" (...) ...Oh Fortuna velut luna statu variabilis (….)” A - TopicsExpress



          

" (...) ...Oh Fortuna velut luna statu variabilis (….)” A lua nova e a sua luz abortada, interrompida pela sombra de um qualquer outro astro. Ela é mutável. Eu também. Somos todos luas em constante mudança, uns com luz, outros sem ela. Nesta noite que decorre, sou diferente da minha gémea assente no firmamento. Estou cheio. Cheio de um mundo absorto na sua própria gravidade. E tenho um aro de sangue à minha volta, como uma outra qualquer coroa de espinhos. Nunca de louros. Não tenho direito à grandiosidade, muito menos á Fortuna. Cheira-me a mar. O salitre apaga-se nas minhas narinas e os meus cabelos engelham-se com o som das vagas. Tenho um aro de sangue á minha volta e os meus dedos estão inflamados com chamas. Sinto-me capaz de carbonizar um homem com apenas um dedo. Tenho um ódio a isto. Quero parar com esta roda-viva que o meu corpo se tornou. Apagar todas estas chagas escancaradas e ruborizadas, enaltecidas pelo toque masculino. Tenho um ódio de morte aos homens. Tenho uma fome canibal. A minha cabeça transformou-se num campo de batalha, que mais posso dizer! O desejo insaciável de ser possessão (aqui que ninguém nos ouve, ser possuído). Venham quantos quiserem. Quero os dedos cálidos nos meus lábios. Quero ser tocado. E ao fim da aurora, quero um esconderijo. Acho que, no fundo, quero amor. Enquanto a vida me dá limões, vou espremendo-os nos olhos. A cegueira ajuda-me. Assim como o som do mar. Quietude pintada de cinza e azul forte. O cheiro das estrelas pintadas no mar. Quero fumar. "(...) Sors salutis…(...)" Apetece-me caluniar este momento. Este estado de graça e abandono, agora delineado pelo fumo de um Chesterfield azul. É engraçado sentir-me calmo aqui e agora. Uma lista infida de homens cravejados em estacas no meu peito. Pedro, Charter, Ricardo, António, Gabriel. Todos eles bons amantes. Um café, dois dedos de conversa e passadas horas à conversa, eramos lagartos enrolados numa luta de beijos e sangue. As mordeduras e dedadas. Eram duas forças colusivas e malévolas, famílias antigas na luta pelo poder da possessão. O orgulho masculino alto como bandeiras. O som dos tambores e a conquista do poder eterno. No fim, eramos cachorros aninhados. Suados por aquela disputa. Às vezes o nosso inimigo dorme connosco, com olhos de lã macia. “ (…)Mecum omnes plangite!(...)" Albufeira, 23 de Setembro de 2013 Pandora de La Cruz
Posted on: Mon, 23 Sep 2013 02:21:30 +0000

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