O Cristo dos Pagãos Tom Harpur, colunista do jornal canadense - TopicsExpress



          

O Cristo dos Pagãos Tom Harpur, colunista do jornal canadense Toronto Star, acadêmico de Rodhes e ex-pastor anglicano, professor de grego e do Novo Testamento na University of Toronto e escritor sobre temas religiosos e éticos, é um dos, já não tão raros, exemplos da antiga decência cristã, felizmente. A forma literalista da ortodoxia, que inventou Jesus Cristo ou de Nazaré, segundo Harpur resulta da descida da forma original esotérica (ensino destinado a discípulos qualificados) para a forma política ou exotérica (passível de ser ensinado ao grande público) que se choca eticamente com a interpretação tradicional do antigo mito de Cristo e explica o grande progresso e a blindagem da hipocrisia religiosa com o auxílio da grande massa de fiéis inocentes. “A grande verdade de que Cristo viria dentro do ser humano, de que o princípio de Cristo existia potencialmente em cada um de nós, foi mudado para o ensinamento exclusivista de que o Cristo veio como homem. Ninguém poderia equiparar-se a ele, nem mesmo aproximar-se dele. [...]” (HARPUR, 2008, p.17) O mesmo teor de conteúdo encontramos ilustrado pela conhecida historiadora cristã Elaine Pagels: “Quem alcança a gnose torna-se “não mais um cristão, mas um Cristo”. (PAGELS, 1995, p. 155). Harpur se refere àquilo que resultou na grande blasfêmia para os judeus de um homem-deus surgido no judaísmo. Algo tão inconcebível e nojento para eles quanto à eucaristia. Os judeus só comem carne dessangrada (kosher ou pura), pois a alma do animal está no sangue e não se pode ingeri-la, na crença deles. Portanto, a simbologia de comer carne humana e beber sangue jamais poderia ter surgido no judaísmo. O personagem Jesus Cristo passou a existir pela necessidade inconfessada de se dar uma nova versão ao mito de Cristo, uma vez que a grande massa popular em toda bacia mediterrânea já estava acostumada ao cristianismo de *Serápis, inclusive a essa concepção eucarística da religião de mistérios do deus Mitra. As religiões de mistérios como a de Serápis se confundiam e se relacionavam sem constrangimento algum, podendo o mesmo altar servir a mais de um deus ou deusa. *Serápis (Osiris+Ápis) foi um deus heleno-egípcio cujos templos se espalharam por todo o Mediterrâneo. Uma carta do imperador Adriano de 134 nos dá ciência desse cristianismo ignorado. O antigo culto a Osíris, o deus dos mortos, tinha por hábito ungir o cadáver com óleo perfumado na preparação para outra vida. O termo egípcio para o ato era Karast ou Krast. Khristós, em grego. Osíris era, portanto, o ungido, o Cristo e seus adoradores os cristãos. “No entanto, os cristãos ortodoxos insistem que Jesus era de fato um ser humano, e que todo cristão de “reto pensar” deve tomar a crucificação como acontecimento histórico e literal. Para assegurarem-se disso incluíram no credo, como elemento fundamental da fé, a afirmação de que “Jesus Cristo padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado”. (PAGELS, 1995, p. 100). Mas por que Jesus Cristo teve que ser histórico e judeu, quando mito não possui naturalidade? Quando nos debruçamos sobre os quatro primeiros séculos com o intuito de entender os conflitos existentes entre os principais personagens do relato bíblico, refiro-me a romanos, gregos e judeus tudo vêm a se esclarecer. Houve um confronto cultural do qual não se deu notícia. Os gregos dominavam a cultura no mundo antigo e essa hegemonia estava ameaçada pela expansão do judaísmo, que contava com o apoio das leis romanas desde Júlio César. Inventando-se um Jesus Cristo histórico e judeu matavam-se dois coelhos com uma só cajadada: burlava a lei romana e ultrapassava o judaísmo. Foi essa a escolha da ortodoxia cristã que se impôs ao gnosticismo cristão. O artifício de se chamar gregos e helenizados de “pagãos” e os gregos cristianizados de “cristãos”, funciona como uma cortina de fumaça, pois o nome “grego” só aparece quando se refere aos gregos não