PADÊ DE EXU LIBERTADOR Abdias do Nascimento Ó Exu ao bruxoleio - TopicsExpress



          

PADÊ DE EXU LIBERTADOR Abdias do Nascimento Ó Exu ao bruxoleio das velas vejo-te comer a própria mãe vertendo o sangue negro que a teu sangue branco enegrece ao sangue vermelho aquece nas veias humanas no corrimento menstrual à encruzilhada dos teus três sangues deposito este ebó preparado para ti Tu me ofereces? não recuso provar do teu mel cheirando meia-noite de marafo forte sangue branco espumante das delgadas palmeiras bebo em teu alguidar de prata onde ainda frescos bóiam o sêmen a saliva a seiva sobre o negro sangue que circula no âmago do ferro e explode em ilu azul Ó Exu-Yangui príncipe do universo e último a nascer receba estas aves e os bichos de patas que trouxe para satisfazer tua voracidade ritual fume destes charutos vindos da africana Bahia esta flauta de Pixinguinha é para que possas chorar chorinhos aos nossos ancestrais espero que estas oferendas agradem teu coração e alegrem teu paladar um coração alegre é um estômago satisfeito e no contentamento de ambos está a melhor predisposição para o cumprimento das leis da retribuição asseguradoras da harmonia cósmica Invocando estas leis imploro-te Exu plantares na minha boca o teu axé verbal restituindo-me a língua que era minha e ma roubaram sopre Exu teu hálito no fundo da minha garganta lá onde brota o botão da voz para que o botão desabroche se abrindo na flor do meu falar antigo por tua força devolvido monta-me no axé das palavras prenhas do teu fundamento dinâmico e cavalgarei o infinito sobrenatural do orum percorrerei as distâncias do nosso aiyê feito de terra incerta e perigosa Fecha o meu corpo aos perigos transporta-me nas asas da tua mobilidade expansiva cresça-me à tua linhagem de ironia preventiva à minha indomável paixão amadureça-me à tua desabusada linguagem escandalizemos os puritanos desmascaremos os hipócritas filhos da puta assim à catarse das impurezas culturais exorcizaremos a domesticação do gesto e outras impostas a nosso povo negro Teu punho sou Exu-Pelintra quando desdenhando a polícia defendes os indefesos vítimas dos crimes do esquadrão da morte punhal traiçoeiro da mão branca somos assassinados porque nos julgam órfãos desrespeitam nossa humanidade ignorando que somos os homens negros as mulheres negras orgulhosos filhos e filhas do Senhor do Orum Olorum Pai nosso e teu Exu de quem és o fruto alado da comunicação e da mensagem Ó Exu uno e onipresente em todos nós na tua carne retalhada espalhada por este mundo e o outro faça chegar ao Pai a notícia da nossa devoção o retrato de nossas mãos calosas vazias da justa retribuição transbordantes de lágrimas diga ao Pai que nunca no trabalho descansamos esse contínuo fazer de proibido lazer encheu o cofre dos exploradores à mais valia do nosso suor recebemos nossa menos valia humana na sociedade deles nossos estômagos roncam de fome e revolta nas cozinhas alheias nas prisões nos prostíbulos exiba ao Pai nossos corações feridos de angústia nossas costas chicoteadas ontem no pelourinho da escravidão hoje no pelourinho da discriminação Exu tu que és o senhor dos caminhos da libertação do teu povo sabes daqueles que empunharam teus ferros em brasa contra a injustiça e a opressão Zumbi Luiza Mahin Luiz Gama Cosme Isidoro João Cândido sabes que em cada coração de negro há um quilombo pulsando em cada barraco outro palmares crepita os fogos de Xangô iluminando nossa luta atual e passada Ofereço-te Exu o ebó das minhas palavras neste padê que te consagra não eu porém os meus e teus irmãos e irmãs em Olorum nosso Pai que está no Orum Laroiê! Búfalo, 2 de fevereiro de 1981
Posted on: Mon, 01 Jul 2013 09:41:47 +0000

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