"O amor materno é apenas um sentimento humano. E, como todo - TopicsExpress



          

"O amor materno é apenas um sentimento humano. E, como todo sentimento, é incerto, frágil e imperfeito", lembra a filósofa francesa Elizabeth Badinter. A rejeição, que muitas mães escondem por medo de crítica, é um sentimento compreensível e mais comum do que se imagina. Buscar orientação especializada evita que o desajuste provoque outros conflitos familiares. Não Amo Meu Filho - Mães (e pais também) que rejeitam seu filhos não são raras. Mas, como cuidam das crianças, providenciam alimentação, roupa e escola, torna-se difícil identificá-las. Elas aprendem a conviver com o ser que geraram, mas desenvolvem por ele um sentimento de desamor, de crítica permanente a suas atitudes e até mesmo de desprezo por méritos evidentes. Não se orgulham de seu sucesso na escola ou de seu desempenho nos esportes, não lhe fazem carinho nem demonstram afeto. Estudiosos das relações familiares se habituaram a lidar com esse conflito e por isso preferem ignorar rótulos simplistas, como o de "mãe desnaturada". O comportamento é tido como uma manifestação das emoções destrutivas que fazem parte da natureza humana, em que se entrechocam o bem e o mal. No caso desses pais e mães, o desamor prevalece. Os terapeutas isentam essas mães de qualquer culpa e lembram que nem mesmo as mães mais dedicadas amam seu filho incondicionalmente o tempo todo. Para eles, os sentimento são múltiplos e mutantes. "Somos capazes de amar alguém pela manhã e odiá-lo à tarde, para voltar a amar novamente horas depois." A dificuldade de lidar com a maternidade pode ter origem nas expectativas criadas na gravidez. É natural que a mulher sinta medo ou frustração assim que o filho nasce. Durante nove meses, ela alimenta sonhos e expectativas, principalmente quando se trata do primogênito. A espera é por um bebê fofinho, corado, esperto. Um amorzinho, enfim. O choque é inevitável diante da criança suja, chorona e exigente. A idealização tem então de dar lugar à realidade. "Esse estranhamento é inevitável. A partir daí começa a se estabelecer uma relação não apenas biológica e natural. O sentimento se constrói, não faz parte de um pacote de nascimento", afirma uma psicóloga. Vencer o medo e ajustar-se com calma à nova situação ajuda a desenvolver bons sentimentos entre mãe e filho, um amor que tende a se consolidar ao longo da vida. Mas nem sempre essa passagem se faz sem traumas ou sofrimentos porque existe o MITO de que o amor materno é incondicional. Surgido no século XX, esse mito - incluindo-se a paixão instantânea que a mulher supostamente deveria sentir pelo bebê que acaba de nascer - idealiza a figura da mãe como santa e plena de amor, eternamente culpada pelos erros dos filhos. Mas sabe-se que ao longo da história da humanidade, como não havia métodos contraceptivos, as famílias eram muito numerosas e cada criança se tornava apenas mais uma. À mulher cabia sobretudo o papel de provedora de cuidados e de alimentos. A pergunta imediata - por que algumas mães não amam seus filhos? - não tem uma resposta totalmente satisfatória. Os estudiosos costumam relacionar uma série de causas, muitas delas ligadas a dificuldades da mulher, não da relação. Os psicólogos americanos Henry Cloud e John Towsen, autores do livro The Mom Factor (O Fator Mãe), apontam como razões principais: essas mães não se sentiram suficientemente amadas na infância; temem as relações muito íntimas; sofrem de depressão; passaram por crises no casamento diante a gravidez; ou não desejam engravidar naquele momento. Renato, de 11 anos, nasceu "na hora errada", segundo os pais, e se tornou um estorvo. Suely, sua mãe, tinha um filho de 12 anos do primeiro casamento quando engravidou. Namorava havia quatro anos e seus planos não incluíam um bebê. Na gravidez, suportou a rejeição do namorado, hoje seu marido, e da própria família. O filho mais velho, que tem grandes afinidades com a mãe, ficou enciumado e preferiu morar com o pai. Para Renato sobraram as críticas. "Ele vive reclamando, é folgado e desobediente. Pensar, não pensa. Se alguém fizer tudo por ele, ótimo", conta Suely. "Vai mal na escola, quase perdeu o ano e fala demais o tempo todo. Eu não aguento. O efeito de 11 anos de massacre psicológico é evidente. Tímido e cabisbaixo, o menino gagueja, troca as letras, tem dificuldade de se expressar. "A psicóloga diz que sua auto-estima está abaladíssima, mas não consigo aceitar calada o seu fracasso", justifica-se a mãe. Ela tenta se redimir garantindo uma boa assistência ao filho, que também se trata com um fonoaudiólogo. Mas assume, sem culpa, que não tem amor por ele. Lidar com a certeza de que é rejeitado pela própria mãe torna-se um drama imenso para a criança. Ela se sente fraca, carente e incapaz de agradar, o que pode causar rombos profundos em sua personalidade. A mãe, por seu lado, se sente culpada e se frustra por não amar plenamente o filho, como foi ensinada a fazer - e como fazem sua mãe, suas amigas, a cunhada... Não gostar de um filho jamais será tão simples quanto deixar de amar o marido, até porque não pode haver divórcio entre mãe e filho. Essa relação, mesmo desgastada e aparentemente irrecuperável, é eterna e impregnada de obrigações. Por isso, apesar de compreender e de não considerar uma aberração a ausência do amor materno, os psicólogos alertam para as consequências do fato. Identificar as causas dessa repulsa, se necessário com a ajuda de uma terapia, é a iniciativa mais importante. "As vezes a projeção, a criação de expectativas exageradas em relação ao filho, às quais ele nem sempre consegue corresponder, provoca o desamor", afirmam psicólogos. Entender o que se passa conosco pode contribuir para transformar os sentimentos e recuperar a saúde mental da criança e a harmonia da família.
Posted on: Tue, 03 Sep 2013 06:58:10 +0000

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