cristãos, ocultando, portanto, a identidade natural dos verdadeiros propagadores do cristianismo, que nunca foram os judeus. O cristianismo foi concebido e propagado pelos gregos e por uns poucos latinos, como um antídoto contra o proselitismo judaico. O conflito entre o cristianismo e o judaísmo que irrompe no Império Romano é amiúde interpretado pelos especialistas a partir de duas perspectivas. A primeira delas, voltada para uma compreensão global da intolerância contra os judeus ao longo da história, tende a atribuir aos autores cristãos, em especial aos Padres da Igreja, a responsabilidade pela intensificação de um antigo preconceito nutrido pelos pagãos contra os judeus, ao mesmo tempo em que se apropriam de toda a herança veterotestamentária, fazendo dos cristãos o novo povo eleito. Desde a Antiguidade teria se constituído, assim, uma corrente de pensamento antissemita, fruto da intolerância e da incompreensão dos cristãos para com o judaísmo que iria desembocar nas experiências totalitárias contemporâneas. Para Ruether (1974, p. 246 e ss.), por exemplo, haveria uma certa continuidade entre a discriminação dos judeus praticada pela sociedade romana do final do Mundo Antigo e as demonstrações posteriores de intolerância antissemita sob a Alemanha nazista.” (Gilvan Ventura da Silva). “O antissemitismo cristão distinguiu-se de todas as outras perspectivas pela duração de uma mentira que se serviu da imagem de um Deus da caridade para professar uma desumanidade. Uma desumanidade ainda mais obstinada pelo fato de se acreditar portadora de uma palavra revelada. É certo que, sem totalitarismo, o cristianismo teria desaparecido. Resta saber se sua sobrevivência não ficou manchada justamente por seu totalitarismo.” (Gilvan Ventura da Silva). Mesmo sem querer fazer dos judeus os coitadinhos da história, até porque esse lugar pertence ao cristianismo com as suas ridiculamente alegadas perseguições perversas perpetradas pelos romanos aos seus mártires - do tipo cine terror inspirado em lendas gregas - cabe perguntar: onde estava o amor ao próximo quando os cristãos fizeram dos judeus assassinos do Cristo, o Salvador da humanidade, para que fossem para sempre odiados pelo mundo? “Para o estabelecimento dessa tradição “antissemita” no final do Mundo Antigo, considera-se imprescindível a atuação de João Crisóstomo por meio da sua série de homilias Adversus Iudaeos pronunciadas entre 386 e 387. Assim é que, segundo Poliakov (1979, p. 22), Gregório de Nissa e João Crisóstomo, ao lançarem inúmeros opróbrios contra os judeus de seu tempo, reforçarão uma corrente bizantina de antissemitismo que se prolongará por mais de um milênio. O mesmo raciocínio é compartilhado por Johnson (1995, p. 174) para quem, com João Crisóstomo, *um antissemitismo cristão que identificava os judeus como os assassinos de Cristo uniu-se ao antigo repertório de boatos e calúnias pagãs, reforçando-os. Por outro lado, verificamos, em alguns casos, uma tendência dos autores em simplificar o problema, tratando da discriminação sofrida pelos judeus no Império Romano como um comportamento próprio da elite eclesiástica e das autoridades imperiais, receosas das relações cordiais mantidas entre judeus e cristãos, única explicação plausível para a agressividade contida nos sermões de João Crisóstomo (PARKES, 1934, p. 164).” (Gilvan Ventura da Silva) Salivando bílis, muitos nem conseguirão responder. Aí estão eles, os continuadores pouco conscientes da antiga farsa, com cara de mansinhos, querendo impor suas PECs recheadas com o antigo monoteísmo totalitário e malévolo à sociedade brasileira. Por outro lado, resta a esperança de dar à esmagadora maioria da cristandade inocente e de bom coração a oportunidade de refletir a respeito de questões fundamentais que intimamente já se fez. Referências HARPUR, Tom. O Cristo dos Pagãos: a Sabedoria Antiga e o Significado Espiritual da Bíblia e da história de Jesus.
Posted on: Thu, 21 Nov 2013 15:01:50 +0000

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