Opinião Jornal do Commercio (Recife) – 19/07/2013 UMA LIÇÃO DE POÉTICA ARTIGO Ângelo Monteiro a.jmonteiro7@gmail Por meio de À procura do poético (Rio de Janeiro: Confraria do vento, 2013), já na quarta edição, o teórico da literatura Janilto Andrade empreende um vívido retorno às fontes justapostas da tradição e da modernidade para nos fazer partilhar uma visão privilegiada porque distinta, na melhor medida, da linguagem estereotipada da informação e da comunicação. Dotado de uma didática apenas comum aos grandes mestres, Janilto Andrade examina diversas linhas teóricas com o fito de clarificar seu objeto de estudo, não deixando sem resposta nenhum dos problemas suscitado, como a diferença radical, por exemplo, entre a elaboração formal de uma tela de pintura e um artefato da indústria: daí o porquê da evidência de sentido do último se opor, firmemente, à riqueza de significados propiciada pela primeira. De igual modo, a padronização de gosto ensejada por um produto em série não pode encontrar eco naqueles que anseiam pela pulsão artística. Por isso, no enfrentamento do texto poético, nosso autor não deixa de apontar para os domínios contrários - ainda que, por vezes, complementares - da comunicação e da expressão, assim como para os níveis de significação totalmente diferenciados exigidos por cada uma. Na ausência da menor dúvida de que a expressão é inseparável de todo o texto verdadeiramente poético, não lhe escapa o fato de que "se a informação tende a automatizar o emprego das palavras, o fenômeno poético, em nível de expressão, seria uma insurgência contra o fenômeno de estereotipação da linguagem". Também ele não consegue compreender a poesia à margem da história, mesmo ao levar em consideração a distinção aristotélica entre ambas quanto ao registro dos acontecimentos humanos, como nos patenteia: "O texto poético não é fruto do ocaso, é árvore enraizada na tradição cultural, essa árvore, adubam-na a situações sociais e as cambiantes históricas". Esse admirável teórico da literatura, que é Janilto Andrade, costuma agir como os bons jesuítas quando querem acertar: não lhe falta para isso certa benevolência ao colocar as letras de música de Caetano Veloso e Chico Buarque, a título de exemplos didáticos, no idêntico patamar dos versos de Drummond, tendo em vista seu objetivo vai ser o de distanciar o discurso poético do comum por visar transformar seus alunos em leitores de poesia. Um pequeno sacrifício que pode desempenhar um papel estratégico na elevação da consciência crítica de alguns... Ângelo Monteiro é ensaísta
Posted on: Mon, 22 Jul 2013 16:24:44 +0000