OUTROS TEMPOS EM TEMPO DE HORÁCIA Na casa o tempo passeava-se por - TopicsExpress



          

OUTROS TEMPOS EM TEMPO DE HORÁCIA Na casa o tempo passeava-se por único relógio O da saleta Que o avô teimava em acertar durante a noite Subindo a uma cadeira Empurrando o ponteiro com o dedo Tocando pêndulo Compulsando badaladas pelas horas sempre que a avó acendia a luz E dizia parece que ouvi barulho lá fora Se levantava e abria a porta da saleta que dava para o pátio de trás Descia as escadas e ia perguntando Está aí alguém? Nunca ninguém se deu por achado Nem em dia seguinte desapareceu animal roubado A não ser que me lembre Um dia que a raposa resolveu passar por ali Do relógio eu me deslumbrava com isso Aquele som redondo e dourado do pêndulo Algum tempo antes da cantata do sino Porque o avô sempre punha o relógio adiantado Foi precisamente nesse tempo que a professora da terceira classe Decidiu ensinar as horas e mandar embora quem já sabia Uma humilhação! Não atinava com meio-dia menos um quarto e duas e um quarto Eu que me extasiava com música de saleta vi-me grega Mais de metade da turma quarentona já tinha ido embora Eram duas e vinte e cinco quando ela disse vai E eu disse buy à inocência que tinha vivido até ali Naquela saída às pinguinhas Sozinha foi longo o quilómetro até chegar a casa Passei pelas três do sino E matutava o que teria dado ao meu pai Para nos levar a todos à noite a ensinar-nos as constelações E nunca se ter lembrado de me ensinar as horas Como ele andava a trabalhar fora Tive de esperar quinze dias e quarenta e cinco minutos para ter a resposta Não te preocupes Cada coisa a seu tempo E desenhou com um pau uma circunferência na terra Espetou o pau no meio e falou-me de sol e sombra Como ninguém se tivesse mostrado interessado em dar-me um relógio Resolvi escrever carta ao padrinho e pedi ao correio para a levar ao Brasil Passados meses por alguém que vinha a férias Chegou grande malão de porão E no meio das amostras e retalhos vaporosos da loja do meu tio Numa caixinha envolto em algodão rosa Lá estava ele O tesouro Um relógio muito pequenino com 12 6 3 e 9 sem minutos e dois ponteiros E uma bracelete castanha muito fininha Ligada ao relógio por duas folhinhas de ouro Foi nele que treinei e um dia eram seis em ponto Perguntei ao pai porque me puseram afinal o nome de Horácia Ele respondeu-me não te preocupes Cada coisa a seu tempo Isso são outras poesias Um dia entenderás O que consegui apurar é que meu tempo se tem passeado Em relógios oferecidos E neste momento não consigo precisar a hora Não tenho nenhum que funcione
Posted on: Wed, 09 Oct 2013 07:50:37 +0000

Trending Topics



Recently Viewed Topics




© 2015