POEMA que me põe na noite A sensação de se estar envolvido na noite, nos promove discórdia e falta de ar, no meu caso fico um homem partido no meio. E, incompleto, olho-a apenas com um olho porque o outro ficou prisioneiro do dia. E quando se prenuncia, todas as vozes das rãs saem dos matagais; a minha cadela avisa que deva soltar a coleira. Alguma coisa me previne às portas fechadas. E o céu que olho agora é um buraco grande cheio de cegueira. Visto minhas calças compridas, pois tenho pavor dos carapanãs. E, em pouco tempo, a noite fica posta no quintal, estabelece domínio e medo, para eu pisar ou enxergá-la como coisa gasosa. Enquanto não a desfaço no interruptor da casa, ela fica a muralha enigmática. Seu registro é o silêncio dos pássaros nas árvores, as panelas emborcadas na pia e minha fome esquisita de aceitá-la como esparadrapo nos meus olhos; e, mesmo assim, eu me rendo. Fico como inseto modificado. Mas outros insetos não pensam nela poeticamente, como eu.
Posted on: Sun, 01 Sep 2013 02:47:34 +0000
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