Os homens eram usados como galo de briga por delegado da - TopicsExpress



          

Os homens eram usados como galo de briga por delegado da cidade 14.06.2013 imprimir email O município que discriminou no passado o povo cigano, hoje dá oportunidade às novas gerações Penedo O abuso contra os direitos humanos em relação ao povo cigano, no município de Penedo, em Alagoas, localizado às margens do Rio São Francisco, a 160Km de Maceió, chegou ao extremo nos anos 80, época da chegada de grupos dessa etnia à cidade. Um delegado e um comissário costumavam prender dois ciganos, geralmente por motivos banais, e, para deleite de alguns sádicos, os colocava para brigar sob a mira de um revólver e ameaça de morte, caso não levassem a luta às últimas consequências. Hoje, histórias como essas são repassadas aos mais jovens na tentativa de abrandar o preconceito que ainda incomoda. Maria Carlos dos Santos, 96 anos, vive numa barraca destroçada Fotos: Cid Barbosa "Esse tipo de coisa perdurou por muito tempo. Graças a Deus ficou no passado. Os responsáveis por esse crime já morreram. Não queremos dizer que, no nosso meio, não existam pessoas de má índole. É claro que há em todos os segmentos da sociedade. O que desejamos é que aconteça o mesmo tratamento, ou seja, se um cigano cometer um crime, ele deve ser punido, se for o caso, com a prisão. Não é justo que toda a sua família ou comunidade pague por isso. Quem deve julgá-lo é a Justiça e não um delegado ou outra pessoa qualquer", argumenta José Willames Alves da Silva, líder do grupo. Em Penedo existem cerca de 1.300 ciganos. A maioria reside, de forma sedentária (fixa), nos bairros de Vila Matias e Santa Luzia. Conforme Willames, 40% não possuem certidão de nascimento. "Embora todo brasileiro tenha direito de tirar o documento de graça, quando um de nós se apresenta no Cartório, logo são colocados obstáculos e dificuldades. Aí as pessoas acabam desistindo. Sem a certidão, é impossível obter o restante da documentação. É como se não fôssemos cidadãos" Indiferença Willames, aliás, é o único cigano que tem emprego com carteira assinada, junto à Prefeitura. "Fizemos um levantamento e constatamos mais essa aberração. É a prova maior de que somos vítimas do preconceito. Quando as pessoas sabem quem somos, tratam de arranjar uma maneira de despistar e negar emprego. Não existe por parte da sociedade, ou dos poderes públicos, reconhecimento pelo que já fizemos. Quando chegamos aqui, instalados em barracas de lona ou plástico, tudo nessa região era mato. Fomos praticamente nós que construímos o bairro. Em troca, recebemos a indiferença". A falta de representatividade entre os ciganos fez com que Willames, "a pedido da comunidade", se lançasse candidato a vereador nas últimas eleições. "Estávamos cansados de eleger pessoas de fora que, depois de assumirem o poder, nos esqueciam. Por isso, foi decidido pela maioria que alguém se candidataria. Fui o escolhido". Dentre os 30 postulantes a vereador de Penedo, sete foram eleitos. Willames foi o nono e ocupa a primeira suplência do PSDC, que teve como único vereador o mais votado de todos, Antônio Nelson Oliveira, que obteve 912 sufrágios. Willames conseguiu apenas 223 votos, número considerado pequeno se levarmos em conta os 1.300 ciganos que moram na cidade. De uma maneira geral, os ciganos de Penedo vivem do comércio ambulante. Vão para São Paulo a cada dois meses. Lá, adquirem produtos, como rádios, celulares e alguns aparelhos eletroeletrônicos para comercializar na cidade. Na ida, levam artesanato para vender de porta em porta na capital paulista. Os estudantes ciganos (de pé) Larissa Aparecida, Wellington Siqueira e Vanessa Alves convivem amistosamente com os demais alunos Uma das pessoas que mais necessitam de um imóvel é a aposentada Maria Carlos dos Santos, 96. Ela vive numa barraca destroçada que, a rigor, não pode ser chamada de moradia, embora seja. Apesar da idade, a mais antiga cigana do grupo garante que tem autonomia para desempenhar suas atividades. "Acordo às 5 horas todos os dias e faço um cafezinho. Depois, lavo meus molambos na casa de uma amiga aqui vizinha". Quando o assunto é família, dona Maria não sabe precisar o número de parentes. "Uma vez, contei. Tinha 63, entre filhos, netos e bisnetos. Estão espalhados por todos os cantos. Não tivemos como educar os filhos, pois a gente andava no meio do mundo com os animais. Foi uma vida dura, que não desejo a ninguém. Ande a gente chegava, era expulso. As crianças eram as que mais sofriam, pois não deixavam sequer que nós fizéssemos o fogo para cozinhar. Foi Deus que nos conduziu até aqui. Pelo menos, estamos levando uma vida menos doida", denuncia Maria Carlos, cujo esposo, seu Amabílio, morreu há uma década, com 112 anos. Educação inclusiva A história de discriminação em Penedo, principalmente no tocante às décadas passadas, pode estar perto do fim. Pelo menos, uma iniciativa nesse sentido vem sendo amadurecida com êxito e pode beneficiar as futuras gerações. Trata-se do ensino que é ministrado na Escola de Educação Básica localizada no bairro Vila Matias. Nela, estudantes ciganos e não ciganos, dos 5 aos 15 anos, convivem juntos nas séries do primeiro ao nono ano. A direção assegura que a convivência é por demais amistosa. "Os ciganos são ótimos alunos. São crianças normais, como outras quaisquer. Eles se integram facilmente e participam de todas as nossas atividades. Aqui são bem recebidos, como deve acontecer com qualquer pessoa", garante a vice-diretora Bernadete Soares da Silva. Além do tratamento igualitário que recebem, uma diretriz seguida pela escola é responsável pelo êxito do ensino em relação à etnia minoritária. "Aqui, nós respeitamos as diferenças culturais. Permitimos que os estudantes que acompanham seus pais nas viagens sejam transferidos para uma escola localizada nesse novo destino e os aceitamos de volta. Além do mais, eles podem recuperar o conteúdo que por acaso perderem. Um detalhe que nos chama a atenção é que eles sempre apresentam a documentação rigorosamente correta, inclusive em relação aos boletins", relata Ana Flávia Teixeira, presidente do Conselho Municipal de Educação e uma das principais responsáveis pela iniciativa de integração das crianças ciganas. "Venho para a aula e volto para casa satisfeita, já pensando em retornar no outro dia. Aqui, todos são amigos e somos bem tratados", diz a estudante cigana Josilene Alves Santos, 12.
Posted on: Sun, 28 Jul 2013 10:22:01 +0000

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