O QUE FAZ A CRIANÇA PRECISAR DE ALGUÉM AO SEU LADO PARA - TopicsExpress



          

O QUE FAZ A CRIANÇA PRECISAR DE ALGUÉM AO SEU LADO PARA ADORMECER? Em outro texto escrevi sobre os principais motivos que levam a criança a dormir na cama parental, enfatizando que existe diferença entre procurar os pais no meio da noite e se instalar na cama deles. Como discorro lá, a permanência da criança na cama dos pais é por conveniência destes e não por necessidade da criança. Então qual é a necessidade dela? O que a leva a acordar no meio do sono e procurar os pais? O despertar noturno decorre tanto das alterações corporais, como frio, calor, sede, fome ou dor, quanto das questões de natureza psíquica, como estresse ou pesadelo. Diante destas situações, muitas crianças buscam os pais porque sozinhas ainda não são capazes de lidar com – e até mesmo verbalizar sobre – estes incômodos. Na tentativa de acolher o pequeno desperto, cada família vai experimentando meios de tranquilizá-lo: pega-o no colo em silêncio para que ele não desperte ainda mais, amamenta-o porque o leite “acalma” (a partir do 6° mês de vida, a alimentação noturna, com raras exceções, já não é necessária), fica junto – dormindo, assistindo TV ou mesmo brincando em plena madrugada – porque a criança “quer companhia”, entre tantos outros. A criança que tem o sono interrompido e não consegue retomá-lo sem ajuda, assim como aquelas que precisam de alguém ao seu lado para adormecer no sono diurno ou noturno (ou necessitam de rituais que a façam “apagar”, como dormir no carro/carrinho dando volta de quarteirão), precisa do outro para sentir-se segura e protegida. Como dormir é um momento de extrema solidão – psiquicamente ficamos sós, nós com nós mesmos – ficar só pode ser deveras perturbador. É por isto que acolher fisicamente a criança costuma “funcionar”. No entanto, apenas acolhê-la corporalmente (dando colo ou a mão, dormindo junto, ficando no quarto, entre outros) nem sempre é o suficiente para fornecer os recursos necessários para a criança conseguir adormecer e/ou dormir sozinha. Dormir implica na transição entre estar acompanhado-estar desacompanhado. Portanto, para que o adormecer e o despertar sejam vividos com tranquilidade (garantindo inclusive a saúde emocional de toda a família) é preciso ajudar a criança na transição do estado de vigília para o sono, de estar acompanhada para estar só. Se, por alguma razão, há falha neste processo (lembrando que falhas acontecem, com maior ou menor frequência e intensidade, além do que cada bebê reage a elas de maneira diferente), o bebê pode sentir-se menos seguro, tendo por isto maior necessidade da presença concreta da mãe. Em muitos momentos a presença física de alguém se faz necessária nesta passagem. Os bebezinhos, por exemplo, por estarem um tanto “fundidos” com a mãe, precisam da presença física dela (ou substituto) para ter a sensação de continuar existindo. É por isto que a dedicação e a prontidão das mães, traduzindo e atendendo às demandas do bebê, nos primeiros meses de vida é tão importante para que ele possa cada vez mais ir se sentindo seguro e, consequentemente, suportando o prolongamento do tempo sem a presença materna. Assim como alguns bebês e crianças nunca adormeceram sozinhos, há bebês e crianças que adormeciam com facilidade e tinham o sono ininterrupto, mas, de uma hora para outra passam a acordar no meio da noite ou recusam dormir sem alguém do seu lado. Em geral estas situações, temporárias ou não, surgem sempre que o bebê ou a criança vivencia a angústia de separação. Todos passam por isto e em diversas fases da vida! Embora alguns autores chamem estas vivências de crises, denominando-as por crise do primeiro trimestre, crise dos 8 meses, e assim por diante, prefiro não classificá-las, já que as vivências de separação, com maior ou menor intensidade, são experimentadas a vida toda. Mesmo os pesadelos infantis, responsáveis por grande parte dos despertares noturnos, em sua maioria falam de algum temor de separação (ser engolido, sequestrado, perder os pais – por morte ou outra razão, se perder ou morrer, etc.). Como acontece com os bebezinhos, nestes momentos de “crise” é preciso resgatar a devoção ao bebê ou criança. Mesmo que em alguns momentos seja preciso o contato físico, ele jamais deve substituir palavras de conforto que ajudem a criança a entender seu temor – “Sei que você não queria se separar da mamãe, mas enquanto você dorme, vou fazer tais e tais coisas. Assim você descansa e quando acordar vamos brincar juntos.” Este exemplo, que poderia ser qualquer outro, reconhece o sofrimento da criança, e pontua que a mãe continuará existindo e voltará a cuidar do filho quando ele acordar. Esta tarefa de estar disponível e nomeando a situação nem sempre é rápida, simples e fácil. Em geral ela se dá no meio da noite, repetidas vezes, prejudicando o sono de toda a família. Exatamente por isto, condutas como levar a criança para a cama dos pais acabam sendo a “melhor” alternativa em muitos lares. O grande problema é que se criam hábitos difíceis de serem eliminados posteriormente, mesmo que a criança já se sinta mais segura para dormir sozinha. Um exemplo clássico são crianças com 6-8 anos, ou até maiores, que só dormem na cama dos pais ou com a presença de um deles no quarto. Outro risco é reforçar a relação “grudadinha” entre mãe e criança (digo mãe, porque é menos frequente o “grudinho” acontecer com o pai). Para não ficar colado no corpo, além das palavras, pode ser bem rico encontrar com cada bebê e criança algo que substitua a presença física da mãe – uma luzinha, um bichinho de pelúcia, um paninho, que podem ser fornecidos nos momentos de transição presença-ausência. No entanto, eles só terão validade enquanto substituto materno se, na presença da mãe, ele encontrar a segurança que precisa – ou, a liberdade para também estar só. Separar pode ser muito doloroso, tanto para os filhos, como para os pais. Mas para crescer é preciso passar por isto!
Posted on: Sat, 24 Aug 2013 04:33:45 +0000

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