai sozinho ou com a família? – Interroga quem só quer cortar o cabelo, ir para a Europa. Aí veio a resposta: - Eu vou viajar com grupo de turismo – Percebe que o barbeiro queria lhe perguntar alguma coisa a mais e faz a tal pergunta: - Vai viajar com um monte de velhos chatos, que compram de tudo e que atrasam a saída da excursão? – Parecia um especialista em questão de viagens. - Só sei que vou viajar para Europa e vou com grupo sim! Procura encerrar a conversa e tentar fazer o barbeiro se calar. Nada conseguia fazer parar aquela máquina de perguntar: - Vai de avião? – Olha e espera a resposta. - Vou de navio! – Bastou a resposta, para o barbeiro endoidar. - Viajar de navio é um saco! Tem um monte de gente, viagem longa, festas chatas, jantar com o comandante. – A explanação do barbeiro surpreende o homem que lhe pergunta: - O senhor já viajou de navio? – A pergunta deixa o barbeiro sem graça e sem perder a pose, deu uma resposta qualquer e emenda outra pergunta: - Nunca viajei de navio, só sei como é pelas revistas que leio aqui na barbearia. Mas o senhor vai ficar em uma cabine individual? – Era e duro aturar a curiosidade daquele homem chato. - Vou ficar em cabine dupla! – Percebe o barbeiro se coçar, falar e perguntar: - Vão por um sujeito gordo, que ronca e que solta peidos! – O homem estava irritado e lhe responde: - Se isso acontecer, fazer o que? – Sem se dar por vencido, o barbeiro ainda pergunta: - Que lugar da Europa. – O homem diz: - Itália! – Lá vem a resposta e a pergunta: - Naquele lugar cheio de coisas quebradas? Que lugar da Itália? – O homem tirando o dinheiro da carteira falou: - Roma! – O barbeiro fala e lhe indaga: - Aquela cidade tem o pior trânsito do mundo, violenta e cheia de ruínas que não servem para nada! Que lugar de Roma vai? – O homem querendo ir embora, respondeu: - Vou até o Vaticano, pois assistiremos a eleição do novo Papa. O barbeiro não perdeu a oportunidade e falou: - Para ver o que? Vai ter tanta gente na sua frente, que só vai ter um pontinho branco na janela alta da Basílica de São Pedro. Vai jogar dinheiro fora! – O homem paga pelo corte, sai de saco cheio e resmunga alto: - Eu volto! – Some em meio a multidão daquela tarde quente. Quarenta dias depois o homem volta a barbearia, senta na cadeira do mesmo barbeiro que lhe pergunta: - Como foi a viagem? – Aguarda uma resposta. - Excelente! O grupo era bom, o navio bom, a viagem foi maravilhosa, fiquei numa cabine com uma loura linda e de bunda grande, as festas maravilhosas, a comida sem igual, a Europa é linda, a Itália é linda, Roma é maravilhosa, o Vaticano, um sonho. Tanto que chegamos atrasados e ficamos no final da multidão, sentido um frio de matar. - Quando foi anunciado o nome do Papa veio a ovação. Enqunto Francisco falava para todos, senti que ele estava me olhando. Foi um olhar tão forte e penetrante, que pediu em vários idiomas. – “Esperem que eu volto”. Sumiu da sacada, a multidão se agitou, o Papamóvel cortou o grande pátio, passou por grupo de argentinos com a camisa do San Lorenzo de Almagro, o seu time do coração e não prestou qualquer atenção aos compatriotas, pois o seu objetivo era outro. O carro parou em frente a mim, o Papa desceu com seus passos lentos, me olhou com uma tristeza grande, pegou as minhas mãos e com lágrimas nos olhos disse cheio de emoção: - Que cabelinho mal cortado! PAULO SOUTO
Posted on: Sun, 22 Sep 2013 00:36:26 +0000
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