O DIREITO À MEDIOCRIDADE ( Medíocre, embora seja uma palavra - TopicsExpress



          

O DIREITO À MEDIOCRIDADE ( Medíocre, embora seja uma palavra forte e normalmente utilizada em tons pejorativos, significa MEDIANO). Alguns rechaçam a tese de que a pobreza se alimenta da pobreza, constituindo um ciclo. Alegam que qualquer um que trabalhe duro consegue ascender socialmente e, para sustentar esta tese, citam alguns exemplos, como o Silvio Santos. Verdade irrefutável que existem pobres que, a despeito de todas as dificuldades, batalharam muito e muito mesmo, para conseguir ascender à classe média, ou até mesmo se tornarem ricos. Mas esses casos são excepcionais e essas pessoas são geniais ou sortudas ou dotadas de um nível de disciplina e paciência muito, mas muito além da mediocridade. A regra é o pai pobre criar um filho pobre e existem inúmeros fatores que sedimentarão esta regra, como alimentação, transporte, cultura, preconceito, saúde, educação formal e outros tantos. A questão é que um indivíduo integrante da classe média possui uma prerrogativa da qual muitas vezes ele não se dá conta: tem o direito de ser medíocre profissionalmente e ainda assim se formar, constituir família e continuar sendo classe média, vivendo uma vida digna. O pobre não tem direito à mediocridade. E isso é uma injustiça tremenda, todo ser humano deveria ter o direito de ser medíocre e ainda assim viver com dignidade. O pobre medíocre será sempre pobre, vivendo uma vida muito aquém da dignidade mínima à qual todo ser humano deveria ter acesso. Às vezes levantamos nosso sucesso como troféus, resultado de nosso esforço próprio e suado e heróico e sagrado. Quantos dos realmente bem sucedidos não receberam um PUTA impulso dos pais, ou de outro padrinho qualquer??? Às vezes, podemos até fazer faculdade sem ter que trabalhar, às vezes nossa sorte vai além, podemos terminar a faculdade e continuar nos dedicando exclusivamente aos estudos. Isso é classe média, é uma dádiva. Quer dizer que a classe média não precisa ser excepcionalmente brilhante, ou excepcionalmente persistente para chegar a cargos elevados em empresas ou no poder público. Basta ter persistência(não precisa ser uma persistência excepcional, suficiente que seja mediana). Às vezes, nos sentimos fodões porque conseguimos uma conquista através de muito sacrifício, como deixar de sair no fim de semana e estudar oito horas por dia. Imagino um pobre que trabalha essas mesmas oito horas, depois pega aquele metrô lotado, barulhento e fedorento, faz uns bicos fins de semana, mas não para ascender socialmente, mas apenas para sobreviver, e qualquer vestígio de glória que ameace nascer dentro de mim murcha e morre, nascendo em seu lugar um urgente sentimento de dívida e uma ânsia imensa de pagá-la. Não precisamos nos sentir envergonhados de eventuais sucessos que conquistemos em nossas vidas, é saudável que sintamos orgulho de nós mesmos, mas acho que precisamos olhar com o devido ceticismo para o tamanho do nosso merecimento e percebermos que a vida que vivemos nos viabilizou oportunidades de ouro com incrustações de diamantes e que precisamos retribuir essa imensa sorte de alguma forma. Que qualquer poder que porventura tomemos nas mãos seja empregado para promover (o óbvio, mas muitas vezes esquecido) bem comum e não para nos autopromover, embriagando-nos em um ego artificialmente acariciado por nossas autoilusões de mérito.
Posted on: Thu, 08 Aug 2013 23:14:29 +0000

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