O texto é grande, no entanto vale a pena ler... Inimigos são - TopicsExpress



          

O texto é grande, no entanto vale a pena ler... Inimigos são duas pessoas pertinho uma da outra. Só que de costas. Há duas situações inimigas dentro do amor: pertinho e uma de costas para a outra. Ambas ameaçam dar certo e não dar certo. Quando se ama, tanto se teme enfrentar a possibilidade de dar certo, cheia de prisões e tentáculos, como o risco de não dar certo e ficar rompida uma harmonia que poderia ter funcionado. Ambas as situações convivem em quem ama. Porque “viver bem” não é dar certo. Dar certo é ser capaz de prosseguir apesar do descerto. “Viver mal” não é, necessariamente, dar errado. Dar errado é não poder prosseguir. Composto também de partes inimigas, o amor se enriquece dos cansaços incapazes da destruição. Só vive do imperfeito de cada confronto. Só é, quando vive ameaçado de deixar de ser. Caso contrário, não seria; simplemente deixaria de ser. Os inimigos são duas pessoas pertinho uma da outra, mas de costas, porque, se elas se virarem, encontrar-se-ão. E é isso o que temem. São mais unidos, talvez, que amigos, um de frente para o outro, mas a metros ou quilômetros de distância, e só por isso se entendem. O medo de amar é o medo de estar perto demais (ainda que de costas), o que de certa forma escraviza. O engano de amor é estar longe, mas de frente, o que de certa forma atenua. A coragem de amar equivale à coragem de ser: é fazer dois inimigos, de costas um para o outro, virarem-se de frente para sentir o hálito, olhos, medo, força, ternura, muita raiva e muito carinho e aceitar tudo, por isso amar. A falsidade do amor é permanecer de frente como amigos: pura e simplesmente se aceitando. Sem contradita. Sem a oposição capaz de ser vencida pela permanência do sentimento, a despeito do eu de cada um. O medo de quem ama é o medo da relação profunda, porque nela está a entrega que não rompe, apesar das tragédias da superfície. E a superfície só faz a tragédia, para impedir que o eu contemple de frente a relação profunda. Esta contém o que não se destrói, apesar das diferenças. Na relação profunda está o desamparo e a necessidade tão pura que nunca pôde vir à tona. Na relação superficial está a fantasia, o eu idealizado, a armadura enfeitada de cada um. Quem se relacionar ao nível da armadura será feliz no começo, na fase hipnótica do amor. Quem preferir o nível profundo de relacionamento talvez seja até infeliz. Mas amará. A infelicidade pode fazer virar as costas para o inimigo, separar-se dele. Mesmo assim não será maior que o amor advinhado e sentido, se a relação é profunda. Não te vires de frente para o inimigo! Podes amá-lo. Ele vai advinhar, e tu também, o amor está na peleja de quem ama. Não fiques tão de frente, mas tão longe de quem gostas. No que chegares perto, talvez detestes e sejas detestado. Amar é estar de costas. Gostar é estar de frente. Um ultrapassa a inimizade que vive junta. Outro vive a amizade fácil, mas que se se aproximar pode não ser amor. Por isso era tão fácil sentir! Amar é apesar. É através. É a despeito, mas é com. Amar, às vezes, é contra, mas perto e fundo. Mesmo de costas. É malgrado. É com ferida e cicatriz, mas íntegro. Amar fundo é ter medo de virar de frente. Porque aí pode surgir, cristalina, a possibilidade de dar certo. É a entrega. Que é, no fundo, o que mais teme quem ama. By Artur da Távola.
Posted on: Wed, 24 Jul 2013 16:40:24 +0000

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