PARA QUE SEMPRE LEMBREMOS O QUE SOMOS E ANTES MESMO DE NASCERMOS - TopicsExpress



          

PARA QUE SEMPRE LEMBREMOS O QUE SOMOS E ANTES MESMO DE NASCERMOS QUISEMOS SER: O ator e a atriz são, pois, seres desprotegidos e invadidos; recolhidos e devassados; Quando mais necessitam ouvir, ser aceitos, queridos e bem tratados, deles se exige falar, dar opiniões e tratar bem, senão ainda saem malvistos e malfalados. Encantadores, sedutores, mágicos, transfigurados, prestigiadores, adivinhos, ciganos, antecipatórios, surpreendentes, divinos e demoníacos: só quem tem mil mundos pode representar o mundo dos demais. O ator é usado sem usar; é agredido pela sedução, por louvor, pela violência, pela invasão, pela demissão, pela vaia, pela malícia, pelos mil olhos sempre atentos. O ator paga, na pele própria e na dos personagens, o preço existencial da descoberta do próprio eu e do eu próprio aos outros. O preço da própria dimensão do mundo, através da incorporação dos principais sintomas da doença do seu tempo. Endeusado pela inveja e invejado pelo endeusamento, o ator é alguém de quem se exige faça por nós as transfigurações de que capazes não somos. Nele esperamos encontrar a dimensão em nós inexistente. É, ao mesmo tempo, um representante de tudo o que temos, podemos e somos mesmo de ruim, trágico e opressor. [...] É um ser dolorosamente narcísico e autocentrado, mas paradoxalmente especialista no outro, no próximo, na turba e na multidão. O ator é a representação de tudo o que seríamos se não fôssemos, por isso, é o portador tanto das nossas esperanças como das nossas frustrações, o que explica o misto de amor e agressão que lhe tributamos. O ator é um ser mágico que está além e aquém da pessoa que nele mora, nem sempre tão grande quanto ele enquanto representante das vidas e dos seres que não foram e não viveram, exceto na invenção, ao mesmo tempo dolorosa e sublime, que ele, ator, se, te, me, lhe, nos, vos, lhes, faz da vida e das dores do seu tempo. Denunciante, herói, vítima ou salvador, o ator é a expressão do incoercível desejo de elevação do espírito humano na direção do não se sabe. da Távola, Artur. O Ator. PERFEIÇÃO ESCRITA, QUE HOMENAGEM!
Posted on: Thu, 31 Oct 2013 06:01:50 +0000

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