O PODER DA PALAVRA A cor púrpura da fome atinge os - TopicsExpress



          

O PODER DA PALAVRA A cor púrpura da fome atinge os habitantes de sob os tetos de zinco, de palha e os sem teto; ou seja, a fome aflige os pobres. A sede dobra o corpo seco em dois, sublevando a capacidade de se ser ereto. Sede não dobra nada. O organismo com pouco liquido acarreta ao homem dores insanas que o faz dobrar-se em dois, na procura de uma posição que o deixe mais cômodo. O rio que corre manso escorrega por declives profundos, serpenteando-o como se fora uma liana selvagem, dobrando-se incorrigível como saia plissada. Um rio manso não sobe aclive (a não ser quando de uma cheia descontrolada). O que promove as curvas de um rio é o solo arenoso, barrento e maleável. A água não atravessa um paredão de rochas. As barragens servem para conter a água presa em determinado lugar. O plissado de uma saia está sempre no mesmo sentido: de cima para baixo ou de baixo para cima. Não faz curvas. A palavra dita com rancor ou mesmo raiva, atinge o alvo desprevenido e o machuca profundamente. Para rebater o réu usa o poder da argumentação. O argumento subsiste de per si no nosso imaginário, e usamos a palavra falada como meio de verbalização, como veiculo que transporta nossa defesa. Neste palco entra em cena o que a filosofia chama de dialética. A dialética é a forma usual de argumentar ou contra argumentar quando se discute um tema escolhido. Até hoje não se sabe quem foi o fundador da dialética; alguns acreditam que foi Sócrates, outros atribuem a Zenão de Eléia. O fato é que a dialética é uma arma poderosa nas mãos de um tribuno inteligente. Acredito que a palavra tem a magia da sedução, do encantamento. Quando sabemos descrever uma cena, o leitor ou ouvinte viaja no tempo/espaço e se deslumbra com a paisagem. Há textos que transformam adjetivos em substantivos e vice e versa. Um texto bem escrito empresta cores, texturas e nuances, dobra a reta e abre o circulo; faz rir, faz chorar, deixa pasmo o leitor; trás para dentro de nós a fúria da indignação; promove revoluções e transborda nossa alma de paixão, de angustia, promove o conhecimento, a sabedoria e nos dá esperança. A retórica é a lança certeira nas mãos do escriba. _”a cor púrpura da fome” é apenas retórica, ou seja, uma maneira poética de descrever a fome que de púrpura não tem nada. Quando se diz: “a fome é negra”, queremos dizer que a fome atinge de forma fulminante a quem a tem revolvendo o estômago, desde que “fome é incolor”. Este texto que escrevi não tem nenhum sentido professoral ou acadêmico; não passa de uma tentativa de marcar a folha (que aceita calada e sisuda qualquer coisa que se queira dizer, uma vez que é inerte) com o caleidoscópio de minha imaginação à procura de novos elementos do saber. Fiz uma viagem no curso maleável do alfabeto; é como se estivesse pensando alto. Que me perdoem os doutos de academias. Anchieta Antunes Gravatá – 21/07/13
Posted on: Sun, 21 Jul 2013 12:34:47 +0000

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