O ateismo é uma forma particularmente absurda de religião, (comparável à cientologia). Como é possível, sob o pretexto da racionalidade, afirmar que "Deus não existe"? A rigor, do ponto de vista científico, qualquer afirmação sobre a existência ou inexistência ontológica de Deus é um "non sequitur": "não posso comprovar que Deus existe, portanto ele não existe" é um exemplo clássico de falácia, pois da premissa não decorre a conclusão. Seria necessário comprovar que Deus não existe ou ficar com a dúvida, como no caso de qualquer pressuposto lógico. Toda argumentação racional tem que ter um ponto de partida e, por definição, o princípio a priori de um raciocínio não pode ser verificado ou refutado. Deus é um arquétipo e, como tal, um pressuposto, não uma teoria a ser comprovada. Kantianamente, podemos afirmar, com o maior rigor científico, que Deus é o senhor do silogismo disjuntivo, o princípio a priori deste silogismo: "Deus define a Omnitudo realitatis, da qual todas as realidades derivadas saem por divisão", como afirmam Deleuze e Guattari. Não é mais do que isso, mas isso não é pouco - Deus é uma categoria lógica imprescindível de nossa linguagem. Existe tanto quanto podem existir o "ser" e o "nada". Essas categorias podem embasbacar devotos do empirismo fundamentalista, mas não causam qualquer constrangimento para quem tem alguma familiaridade com a lógica formal ou com a filosofia. Eu defino o ateísmo como a fé dogmática na inexistência de Deus, advinda da convicção de que todas as religiões são falaciosas e nocivas. Ora, é possível fazer a crítica das religiões sem se fiar na crença pseudo-científica na inexistência de Deus, que não deixa de ser uma espécie de religião. Meus amigos ateus, alguns muito inteligentes, afirmam que o agnosticismo é insuficiente, por não servir de contraponto à violência dos dogmas religiosos e que, em todo o caso, essa minha definição de Deus em nada se parece com o que pensam os religiosos. Isso não importa - a própria definição de arquétipo é de uma categoria abstrata, uma forma sem conteúdo, que cada cultura ou indivíduo preenche com os atributos que bem entende, sem que isso comprometa a coerência do arquétipo como categoria abstrata universal. Melhor do que dizer que todas as crenças a respeito de Deus são falsas é postular que todas são igualmente verdadeiras, tão verdadeiras quanto qualquer outro produto da mente humana, como tudo o que chamamos de "realidade".
Posted on: Mon, 29 Jul 2013 07:52:33 +0000
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