O José Simão, na Folha de hoje, foi genial ao dizer: "E eu só - TopicsExpress



          

O José Simão, na Folha de hoje, foi genial ao dizer: "E eu só digo uma coisa: se eu estivesse doente e morrendo no interior do interior do Ceará, eu queria um médico humano. Tanto faz paulistano, cubano ou marciano! É isso aí! Se resolvam!" Acho que isso resume o que pensa a maior da população. Antes de mais nada, todos querem um médico com a capacidade de se sensibilizar diante da dor do outro. Há algum tempo a imagem do médico no imaginário popular vem mudando de figura. As pessoas passaram da admiração irrestrita para a desconfiança e, em alguns casos, afronta direta. As causas dessa transformação possivelmente são inúmeras, incluindo a melhora no nível educacional da população, a noção consolidada dos direitos do consumidor, o acesso fácil a informações médicas e uma mudança nas relações entre médicos e pacientes. Esse último fator pode ter outras múltiplas causas, como a urbanização e a impessoalidade nas relações, a interposição dos planos de saúde no exercício da medicina, etc. Mas, no geral, o discurso que se vê contra os médicos é injusto. Quem insiste na generalização, afirmando que médicos são burgueses insensíveis preocupados apenas com rendimentos financeiros, está errando feio. É certo que a maior parte dos médicos advém do estrato social com os melhores indicadores sócio-econômicos, posto que o critério de admissão nas universidades baseado em mérito acadêmico favorece aqueles que tiveram boa formação educacional, que no Brasil tem um custo altíssimo. Mas quase sempre são pessoas de alta capacidade intelectual, dedicadas ao estudo árduo e, conforme minhas observações pessoais, extremamente comprometidos com o alívio do sofrimento. Ser médico tem muitas alegrias: a satisfação em mudar positivamente a vida de alguém com algumas palavras esclarecedoras, a desafiante busca pelo diagnóstico, a alegria com a cura e, quando esta não é possível, poder minimizar a dor. É isso que ainda move quase todos os médicos que conheci, apesar da estrutura de saúde ineficiente e políticas de governo questionáveis. Esses são reais problemas que possuem relação de causalidade com a precariedade do sistema de saúde. É injusto colocar isso na conta dos médicos. Fico muito frustrado por perceber que o governo perdeu uma ótima oportunidade de discutir medidas de real impacto na saúde pública do país. Até acho que algumas das propostas seriam aceitáveis em certos contextos, como o incentivo à vinda de médicos estrangeiros em caráter temporário e emergencial. Mas outras medidas impostas são abusivas, como ampliar em 2 anos o tempo de formação do médico. A inabilidade do governo para as negociações é patente e as decisões autoritárias inflamaram um debate que não tem boas perspectivas para a implementação de um amplo pacto pela saúde. E cada vez mais reforço uma certeza: o que mais falta nesse país, em qualquer parte, é o bom senso.
Posted on: Thu, 11 Jul 2013 00:02:29 +0000

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