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PERFEITO!!! #BomDomingo Amizade ao ponto – nem mais, nem menos - Por Ricardo Mota (blog.tnh1.ne10.uol.br/ricardomota/) Muito se fala na “química” da paixão, definição um tanto imprecisa sobre as motivações que levam duas pessoas a se gostarem e a se desejarem sofregamente. Mas, haveria uma “química” da amizade? É bem verdade, no primeiro caso estão presentes ingredientes como cheiros e hormônios que levam ao amor sensual. Não é o caso da amizade, creio eu. E se desvantagens há, desta em relação àquela, a fugacidade da paixão não parece fazer parte da relação entre amigos, independentemente do gênero de ambos. Poetas, escritores, compositores, pensadores e filósofos em geral se debruçaram sobre o tema – que é fascinante. Seja com o “cínico” Oscar Wilde a afirmar que “o verdadeiro amigo apunhala pela frente”, seja com o doce Vinícius de Morais a dizer que “amigo não se faz; se reconhece”, muita tinta já se gastou tentando explicar a “química” da amizade – se é que ela existe. (Antes de deixar Vinícius de lado, lembremos Nélson Cavaquinho. Em uma das suas canções, o sambista diz que é fácil encontrar amigos de copo – Vinícius? -, mas se precisar de um prato de comida, eles somem.) Sou apontado por alguns como um homem de poucos amigos, talvez por ser uma ‘ausência’ obrigatória em eventos sociais. Mas será que há outros de “muitos” amigos? Não creio, e encontrei em alguns livros interessantes de filósofos idem, bons argumentos para defender minha crença (ou descrença). “Antes de mais nada, a amizade, estou convencido, só pode existir nos homens de bem”. A frase é de Cícero (Marco Túlio Cícero), que vai além para completar seu raciocínio: “Sem virtude, não há amizade possível”. De há muito, para mim, até por conta da idade – 55 anos -, a preservação das velhas amizades é uma prova de caráter. Ensinou-me o tempo, e a ele rendo minhas homenagens. Não é o caso de hierarquizar as relações cotidianas, mas ao olhar com vagar para o que elas podem representar na nossa existência, confesso, não consigo discordar do mesmo Cícero: “A amizade vale mais que o parentesco, em razão de o parentesco poder se esvaziar de toda a afeição, a amizade, não: retire-se a afeição, não haverá mais amizade digna desse nome, mas o parentesco subsiste” (amigo-parente é também um grande presente da vida). Claro, há territórios em que ela, a amizade, não pode se estabelecer – aponta o meu aprendizado profissional, por exemplo, com a política e os políticos. Aí, de novo, cito Cícero: “Mesmo para aqueles cuja amizade resistiu por mais tempo, ela é abalada quando intervêm rivalidades de carreiras políticas”. Sêneca é tão enfático quanto pode, quando refuta a possibilidade de se fazer amigos, verdadeiramente, entre os que militam na perigosa área. “Relações passageiras e interessadas”, diz ele, para emendar: “Tiramos a grandeza da amizade, quando nela vemos um meio de ganhar alguma coisa”. E era Sêneca um especialista no assunto, abordado profundamente em suas cartas a Lucílio. “É um erro não confiar em ninguém, bem como confiar em todos”, alertou. Ele foi defensor da amizade, sim, mas nada de “todo mundo é meu amigo”, deixou claro muito antes de o genial Montaigne fazer a mesma observação. É do francês, que se recolheu aos livros depois da perda de um grande amigo, a afirmação: -O que chamamos geralmente de amigos e amizades não passa de convivências e familiaridades estabelecidas ocasional ou comodamente por meio das quais nossas almas estabelecem vínculos. Na amizade de que falo, as almas se misturam e se confundem uma com a outra. De fato, ter um amigo – ou (poucos) amigos – para dividir convicções e incertezas, convivendo com defeitos e qualidades um do outro, é um privilégio muito mais incomum do que parece. Delicioso ainda mais, por raro. “Que há de mais agradável do que ter alguém a quem se ousa contar tudo como a si mesmo?”, pergunta Cícero. “Se tu vês um homem como amigo sem teres nele tanta confiança quanto em ti mesmo, tu te enganas muito e só tens uma vaga ideia da verdadeira amizade”, responde Sêneca, num diálogo imaginário. Nada de almas gêmeas, mas as identidades são indispensáveis para que se faça e se estabeleça a amizade. Continua Cícero: “Reside aí toda a força da amizade – a mais nobre cumplicidade no plano das escolhas, dos interesses, das ideias”. Socorre-o Sêneca: “Seria a verdadeira amizade, que nem a esperança, nem o temor, nem a preocupação com o interesse podem romper; aquela que levamos quando morremos e pela qual podemos morrer”. Se ouvisse Sêneca, com ele concordando, Cícero poderia, quem sabe, fechar a conversa com um belo conselho a cada um de nós: -Tudo o que posso fazer é vos incitar a preferir a amizade a todos os bens desta Terra; com efeito, nada se harmoniza melhor com a natureza, nada esposa melhor os momentos, positivos ou negativos, da existência. Se nada disso toca a sua alma e o faz pensar sobre a questão, não lamento. Talvez tudo seja muito mais simples, como nas palavras do jagunço Riobaldo, obra e graça de Guimarães Rosa: “Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado”.
Posted on: Sun, 08 Sep 2013 15:32:20 +0000

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